quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

UMA REFLEXÃO (DESORDENADA) SOBRE ALGUNS PONTOS IMPORTANTES PARA A PRODUÇÃO DE UM FUTEBOL DE QUALIDADE

"O segredo do futebol é fazer extremamente bem as coisas simples"

Bobby Moore




Sendo objetivo e simples em uma definição de uma equipe de qualidade, pensei no FC Barcelona ou do Arsenal FC como modelo de equipe que gera um tipo de futebol de alta qualidade (para mim o futebol de qualidade, é o futebol bem jogado, com posse e domínio do jogo, com velocidade e muito jogo coletivo... isso para mim...), um futebol bonito de assistir. Estas equipes apresentam algumas características:


FC Barcelona



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QUALIDADE INDIVIDUAL

IMPOSIÇÃO MENTAL

O jogador precisa saber impor o futebol, o treino, no jogo, e para isso tem que ter um tipo de personalidade que o permita fazer isso, nem todos tem regularidade, nem todos jogam sob pressão, os sanguíneos e coléricos e alguns fleumáticos conseguem se colocar melhor em modelos desse tipo, em especial os sanguíneos. (seguindo uma referência simplificadora de personalidades). Daí a importância na escolha do jogador.


DESENVOLVIMENTO GERAL ADAPTADO AO MODELO


O jogador precisa estar bem preparado desportivamente, ou seja, precisa estar treinado e bem treinado, em todas as dimensões, se não resiste em determinado momento ao modelo. A Tática não é técnica, não é física e não é psicológico, mas precisa de todas estas para se manifestar.


EXPERIÊNCIA DO JOGADOR

É importante a mescla de jogadores com bagagem e de jogadores com menos experiência, porém se o jogador tem um tipo de personalidade ativa, definidora, decisional, inteligente, motivadora, ele consegue suprir a falta de experiência no campo.

TALENTO


O jogador, o modelo e o sistema têm que se complementar, e é difícil acertar isso logo de cara, é preciso treino(s) por isso a importância de uma definição de princípios, para saber qual o jogador mais adequado, mas de antemão já digo que, independente do tipo de jogador, terá que ter qualidade técnica, pois este tipo de jogo requer um passe bom, um primeiro toque na bola muito bom, ou para passar ou para dominar, isso gera a velocidade coletiva.

SISTEMA DE JOGO E JOGO POSICIONAL

O sistema ideal é o que forme em sua estrutura o maior numero possível de triângulos e losangos no campo, forma geométrica esta que permite um maior número de opções no local em que se encontra o jogador com a bola, é o mais adequado para este tipo de jogo. O sistema é a estrutura em que ocorrem as ações do modelo. O sistema de jogo possibilita o jogo posicional, que por sua vez possibilita a velocidade coletiva.



TRIÂNGULOS E LOSANGOS

Os triângulos são figuras geométricas que se restringem a três lados, para o desenvolvimento do jogo de passes a formação de triângulos é fundamental. OS losangos também são gerados pela aproximação ao homem da bola, a fim de manter a posse e progredir de forma segura.




JOGO APOIADO


É o jogo de aproximações, um jogador ao receber a bola deve ter opções de diversos tipos, para que escolha a que achar mais adequada dentro da sua capacidade decisional:

- Começo

- Virada

- Fundo

- Finalização



ZONAS DE CRIAÇÃO

São zonas que devem estar preenchidas para haver uma velocidade na capacidade de decisão dos jogadores, resumo as seguintes zonas:


CIRCULAÇÃO DE BOLA

Uma arte a de circular a bola com paciência, mas de forma objetiva, muitos confundem ter a bola com ficar com a bola sem objetivo, o objetivo do futebol sempre foi o gol, e sempre vai ser então posse sem este objetivo é qualquer coisa fora do futebol, portanto o gol é sempre o alvo, mas querer isso, e ficar com a bola por um longo tempo, é uma arte que depende de vários fatores já citados.


TRANSIÇÕES DEFINIDAS

Uma boa transição é gerada através de um jogo treinado, pode-se transitar em velocidade ou em segurança, e o jogador precisa saber as duas formas, pois faz parte do jogo escolher as duas, e isso o treino analítico tem maior dificuldade em ensinar, a periodização tática, tem mais facilidade, pois se quer ser rápido em uma investida, precisa de velocidade coletiva, precisa de passes precisos, precisa de mobilidade coletiva, precisa de características treinadas, e bem treinadas.

VELOCIDADE COLETIVA



Citei várias vezes este princípio, que para mim é simples, e pouco tem a ver com a velocidade de deslocamento. Vou ser simples na definição de conceitos:

-Velocidade de deslocamento = Velocidade individual, da fibra muscular, da reação, do pensamento, da ação, do deslocamento sem bola, é importante, porém não é a mais importante.

- Velocidade coletiva = Velocidade da equipe e da bola, portanto um jogador de fibra lenta pode ser rápido, se pensar dentro da equipe nas ações da equipe, e no momento em que muitos jogadores de uma equipe pensam a mesma coisa ao mesmo tempo, se adquiriu a velocidade coletiva, isso tanto no momento ofensivo como defensivo.


VELOCIDADE COLETIVA - ARSENAL FC


ALTERNÂNCIA DE RITMO E DISTÂNCIAS DE PASSES

Diz respeito à forma como o passe será dado, poderá ser curto (de 2 a 20 metros) ou longo (de 25 a 50 metros, ou mais), e poderá ser de risco ou seguro, dependendo da zona, pode se utilizar tipos diferentes de passe.

ALTERNÂNCIA DE CORREDOR DE INVESTIDA


A capacidade de ter a bola implica muitas vezes num nervosismo para a investida do ataque, é preciso controlar esta ansiedade, e saber achar o espaço para investir, e isso às vezes leva alguns segundos a mais do que o esperado, por isso a importância da variação de corredores para a investida da bola e dos jogadores, dentro de um jogo posicional.




SAÍDA VERSÁTIL

A saída de bola é um princípio próximo a da versatilidade na investida, pra sair jogando é a mesma coisa, às vezes dá pra sair jogando pelo lado, com laterais, às vezes pelo meio com volantes, às vezes numa bola longa com os pontas, às vezes numa bola diagonal com os meias e atacantes de centro, depende do momento, tem que se saber escolher.



TROCAS POSICIONAIS

O futebol de hoje, é um futebol de pressão, principalmente no que diz respeito ao terceiro terço de campo, ou a ultima parte do campo, as equipes se compactam bem hoje, principalmente em níveis elevados, e isso dificulta muito a entrada com bola neste setor, por isso a troca de posições se torna interessante, levando em consideração as zonas de criação, pois se não houver equilíbrio posicional, não há velocidade coletiva.

ESTRUTURAS FIXAS E MÓVEIS

Dentro do sistema tem jogadores dinâmicos, e outros estáticos, é importante definir isso de acordo com o que se quer, eu gosto de formar um triângulo defensivo que conta com os dois zagueiros,


PRESSÃO / BLOCO

É uma tónica do futebol atual, porém pressionar tem alguns detalhes que vejo na prática serem pertinentes saber:

Local da pressão = Na zona do 1º terço, acredito que a melhor marcação seja a pressão sem desarme, na espera pela interceptação ou desarme simples, pois o perigo de cometer faltas nessa zona é grande e é sempre um risco. O ideal é em caso de não se estar com a posse, obrigar o adversário a levar a bola para a zona do 2º terço, isso se faz fechando opções de passe (Compactação).

No 2º terço é a melhor zona para dobrar a pressão, ou seja, pressionar pela frente e pelas costas do adversário. Com dois jogadores para um deles.

Na terceira parte do campo, a melhor marcação é a pressão, em bloco, podendo ser mais agressivo pois faltas ali não tem interferência maior.

Tipo de pressão = Pode-se fazer pressão simples, ou a dobra de marcação/pressão.

Momento da pressão = Identificar o momento de pressionar é importante, pressionar sozinho é difícil e desgastante, a pressão deve ser feita em um bloco grande, de preferência com no mínimo 3 jogadores.





BOLA PARADA DEFINIDA

Uma bola parada defensiva e ofensiva gera tranquilidade, mas precisa ser congruente e não muito complexa, a simplicidade às vezes é mais importantes






Um abraço

Luis Esteves

la_futeboll@hotmail.com



6 comentários:

Lucas Oliveira disse...

Muito legal, Professor! Meus parabéns pela explanação. Com relação à marcação pressão, gostaria de fazer uma pergunta, o que achas de, no 2º ou 1° terço zonal, congestionarmos o corredor central impedindo uma progressão da bola, para assim induzir o adversário a levá-la ao corredor lateral para então realizarmos uma pressão imediata para roubar a bola, sendo este corredor um campo de menor opção de alternativas para o oponente? Um abraço

Luis Esteves disse...

Professor
Obrigado, fico feliz que tenha gostado
Muitas coisas faltaram, me esqueci de falar sobre os mecanismos dos setores, coisa que tenho martelado bastante, vou colocar mais tarde, fica ate estranho simplificar tanto coisas tão complexas.
De fato, isso seria a posse de bola sem a bola, até iria colocar no post, mas acho que preciso me aprofundar mais nesse assunto, de fato, é uma boa opção, algumas equipes tem como forte a saida pelos lados, outra a saída pelo meio, outras as duas, estratégicamente acho que uma possibilidade é deixar a definição de saída pelo lado mais fraco, e depois pressionar.

Um grande abraço Professor

Anônimo disse...

Hola:

Soy un asiduo al blog y me gustaria que me explicara con mas detalle las transiciones que utilizan, tanto defensa-ataque como ataque-defensa

Un abrazo.

Marcel Montalban
coachalmusafes@yahoo.es

Luis Esteves disse...

Ola Marcel
Vou fazer um post só sobre isso, acho que ficará mais claro.
Um grande abraço

João Henrique T.L.C disse...

Professor, acabei não comentando no outro post, mas achei muito boa a postagem sobre a Preleção, sempre que puder fazer, pelo menos eu, agradeço, me senti quase como se tivesse participando...
Luis, o que voce chamou de sistema estatico é a mesma coisa que balanco defensivo?
Forte Abraço!

Luis Esteves disse...

Obrigado João
Farei mais com certeza
Quanto ao sistema estático, acho que diz respeito a estrutura fixa, na verdade é uma estrutura que se cria para haver um processo de aceleração de ações dos jogadores, ou sea eles ja sabem que está alí, então pode-se acelerar as coisas, muitas vezes não é mais preciso pensar, é quase sem conciência, e esta estrutura pode variar de equipe para equipe, de jogador para jogador e de treinador para treinador.
Um grande abraço.