domingo, 1 de novembro de 2009

MODELANDO O MODELO DE JOGO...FASES QUE DEVEM SER LEVADAS EM CONSIDERAÇÃO NO PROCESSO DE ENSINO




O modelo de jogo, como já citei aqui no blog é a pedra fundamental na Periodização Tática, porquê? por que é nele que está a especificidade que será gerada nos treinos, buscando a sonhada cultura de comportamentos que a metodologia produz.


Vamos definir MODELO DE JOGO então, até pra ser mais fácil de explicar pra pessoas acostumadas a nomenclatura proporcionada pelos treinos convencionais.


Modelo de Jogo: Plano tático-físico-técnico-psicológico-estratégico objetivado por um treinador, ou mais,que visa um determinado padrão de comportamento, que acaba por se tornar uma cultura, na qual o jogador tem como guia de comportamentos; definindo limites para as decisões que serão tomadas nos jogos. O Modelo de jogo é definidor, pois dele surge o grande princípio da Especificidade, pois só é possível ser específico se ao treinar, seja reproduzido pequenos ou grandes fractais do modelo de jogo, e para isso tem que se ter um Modelo pré-definido, para saber onde se quer chegar.


Bom, isto é repetitivo, mas é importante, pois muitos amigos treinadores, preparadores físicos estão me perguntando sobre periodização tática, como comparativo as outras metodologias, sempre visando o lado físico inicialmente, as valências, como ter ganho de força, velocidade etc.. por que a segurança vem daí, dos dados, do palpável, sendo que isso na verdade apenas nos engana, temos uma ilusão de ter tudo sob controle...mas tenho dito que não, não temos, não tem nada a ver com isso, muito menos com não ter treinos físicos, ou muito menos com o modismo José Mourinho , Periodizar Taticamente é muito complexo, e eu mesmo tenho corrigido muitas coisas no dia-á-dia, pois tudo é qualitativo, exige conhecimentos de diversas áreas, que trabalham juntas e ao mesmo tempo, pois não é possível ter crescimento qualitativo, em determinado modelo de jogo separando as dimensões do jogo, pois ai não será mais o jogo, e ai está a complexidade (Ver teoria da Complexidade). E nosso maior erro é achar que ser específico, é poder determinada situação e trabalhar apenas ela, de forma isolada e descontextualizada...é um erro.


Para o entendimento dos colegas, vou colocar um exemplo prático de como o modelo de jogo é importante, no processo de criação do treino e da Especificidade.


Meu Modelo de Jogo, Basicamente falando:


ORGANIZAÇÃO OFENSIVA:

-Manutenção da Posse e Circulação
-Mobilidade Ofensiva
-Definição / Finalização
______________________________________
TRANSIÇÃO DEFENSIVA:

-Compactação Rápida
-Movimentação Diagonal
______________________________________
ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA:

-Pressão ao jogador com bola, e opções próximas
______________________________________
TRANSIÇÃO OFENSIVA:

-Abertura - Profundidade e Amplitude
-Valorização da Posse
______________________________________

Para o entendimento do processo à seguir, é preciso entender que, nestes momentos contém os princípios do meu modelo de jogo, ou seja, como eu quero que minha equipe se comporte... e isso não é padrão, é uma individualidade da minha equipe, e nunca será igual a outra, mesmo que se coloque princípios idênticos. Cada modelo de jogo é único. Mas todos tem os quatro momentos.


Bom, vamos a problemática ...minha equipe é sub-15, e consegue, treinando, atingir os princípios que coloco à eles, dentro dos exercícios, de forma como idealizo, mas em alguns jogos tenho tido um problema, a fadiga física...

- Alguns jogadores relatam que estão cansando com 15 minutos do 2º tempo, sendo que jogamos 2x30...

O primeiro pensamento que lhe vem a mente é qual? esta treinando pouco...Tem que aumentar o volume do treino...tem que treinar mais minutos....tem que trotar após o treino, tiros láticos, aláticos etc etc...e isso de nada tem a ver, o que tem a ver é o modelo de jogo.


Minha equipe, em jogos de pressão comete um erro, ela muda de modelo, por MEDO, talvez por ser uma equipe nova, existe a cerca de 8 meses, pois formamos a base do clube este ano, e em jogos em que pegamos times "rodados" jogando contra, acabamos por temer, e jogar de forma diferente a qual treinamos. E ai está o problema.


Quando se tem medo, acaba-se por não querer a bola, equipes medrosas não querem jogar, querem apenas que o tempo passe, que o jogo acabe logo e se der com um gol de escanteio ganha-se o jogo, este modelo de jogo, se encaixa no Modelo de Transições, pois se dá valor maior as transições ofensivas e defensivas, com a bola joga-se verticalmente, sem quebras de ritmo e direção, e sem ela, fica-se na espera, do erro do adversário, ou se pressiona errado, de forma afoita ou individual.


É normal equipes menores utilizarem este modelo, quando enfrentam equipes maiores, porém não quando as equipes são do mesmo nível, ou não quando existe uma mudança de comportamento pelo medo. Mas isso é compreensível quando se trabalha com jogadores novos, que estão ganhando ainda experiências, estão recheando seus marcadores somáticos de situações positivas e negativas. mas voltando ao assunto...porque minha equipe cansa fisicamente com 15 do 2º tempo nestes jogos difíceis...?


Simples, porque não respeita o modelo de jogo, que é um modelo de organizações, e passa a jogar em um modelo de transições..e um modelo de transições exige um suporte fisiológico diferente do modelo de organizações. O cansaço é maior, pois seguidamente temos que dar sprints para retornar a posição inicial, por perder a posse da bola, não conseguimos descansar com a bola, temos que ficar sempre correndo cerca de 15,30 , 50 metros, para evitar que o adversário entre aqui ou ali com a bola, e quando a temos, logo lançamos verticalmente, e em cerca de 5 ou 10 segundos já estamos sem a bola. Portanto esse é o erro, e não a resistência da equipe, e sim a resistência específica ao modelo de jogo.


E porque isso ocorre? Por que na escolha do modelo temos que levar em conta 3 critérios principais:


- Histórico do clube - Alguns clubes e torcidas tem horror a determinados modelos..e para haver uma adaptação a isso, tem que se ganhar sempre e como isso é muito dificil..

- Qualidade dos jogadores ( e isto envolve todas as dimensões, ou seja de nada adianta um jogador muito técnico, sem suporte mental para desenvolver determinado modelo de jogo..qualidade individual é fundamental)

- Estrutura do local - Tem modelos de exercício que alguns clubes não suportam, pela falta de materiais, e estruturação.


Então, no meu modelo, não respeitei um destes critérios, que é o da Individualidade do Jogador, pois alguns atletas meus, não conseguem em determinados momentos de pressão, ainda, ter o comportamento que meu modelo indica, mas isso é treinável, porém alguns podem nunca atingir determinado nível.


Portanto, é complexo demais o futebol, e o treinamento desportivo, para vendo esse problema, apenas aumentar o volume de treinamento..


DETALHES IMPORTANTES QUANTO A PROGRESSÃO DAS CARACTERÍSTICAS DO MODELO DE JOGO E DOS JOGADORES PERANTE O MESMO


O Professor Júlio Garganta coloca uma sequência de progressão do modelo de jogo, dividida em 3 fases básicas, é importante saber isso, para entender o processo de aprendizagem/ensino da equipe, e dos jogadores. Não há uma velocidade específica de ensino, pois cada equipe tem um tipo de resposta aos estímulos propostos, mas dependem muito dos critérios que eu citei acima.


GARGANTA (2002, página 3 e 4)


MODELO RUDIMENTAR

- Jogo estático, não orientado, jogadores centrados sobre a bola, excesso de verbalização.

  • Os jogadores perseguem indiscriminadamente a bola, aglutinando-se sobre ela.
  • Dificuldades na relação com a bola (Domínio, Controle, Proteção, Passe...etc).
  • Utilização sistemática da visão para olhar a bola, impossibilitando a "leitura" do jogo.
  • Imobilismo dos jogadores sem bola, excesso de verbalização.
  • A circulação da bola não é voluntária.
  • Sucessão de ações isoladas e explosivas sobre a bola.



  • MODELO INTERMEDIÁRIO

    - Jogo estático, orientado, jogadores centrados sobre o passe.

  • Ocupação mais racional do terreno de jogo, embora pouco eficaz, pois é pouco móvel, estática.
  • Existência de blocos de jogadores estáticos que trocam passes entre si.
  • Circulação da bola de forma periférica, pelos lados do campo.
  • A visão (Central e Periférica) vai sendo aos poucos "libertada" para ler o jogo.
  • Todo o encadeamento de ações necessita de uma paragem Bola-Jogador.
  • Pouca acutilância ofensiva.
  • MODELO AVANÇADO

    - Jogo dinâmico, orientado, jogadores centrados sobre a finalização - Gol
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  • Jogadores organizados em funções de finalidades diferentes.
  • Acutilância Ofensiva.
  • O portador da bola joga de cabeça levantada para "ler" o jogo.
  • Alternância do jogo em largura e profundidade.
  • As ações são organizadas em função dos alvos - Goleiras.
  • As ações são encadeadas.
  • Privilegia-se a Comunicação Motora, em detrimento da Gestual e Verbal.

  • Então, é importante saber que além da escolha do modelo, temos que saber respeitar o processo de progressão qualitativo do modelo de jogo, isso não tem tempo certo, depende da equipe, como já disse antes, e da especificidade do treino, portanto, não é de um dia para o outro, e com qualquer jogador que se joga como o FC Barcelona, por exemplo, que tem um modelo de jogo muito complexo, embora simples.

    CONCLUSÕES BÁSICAS
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    - É preciso saber que modelo de jogo seguir, para depois saber o que treinar.
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    - É preciso ter jogadores para realizar esse modelo.
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    - É preciso saber respeitar os momentos em que a equipe se encontra, para evitar o erro de mudar de modelo toda a hora, por que isso ou aquilo não dá certo, tudo tem seu tempo, mas para chegar a alguns pontos é necessário ser específico.
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    - É preciso dominar bem o modelo de jogo que se quer alcançar, mas sabendo que provavelmente ele nunca será alcançado, porque no decorrer do caminho ele sofrerá novas mudanças, é uma utopia.
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    - Se alguém souber o que significa acutilância , por favor, me avise..hehehe...pois o Garganta citou isso e eu não sei o que é, acredito que seja algo com Volume, criação, mas...
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    Abraço
    Luis Esteves
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    REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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    GARGANTA, Júlio; Competência de ensino de jovens futebolistas. Universidade do Porto / Faculdade de Ciência do Desporto e Educação Física. Revista Digital - Ano 8 - www.efdeportes.com - fevereiro 2002. 18 Páginas.

    4 comentários:

    Rodrigo Vicenzi Casarin disse...
    Este comentário foi removido pelo autor.
    Rodrigo Vicenzi Casarin disse...

    Caro Amigo Luis Esteves, parabéns por mais um belo artigo!
    Mas acredito que acutilância, é uma situação aguda; incisivo ou penetrante, ou seja, como o Garganta refere-se, no Modelo Intermediário, ainda há falta de acutilância e no Modelo Avançado os atletas já começam a contruir situações ofensivas mais incisivas e penetrantes.
    Mas velho, como tu colacas com muito astúcia, devemos ter muito cuidado na implantação do modelo de jogo. Eu passo por uma situação parecida com a sua. Temos ideias revolucionarias, queremos alguns padrões comportamentais nos atletas, mas esbarramos na individualidade dos mesmos e em seus “medos” de acreditar nos nossos ideias. Mas é uma questão de hábitos e de troca de paradigamas, isso acaba demorando um pouco, principalmente aqui no Brasil.
    Conversamos
    Abraço
    Rodrigo Vicenzi Casarin

    João Henrique T.L.C disse...

    Muito boa essa abordagem ao Modelo de Jogo. Com esse post saquei a ideia referente ao Modelo de Transição e de Organização, não concordei muito com a divisão mas entendi e respeito seu modo de pensar. Abração!

    Luis Esteves disse...

    Fala professor Rodrigo, obrigado pelo´esclarecimento, realmente se tornou mais fundamentada a acutilância dessa forma, e realmente, em nível intermediário a equipe tem medo de entrar, de ser mais vertical na definição dos lances.

    Professor João
    que bom que foi útil para o entendimento, os modelos são estes na minha opinião, sendo que existiria um terceito, que seria um misto, mas a maioria das equipes se divide nestes dois, e com variantes no meio do jogo lógico, pois vc também verá o Barcelona fazendo gols nas transições.

    Abraço