sexta-feira, 27 de maio de 2011

CRIAÇÃO E ENTRADA NOS ESPAÇOS

" O futebol que eu defendo se baseia em alguns automatismos coletivos que estão acima das individualidades. 

O que é técnica? Controlar, passar, chutar, cabecear, driblar... E os espaços? Aqueles poucos que, se os tiveres, terás a vantagem. Os espaços Estão ai, mas é preciso cria-los. E para isso precisas dominar a técnica, o jogo de posições e o ritmo da bola. Jogar como equipe é obter o máximo de vantagem para os teus jogadores.Ataca bem e te defenderás com qualidade, atacas mal e sofrerás.

O barômetro esta no meio-campo, é ai que se decide o que fazer, se ataca mais ou menos, se defendes mais avançado ou atrás. Um meio-campo pode atacar e acercar-se da área, mas já não é mais meio campo. Ás suas costas,  outro deve ocupar o espaço que ele deixa. Teu adversário joga com 10. Admitamos uma falta a 30 metros. Poe dois jogadores abertos com possibilidade de receber o passe, o adversário terá de retirar dois defensores de sua área. Abre-se o espaço.

Tudo passa pelo passe simples. Não me refiro ao passe de 60 metros, que são raros, mas do passe fácil, de 10 metros, que esse acontece cem vezes num jogo. Se for feito em dois toques, no máximo, no pé e de frente, a vantagem será tua e o problema do adversário. Mas se receberes devagar e atrás, terás que parar e retroceder para controlar a bola. Adeus aos espaços, adeus as vantagens."

Johan Cruyff
ZERO HORA - Coluna de Ruy Carlos Ostermann
Sábado - 13/03/2004



Uma das coisas mais difíceis para as pessoas que trabalham com o futebol, e para os jogadores principalmente é a percepção do tempo, o tempo de fazer determinada ação. A percepção do tempo está dentro do momento digamos, do antes, do agora e do depois, a duração é relativa.

A maior parte dos jogadores só consegue "ver" o agora, só detecta os acontecimentos quando já estão neles, não conseguem antecipa-los, e essa falta de antecipação, normalmente gera dificuldades, principalmente quando jogamos contra equipes que sabem pressionar (no caso aqui falo do momento ofensivo, mais especificamente da 2ª e 3ª fase de posse e circulação, que seriam CRIAR ESPAÇOS + ENTRAR NESTES ESPAÇOS E FINALIZAR).

Reparei que a maior parte dos atletas só consegue se desmarcar por exemplo, quando são linhas de passe muito evidentes, linhas em primeira estação como dizem os portugueses, ou seja, aquele jogador da posição seguinte - Exemplo: Relação Zagueiro - Lateral.

Existe uma certa dificuldade de prever próximas ações, por exemplo, uma bola em posse com o 1º volante, em que este esteja com o corpo mais propenso a entrar para o lado direito (Jogando em um 1.4.4.2 Losango por exemplo), o atacante do lado esquerdo já ir buscar um ESPAÇO entre linhas que, pode em breve ser aproveitado. O que ocorre é que este jogador só busca um espaço, quando é muito evidente que a bola será passada para ele, e isso acaba sendo sempre uma referência de pressão, o que faz com que este jogador ao receber, tenha a bola sempre de costas, ou seja desarmado, pois a recepção de costas é uma referência de pressão para a maior parte das equipes que tenha a zona pressionante e a pressão como comportamento defensivo.

Portanto torna-se fundamental uma antecipação de ações ofensivas coletivas, com uma grande percepção de ações futuras, baseadas nas ações do momento.

Porém mais importante que perceber isso, é conhecer isso, e os jogadores, em níveis inferiores (Juvenis, Infantis, e até mesmo Juniores,e alguns jogadores profissionais também) não conhecem as possibilidades de criação e aproveitamento dos espaços.

Os espaços em breve serão tema de postagem maior, neste momento vou apenas citar de forma simples em um exercício onde pode-se encontrar espaços por exemplo, em uma linha de quatro jogadores com dois volantes a frente, e alguns comportamentos que ajudam no processo.

Uma questão é importante: Onde estão os espaços?

Para mim os espaços estão entre as linhas do adversário, nos locais não ocupados, no lado contrário ao lance, na profundidade, e a sua criação depende da mobilidade dos nossos jogadores sem a bola.



O jogador com a bola pode criar linhas de passe, fazendo uma condução por exemplo e criando superioridade em outra zona, exemplo: Meia com a bola em condução para a linha de defesa adversária acaba gerando superioridade ou igualdade numérica, princípio fundamental de ataque e defesa.

Lógico que o exercício abaixo proposto pode sofrer diversas alterações, inclusive com uma progressão de "sem oposição" para "com oposição". Porém para "ver" os espaços, acredito primeiro ser interessante retirar a oposição, e quando este entendimento estiver eficiente, ai a criação de oposição será útil, pois exigirá mais timming dos jogadores.

Alguns comportamentos-referência importantes:

- Jogo Frente / Costas: Utilizar esta referência simples de, se receber de costas, servir como apoio para que está de frente, dando velocidade a ação, e evitando a perda da bola por não ter a visão da goleira adversária. Ao ser solicitado neste jogo frente/costas tentar rapidamente criar uma nova linha para novas ações, de preferência de frente para a goleira.

- Jogo Entre Linhas: Utiliza-se essa referência para a entrada entre linhas, entre os setores, nos espaços vazios, de preferência nas costas dos marcadores. Por exemplo: O FC Barcelona faz isso com Messi, jogando praticamente com um 1.4.4.2 Losango, com dois pontas abertos e Messi criando superioridade no meio nas costas dos volantes, gerando 4 jogadores nesta zona. As vezes ele faz isso mais abaixo ainda, trocando de função com outros jogadores do setor. Este é um exemplo de Jogo entre linhas e de criação de superioridade na zona da bola.

- Infiltrações e Ultrapassagens: Situações de entrada nos espaços, de homens vindos de outro ou do mesmo setor para receber a bola em situação de finalização, também conhecido como homem surpresa.

- Mudança de direção com e sem bola: Situações de mudança de direção dos jogadores para receber (desmarcações) e a direção da bola em domínios ou conduções, buscando uma quebra de tendência, consequentemente a previsão do adversario do próximo lance. Para evitar que esta quebra também quebre as previsões da nossa equipe devemos ter um bom jogo posicional, que permite uma previsão de linhas de passe futuras, mais a frente, mais atrás, mais fechadas ou mais abertas.

- Criação de Linhas diagonais: Procurar sempre entrar em situação de progressão. Evitar bolas paralelas, ao lado, onde a bola não progride. Sempre que possível receber a bola uma linha a frente, para conseguir buscar o gol ou a assistência. Porém ai torna-se fundamentar o conceito de zona pressionada, é preciso verificar onde há pressão, e saber se dá ou não para entrar em determinado espaço.

- Cuidado com o tipo de passe, condução e domínio da bola: É fundamental que, para a visualização dos espaços, a bola seja rapidamente recebida, no pé, de preferência o dominante, e a frente, evitando o jogo de costas. O controle da bola, evitando divididas, e a condução se necessária também são importantes.

- Timming: Perceber o melhor momento de entrar, perceber o melhor momento de passar (no pé ou no espaço), onde esperar pela bola, o melhor momento de finalizar, é o timming, que é o segundo exato de fazer a ação, um segundo a mais ou a menos erra-se.

- Ritmo da bola: É fundamental manetra a bola em movimento. Os espaços também são vistos pelos adversários, e são eliminados normalmente quando a bola para, ou seja, os adversários normalmente, quando temos a bola, estão olhando para ela, é o centro do jogo, logo se mantivermos ela em movimento sempre, conseguiremos aproveitar os espaços.

SITUAÇÃO DE JOGO:


Representação da situação de jogo comum, de 5 x 7. Neste caso a superioridade defensiva pode atrapalhar a propensão do ataque em criar as situações de finalização. Então é fundamental em contextos iniciais que ocorra um sucesso maior ao que se quer treinar, gerando uma maior progressão com o desenvolvimento do coportamento desejado.

ALGUMAS POSSIBILIDADES DE AMPLITUDE E PROFUNDIDADE DE JOGO GERADAS  COM A MOBILIDADE DOS JOGADORES DENTRO DA ESTRUTURA:

 Abertura dos atacantes, podendo receber a bola no espaço entre os laterais e os zagueiros.

 Entrada de um volante nas costas do meia, neste caso é necessário um mecanismo de compensação pois o jogador irá se distanciar bastante da sua zona de ação e em casos de contra-ataque poderá haver uma exposição do setor.

 Entrada do meia no espaço entre os zagueiros, recebendo a bola na última linha do adversário.

EXERCÍCIO - CRIAÇÃO DE ESPAÇOS, APROVEITAMENTO E FINALIZAÇÃO:


Contexto do Exercício: Os jogadores estão posicionados em um 1.4.4.2 Losango, contra uma defesa em linha + dois volantes, representados pelas barreiras.

Pedagógicamente coloquei os cones brancos representado possibilidades de espaço, para que haja uma visualização dos mesmos antes do acontecimento.

Também para aproveitar o exercício, coloquei uma finalização extra para o meia ou volante, de preferência de fora da área, que ocorre após a finalização da jogada.

1 QUADRO: 


 Espaços para a assistência, em situação de finalização direta ou nova assistência.

2 QUADRO:


Locais mais propícios (por dentro) para a recepção da bola para efetuar o jogo frente costas, e servir como ponte de progressão de jogo.

3 QUADRO:
  

Exemplo de combinação. 


 FInalização da jogada e segunda finalização.

4 QUADRO:


Relação importante de busca e profundidade, um atacante descendo para receber a bola e servir como ligação, e outro atacante dando profundidade para receber a assistência.

Grande abraço
Luis Esteves
la_futeboll@hotmail.com

2 comentários:

Douglas Tajes Jr. (Juca) disse...

Ótima postagem Professor Luis!

Um tema extremamente importante e com pouca discussão dentro da temática do futebol, apenas pessoas altamente qualificadas tem entendimento desta questão. Aprendi mais pouco hoje!

Abraço Juca.

Luis Esteves disse...

Obrigado Juca

Realmente é um assunto que gosto muito, pois acredito que dominando este princípios a equipe consegue atingir um outro patamar de criatividade, de criação de lances.

Muitas boas equipes tem uma 1ª fase de construção boa, porém não conseguem fazer o mesmo em 2ª e 3ª fase, contra equipes fortes, pois não conseguem ver os espaços e não conseguem usa-los, cria-los de forma consciente e contínua.

É um grande desafio ensinar isso aos jogadores, mas é muito gratificante quando eles conseguem entender e aprender.

Grande abraço