quinta-feira, 11 de março de 2010

MONTAGEM DA SEMANA DE TREINOS - Parte 1

"Todo o organismo é movido por uma tendência inerente a desenvolver todas as suas potencialidades e a desenvolvê-las de maneira a favorecer sua conservação e enriquecimento. (...) A tendência atualizante não visa somente (...) a manutenção das condições elementares de subsistência como as necessidades de ar, alimentação, etc. Ela preside, igualmente, atividades mais complexas e mais evoluídas tais como a diferenciação crescente dos órgãos e funções; a revalorização do ser por meio de aprendizagens de ordem intelectual, social, prática..."


(Rogers, 1977).



Já fiz um post parecido com este.


Bom, vamos a montagem de uma semana de treinos, dentro de uma perspectiva do que eu considero Periodização Tática e do que normalmente faço no dia á dia mesmo, é a teoria da prática.


Montar uma semana, ou periodizar, ou planejar, ou pensar, seja lá como chame, é muito complexo, porquê depende de algumas variáveis, dentre elas o modelo de jogo. Algumas pessoas podem ler isto, e copiar, o que eu não acho errado, pois eu copio muitas coisas também, porém sempre colocando minha contribuição junto, já que como diria o Mourinho, " a cópia nunca é tão boa quanto a original", portanto, melhor que copiar, é entender, pensar e produzir. Mas vamos lá.


Para tentar programar esta semana, vamos seguir os seguintes passos (este post será longo hehehe):


- Definição de um modelo de jogo

- Exemplo de um jogo

- Exemplo de planejamento de treinos da semana, conforme um morfociclo de 1 jogo


Sendo para isso, preciso definir um modelo de jogo, vamos a ele então, de forma simplificada, tentando definir nos momentos os princípios e sub-princípios.


MODELO DE JOGO


Definindo modelo de jogo: Modelo de jogo pode ser considerado como conjunto de comportamentos idealizados por nós que desejamos ver nossa equipe realizar durante o jogo, dentro de todas as dimensões que o futebol apresenta, sendo elas tática, técnica, psicológica, física dentre outras que também podem ser inseridas nestas, ou podem ser valorizadas tanto quanto estas, a exemplo das dimensões afetiva, e social.



"Entendendo Modelo de Jogo como uma ideia / conjectura de jogo constituída por princípios, sub-princípios, sub-princípios dos sub-princípios..., representativos dos diferentes momentos / fases do jogo, que se articulam entre si, manifestando uma organização funcional própria, ou seja, uma identidade. Esse Modelo, como Modelo que é, assume-se sempre como uma conjectura e está permanentemente aberto aos acrescentos individuais e colectivos, por isso, em contínua construção, nunca é, nem será, um dado adquirido. O Modelo final é sempre inatingível, porque está sempre em reconstrução, em constante evolução. "

José Guilherme Oliveira


É importante definir que, todo e qualquer treinador tem um modelo de jogo, mesmo que não saiba que tenha, pois qualquer comportamento apresentado por uma equipe leva a um modelo, existem modelos mais e menos evoluídos, dentro de uma filosofia de qualidade, mas não sei se pode-se definir uma escala, o mais evoluído de hoje, pode não ser o de amanhã, hoje posso citar como modelo de jogo evoluidíssimo, o do FC Barcelona.


ORGANIZAÇÃO OFENSIVA





Acredito que hoje, este é o futebol mais evoluído, dentro da minha filosofia de jogo de futebol.


Bom, para entender como se monta um modelo de jogo, você tem que entender que, para facilitar a análise do jogo de futebol, alguns pensadores do jogo nos proporcionaram uma boa ideia, dividiram o jogo em MOMENTOS. Estes momentos são:


- Organização Ofensiva

- Transição Defensiva ou Ataque/Defesa

- Organização Defensiva

- Transição Ofensiva ou Defesa/Ataque


Estes momentos acontecem a todo momento no futebol, as vezes de forma cíclica, as vezes não, por exemplo:


Sua equipe tem a posse de bola em uma zona de ataque, ela esta em ORGANIZAÇÃO OFENSIVA, porém ela circula e em determinado momento perde a posse, neste momento ela entra em TRANSIÇÃO DEFENSIVA, após isso ela reage de determinada forma a esta transição e de algum modo rouba novamente a bola, ela acaba de entrar em TRANSIÇÃO OFENSIVA, a partir daí ela terá um comportamento que irá acarretar na ORGANIZAÇÃO OFENSIVA novamente.


Também vale citar um ponto colocado pelo José Guilherme, quanto as possibilidades de fragmentação dos momentos entre:


- individual;

- sectorial (ou grupal);

- intersectorial;

- colectiva.

Então partindo destes momentos, iremos estabelecer o comportamento que queremos para a equipe, mas antes deve-se levar em conta os seguintes critérios para a definição de um modelo:


- Estrutura do clube ou local

- Histórico do clube ou local

- Objetivos do clube

- Grupo de jogadores

- Comissão técnica

- Competições

- Categoria


Porquê é importante levar isso em consideração, por que muitos ao assumir um time pequeno assistem a jogos da Uefa Champions League e querem reproduzir o mesmo modelo de jogo (um modelo de jogo similar, pois o mesmo nunca será possível) não levando em consideração que esta batendo de frente com estes critérios de escolha de modelo, o que acaba levando ao fracasso e a uma frustração muito grande, e o pior, as vezes levando a demissão.


Bom, vou definir um modelo básico, e muitas vezes o básico é o melhor para o entendimento dos jogadores, é natural reações emocionais dos jogadores quando se trabalha nessa perspectiva, muitos não assimilam, não entendem e isso gera emoções negativas, e reações agressivas, portanto deve-se levar isso em consideração até mesmo como prevenção de possíveis problemas relacionais, mas este é outro assunto.


Vamos ao modelo :


Vou pegar o exemplo do meu time do ano passado.


Estrutura do clube:


A estrutura do clube era precária, tínhamos um campo de treino, ao qual utilizávamos pela parte da manhã, alguns treinos eram a tarde no próprio clube.

Histórico do clube:


O clube se encontra na 2ª divisão do estado, e no ano anterior havia sido vice-campeão gaúcho júnior, o que aumentou bastante a responsabilidade do grupo, e da comissão, entrei apenas ao término da primeira fase , onde surpreendentemente o clube acabou em 1º lugar, deixando clubes mais estruturados atrás.


Objetivos do clube:

Ser campeão gaúcho junior.
Vender jogadores jovens.
Grupo de Jogadores:


Era um time de boa qualidade, tinha uma mescla boa de técnica e pegada.

também tinha a característica da união, cobrança positiva e da auto-motivação.

Tinha cerca de 33 Jogadores, 3 por posição.


Portanto a escolha dos atletas dentro das limitações é muito importante e tem que ser congruente a uma filosofia, eu por exemplo queria uma equipe com posse de bola, com circulação, com amplitude e profundidade, com mobilidade ofensiva, com pressão,


Comissão Técnica:


Tínhamos uma comissão técnica composta por:


Treinador

Preparador Físico

Preparador de Goleiros


Competições:


Campeonato Gaúcho Júnior


Baseado nesta ideia montamos um modelo de jogo bem comum, e bem utilizado hoje:


OBSERVAÇÂO: O modelo segue uma organização fractal de princípios, hierarquizados de forma a levar em consideração a importância do comportamento. A palavra fractal tem o significado de Fragmento, portanto o modelo de jogo é fragmentado em ordem, posteriormente para poder ser treinado de forma contextualizada, só assim não é mais abstrato como normalmente se é em outras definições.
É IMPORTANTE SALIENTAR QUE, QUANDO SE MONTA DETERMINADO MODELO DE JOGO, DEVE-SE SEGUIR UMA LINHA ÚNICA, SEM PRINCÍPIOS QUE BATAM CONTRA OUTROS PRINCÍPIOS, ISSO GERA UM PROBLEMA GRANDE DE ASSIMILAÇÃO!
ORGANIZAÇÃO OFENSIVA:


Princípio: Posse e circulação de bola

Sub-Princípio: Equilíbrio Posicional = Amplitude e profundidade

Sub-Princípio de Sub-Princípio: Antecipação do pensamento pelo mapeamento tático da equipe = VELOCIDADE COLETIVA

Sub-Princípio: Técnica do passe e domínio.



Princípio: Mobilidade Ofensiva

Sub-Princípio: Zonas de Criação

Sub-Princípio de Sub-princípio: Utilização do espaço entre as linhas adversárias.


Princípio: Preparação para a Finalização

Sub-princípio: Momentos da finalização

Sub-princípio de Sub-princípio:

1- Abertura de espaços

2- Visualização dos espaços

3- Utilização dos espaços / passe

4- Finalização


TRANSIÇÃO DEFENSIVA:


Princípio: Pressão imediata a perda da posse

Sub-Princípio: Direcionamento da bola para a zona mais adequada a pressão.

Sub-princípio de Sub-princípio: Movimentação Diagonal



ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA:


Princípio: Compactação

Sub-Princípio: Fechamento de linhas e definição de bloco de pressão.

Sub-princípio de Sub-princípios: Aproximação e Equilíbrio entre as linhas


Princípio: Pressão

Sub-Princípio: Pressão zonal

Sub-princípio de sub-princípio: Definição do tipo de pressão nos 3 ou 4 setores do campo.

Sub-Princípio: Desarme

Sub-princípio de sub-princípio: Técnica do desarme.



TRANSIÇÃO OFENSIVA:


Princípio: Valorização da posse da bola e retirada da zona de pressão.

Sub-princípio: Mecanismos de saída

Sub-princípio de sub-princípio: Articulação intersetorial entre defesa e meio ou defesa e ataque.


A partir daí se repetem os momentos.



Bom, encerro aqui esta primeira parte, no próximo post coloco uma simulação de problemas apresentados no jogo, e um exemplo de morfociclo.



Abraço.

Luis Esteves



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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


OLIVEIRA, José Guilherme; Organização do jogo de uma equipa de Futebol. Aspectos metodológicos na abordagem da sua organização estrutural e funcional. PDF. 23 Páginas. Sem data.

Um comentário:

João Henrique T.L.C disse...

Muito interessante esse post e essa nova "serie",Luis, seguirei acompanhando...

Um abraco!