" Um menino caminhae caminhando chega num muro...E ali logo em frente a esperar pela genteo futuro está...
E o futuro, é uma astronaveque tentamos pilotar...não tem tempo, nem piedadenem tem hora, de chegarsem pedir licença muda a nossa vidae depois convida à rir ou chorar
Nesta estradanão nos cabe conhecer ou vero que virá...O fim delaninguém sabe bem ao certoonde vai darVamos todos numa linda passarelade uma aquarelaque um dia enfimdescolorirá."
ToquinhoAquarela
Alguns momentos da história são verdadeiros divisores do tempo, isso vale para todos os setores da humanidade, economia, arte, saúde, guerras, etc... e no esporte vale a mesma lei. Em 1974 quem já havia nascido e tinha idade suficiente para entender o futebol de forma mais complexa acompanhou a seleção holandesa e se apaixonou. Em 1982 o Brasil gerou o mesmo sentimento. E agora em 2011 o FC Barcelona nos propicia outro novo paradigma.
É comum dois comportamentos quando esses fenómenos acontecem:
1 - A CÓPIA: Os que copiam o fenómeno de forma reprodutora, sem conhecimento, pela "febre" do momento, e acabam fracassando por motivos diversos, e passam a entrar pro segundo grupo.
2 - A LENDA: Os que dizem que isso nunca irá se repetir, pois não tem os jogadores para isso, ou que o clube não tem essa cultura, ou que só aquela equipe poderia fazer tal coisa.
Para mim as duas coisas são na verdade falta de conhecimento sobre o fenómeno que se quer produzir, o que é diferente de reproduzir.
A CULPA DA CULTURA
Cheguei a conclusão de que a cultura do clube hoje é uma das desculpas que se dá para se acomodar em formas antigas de se ver o futebol, principalmente aqui no Brasil. É comum se colocar a culpa na cultura.
CONCEITO SIMPLES DE CULTURA
Wikipédia:
Cultura (do latim colere, que significa cultivar) é um conceito de várias acepções, sendo a mais corrente a definição genérica formulada por Edward B. Tylor, segundo a qual cultura é “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
A CULTURA, A INFORMAÇÃO E O CONHECIMENTO
Como vemos, a cultura é uma composição de variáveis que se influenciam, interagem, dentre elas o conhecimento, ou seja, quando determinada cultura nasce ela depende do que se conhece, ela nasce da composição de conhecimento de determinada sociedade. Logo uma nova informação pode mudar esta cultura. Essa mudança antes era muito mais lenta, pois as informações chegavam muito depois de acontecer em outras culturas, por exemplo: o WM quando chegou no Brasil, e acabou gerando a Diagonal com Flávio Costa, chegou muitos anos depois de ser desenvolvido por Herbert Chapman no Arsenal, pois na época a globalização da internet não fazia parte da cultura de nenhuma sociedade.
Portanto o que fez Flávio Costa gerar a Diagonal, foi a informação, ao fazer jogos amistosos contra equipes argentinas e ser goleado, Flávio entendeu esta nova informação, teve acesso e desenvolveu um novo conhecimento, que acabou gerando a Diagonal, que por sua vez acabou com adaptações futuras do 4.2.4 gerando o 4.4.2 quadrado, e modificando toda a história do futebol brasileiro, pois do 4.2.4 surgiu o 4.3.3 do velho Zagallo que fechava o meio, estrutura essa que deu (não dando todo o crédito a isso, mas ajudou) ao Brasil dois títulos em 58 e 62, e tornou-o conhecido após isso como "o pais do futebol". Eu me pergunto, será que se Flávio Costa não tivesse sido goleado pelos argentinos, adaptado essa estrutura ao Flamengo, e modificado nosso contexto, será que seríamos hoje o que somos em termos de importância no futebol mundial?
O MEDO DE ERRAR TRAVA A EVOLUÇÃO
Para mim o problema maior não esta na cultura, e sim na cabeça dos treinadores, na valorização das coisas. O FC Barcelona só chegou neste ponto, de jogar como joga e ganhar, porquê primeiro se preocupou em jogar bem, jogar bem da sua forma, como vemos hoje, foi isso que treinaram e treinaram muito e jamais se contentaram em apenas ganhar. Só se preocuparam com isso depois que sabiam como jogar bem. É acreditar em uma ideia e não modifica-la por causa dos obstáculos. Porém nem sempre ganharam. Lógico que fazer isso em um altíssimo nível é impossível, porém falo aqui dos baixos níveis, das escolinhas, das categorias pequenas, da formação.
Eu pergunto, qual clube que não quer ter a cultura de jogar bem e ganhar? (existem muitas formas de jogar bem, mas convenhamos que a forma de jogar bem do Barcelona é hoje considerado pela maioria dos jogadores e treinadores como a mais bonita)
Qual o clube hoje no mundo não queria ser o Barcelona (em dimensões de sucesso)?
Se Rinus Michels tivesse medo de errar em 1974 teria feito um bloco ultra baixo contra Argentina, Uruguai, Brasil, e teria saído da Copa como entrou, sem nenhuma moral no futebol mundial. É preciso assumir o risco, mas só assume quem acredita no que quer.
O CONTEXTO GERA A CULTURA E A CULTURA GERA O CONTEXTO
Guardiola não tinha em sua equipe Cruyff, Neskens, Van Hanegen, Falcão, , Romário, Stoichkov, Koeman, Zico ou Sócrates. Tinha apenas a ideia de que, aquele jogo, aquele modelo que encantou tantas pessoas em 1974, em 1982, e no Dream Team de Cruyff, e que foi conservada nas últimas décadas, amadurecida até chegar neste ponto, porém um dia, um preciso dia essa ideia nasceu, alguém tem que começar. Ai alguém vai dizer, mas tem o Xavi, o Iniesta, mas estes jogadores só existem hoje, porquê a 15 anos atrás eles já buscavam esta forma de jogar, e o contexto acabou produzindo estes atletas, tenho certeza absoluta que se o contexto fosse privilegiar o resultado final, estes atletas nem entrariam na escolinha do Barcelona, pois vão totalmente contra a ideia do futebol competitivo, ainda mais o pregado na década de 80/90 em que a força e o nível atlético dos jogadores foram transferidos ao atletismo e aos esportes individuais. A cultura gera o contexto, porém o contexto pode mudar se colocarmos novas informações vindas de novos conhecimentos, geramos assim um novo contexto, e este contexto irá gerar novas pessoas.
ALGUÉM PRECISA COMEÇAR
Quando Cruyff e Michels chegaram no Barcelona, o clube não tinha esta cultura, se estes por sua vez tivessem se adaptado totalmente a cultura vigente, hoje, não teríamos o atual Barcelona. Lógico que há o respaldo, o crédito, o tempo (mais de 30 anos). Certa vez o professor Afonso Gomes, em uma das diversas cadeiras que tive com ele disse: quando chegamos em um ambiente temos que ser "agentes modificadores" desse ambiente, não podemos nos adaptar a ele totalmente, a adaptação tem que ser apenas ao ponto da sobrevivência.
PRECISAMOS SER MENOS SUPERFICIAIS
Então minha esperança é que a febre do FC Barcelona se espalhe pelo sistema circulatório do futebol mundial, e que sistemicamente o futebol melhore, e que a hierarquia também melhore, o melhor não ganha sempre, mas normalmente joga melhor. E quando falo de começar, não é no Manchester ou no Real Madrid, é nas escolinhas, nos pequenos clubes de base, onde o futebol começa, lá este modelo de jogar o futebol deve ser adotado, pois é o modelo mais coletivo e qualificado demonstrado até hoje, de forma global, é um modelo que propicia o aparecimento das qualidades de cada um em prol do todo da equipe, por isso é fundamental que a partir desta ideia os treinadores elaborem seus conceitos, variáveis, mas seguindo esta qualidade, esta filosofia, não teremos outros Barcelonas, mas quem sabe não teremos jogadores melhores, equipes melhores, competições melhores, modas melhores.
Grande abraço
Luis Esteves
Um comentário:
Esperamos que o Barcelona de hj nos deixe um legado positivo e que proporcione um novo paradigma para o nosso futebol.
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