terça-feira, 2 de março de 2010

O PODER DAS EMOÇÕES

"Não me entrego sem lutar
tenho ainda coração
não aprendi a me render
que caia o inimigo então".
Legião Urbana
Metal contra as nuvens



Hoje vou falar sobre um assunto em que não colocarei nenhuma referência literária, vou apenas expressar minha opinião empírica, obtida nestes poucos anos como treinador e ser humano, nos campos e fora deles. Vou falar sobre isso pois vejo que muitas pessoas estão acessando este blog, e na sua maioria procuram informações científicas, procuram métodos que possam seguir, princípios e fundamentos palpáveis para chegar a determinado ponto, para atingir determinado objetivo. Periodização Tática está ligada profundamente ao fenômeno José Mourinho, pois foi ele quem à colocou na mídia, muito embora outros treinadores antes dele já a utilizassem, foi ele, com suas vitórias em sequência que alavancou esse pensamento de treino, e muitos ao ver estes resultados, estas conquistas todas em tão pouco tempo querem segui-lo, querem imita-lo, inconscientemente com a ideia de que terão o mesmo sucesso.



Mourinho é um acadêmico, é um professor, e em suas entrevistas sempre pregou a sustentabilidade de sua metodologia a alguns pontos científicos, a estudos, a ideias, a princípios técnicos e pedagógicos, porém, na minha opinião o que o torna diferenciado não é isso, e sim como lida com as emoções, para mim é esse o responsável pelo sucesso deste treinador. Digo isso baseado não apenas nele, mas em como vejo as coisas acontecendo a minha volta e nos meios de comunicação. Acima de tudo, Mourinho é um apaixonado, e paixão é uma emoção, Mourinho é apaixonado pelo que faz, faz bem exatamente por isso, sabe fazer, mas poderia saber, e não ser apaixonado, mas ele é, a paixão nos leva ao perfeccionismo, ao cuidado, a disciplina, ao querer fazer.

Vamos mais longe, pois o importante aqui não é o Mourinho, e sim as emoções que ele gera e que ele domina, ao assistir Inter x Chelsea, pela Copa dos campeões esses dias vi ele, ao fazer um gol aos 3 minutos do primeiro tempo, com Milito, não comemorar, fazendo apenas um biquinho sentado no banco de reservas, mas tenho certeza absoluta, naquele momento, após 3 eliminações consecutivas, jogando contra seu ex-clube, aos 3 minutos de jogo, em casa, com o estádio lotado, tenho certeza que ele queria explodir, como fez aquela vez contra o Barcelona no Nou Camp, em que deu uma deslizada de joelhos na grama. Mas não, ele ficou quieto, ele dominou a sua emoção, pois estravasa-la ali poderia gerar outras emoções que talvez ele alí achasse desinteressante.

Cheguei nesse assunto porque fiz uma reflexão sobre minha equipe ano passado, e ganhando poucos jogos, em comparação ao ano anterior em que estivemos em várias decisões, conclui que, o diferencial entre minhas equipes foi esta, a emoção, ou as emoções. Todos nós precisamos de metas, e além disso, precisamos acreditar nas metas, e querer chegar nelas. para isso é necessário um envolvimento com o processo, uma paixão, ambição, inspiração, precisamos de gasolina para movimentar nossa pessoa complexa, e esse combustível é a emoção.

Vamos a um exemplo, quem quer jogar de graça em um time da Nova Zelândia?

A princípio, eu não iria querer, ainda mais se fosse Rúgby, mas tem gente que quer, e vou mostrar no vídeo abaixo:


Quando comecei a ver este vídeo, achei muito estranho, as emoções que tive foram de alegria, eu achei graça, ri, achei estranho, porque não estou inserido na cultura desses jogadores, mas após entender porque fazem isso, o porquê tem este ritual, consegui perceber o porquê que esta equipe é mais do que uma equipe, é uma lenda. Agora imagina você fazendo isso em frente ao adversário e os caras parados olhando, gera medo, ou imagine você alí no meio é emoção transbordando pelos ouvidos, gera inúmeras emoções, uma motivação muito forte.

É apenas um exemplo, eles jogam não por dinheiro ou algo material, lógico que isso importa, mas jogam porque querem, e porque defendem uma cultura, o estádio inteiro pára para ouvir as frases e a dança dos jogadores, é algo que está acima do treino, acima das preleções, acima dos sistemas de jogo, é o algo a mais.

Michael Jordam coloca no inicio do seu livro " Dedico este livro aos meus amigos mais próximos e a minha família, pela inspiração e apoio que me proporcionaram. E aos meus pais, pelo amor e pela orientação que me ofereceram ao longo de toda a minha vida. Eles são a minha verdadeira fonte de inspiração."

Mais uma vez estão subliminarmente colocadas as emoções, quem viu Michael Jordam jogando achava que era um fenômeno, e de fato era, porque dominava suas emoções, e porque era um apaixonado, pelo treino e tinha como forte fonte de inspiração seus laços familiares. Diversas vezes fala sobre o medo de errar, o medo do fracasso, de como não pensava nisso, mesmo que tivesse isso em sua cabeça. É a inteligência emocional. Seria injusto se não citasse Ayrton Senna, Luis Felipe Scolari, dentre outros que não me lembro agora.

Portanto pra finalizar se eu tivesse que apostar em uma equipe para ser a campeã apostaria na melhor treinada, na que conseguir dominar melhor as emoções do jogo, e na mais apaixonada pelas suas metas, na que faz da equipe mais do que uma equipe, uma família, acho que, claro, com o talento, e esses ingredientes qualquer equipe é a campeã.

Abraço

Luis Esteves

la_futeboll@hotmail.com

2 comentários:

Beatriz disse...

Luis,

Estou virando "figurinha fácil" neste blog. rs Mas, com tantaa coisa interessante, fica difícil não comentar.

Bom, mais uma vez este é um tema q faz parte das nossas conversas, né? E acho encantador ver sua ousadia em postar sobre isso nesse blog, tão acessado por profissionais em busca de conhecimentos técnicos, como vc mesmo citou inicialmente.

A discussão de como o gerenciamento das emoções é importante para o sucesso no atingimento das metas apesar de não ser nova, tem ganhado mais forças nos últimos tempos. E é notório dizer que as equipes que alinham isso às suas metas, estratégias e atitudes são as que se diferenciam, alcançando mais sucesso.

O exemplo com o All Blacks foi sensacional e dispensa comentários!!

Mas vou além dessa necessidade de gerenciarmos nossas emoções e seguindo o título do post (O poder das emoções) diria que mais do q gerenciar as emoções precisamos aprender a nos programar e programar nossas equipes para focarem o q desejam atingir não levando apenas em consideração a parte técnica, grupal e/ou comportamental.

Estudos da física quântica tem comprovado que nosso pensamento realmente tem poder e que a intenção que colocamos no que realizamos tende a se apresentar como um dos pontos decisivos para o atingimento de nossas metas. Existe no processo de coaching*, por exemplo, um modelo chamado PBC, cuja base consiste no seguinte tripé: meta (que deve ser estipulada de forma assertiva), determinação e intenção. O autor enfoca que o verdadeiro sucesso só é atingido quando estes três pilares estão presentes.

Sei que este tema ainda é polêmico, mas é algo que por mais q o lado cético tente negar, precisamos admitir que tem gerado grandes resultados.

Sugiro a vcs treinadores que busquem, além de preparar suas equipes tecnicamente, invistir nestes desenvolvimentos: gerenciamento das emoções (que pressupõe um processo de autoconhecimento) e intenção. Quem se interessar no assunto, pesquisem sobre, pois poderão encontrar muitas dicas de como atuar nesse sentido.

Acho q nem preciso de deixar Parabéns ao Luis Esteves. Mas devo reforçar, mais uma vez, sua inciativa, ousadia, determinação e contribuição.

Abraço,

Beatriz




* Coaching é um processo que visa levar as pessoas a atigirem o máximo de seu potencial, impulsionando-as a atingirem suas metas. Os grandes líderes, atletas e personalidades mundiais possuem coachs.

João Henrique disse...

Professor Luís, estou cada vez mais convencido do poder da emoção no futebol, muito embora leigos e até mesmo estudiosos o reneguem. Estou lendo o livro Inteligência Emocional, de Daniel Goleman, e no decorrer da leitura se torna clara a necessidade e importância de gerarmos e gerirmos as nossas emoções, entramos então no campo dos marcadores somaticos, da concentração, do autoconhecimento, do querer. A inteligência emocional é fundamental na vitória e na derrota hoje, futuramente acredito que será ainda maior, já que as equipes tendem a cada vez mais se igualar no que diz respeito ao nivel dos seus jogares. As emoções é um assunto vasto para abordarmos e também para os estudiosos fazerem investigações que possam vim a auxiliar o desporto. Professor, tambem queria o parabenizar pois recentemente vi sua monografia, e até copiei algumas partes, sempre com os creditos, para o meu blog.

Um abraço!