domingo, 10 de abril de 2011

ELEGÂNCIA SOB PRESSÃO ... O BOM FUTEBOL

"Se é para ser atropelado, que seja então por uma Ferrari."
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Cruyff ao comentar a derrota do FC Barcelona
para o São Paulo FC de Telê Santana
no mundial interclubes


Venho acompanhando e admirando a bastante tempo as colunas e comentários do professor Paulo Roberto Falcão, tanto na ZERO HORA, quanto em seus comentários em jogos e programas esportivos na Globo, além da Rádio.

Partilho a mesma ideia de futebol que Falcão,  a qual ele vem disseminando na mídia brasileira com a autoridade que tem , sobre um futebol diferente,  não desconhecido por nós brasileiros, um Futebol Arte, porém uma Arte Organizada, uma Arte contextualizada, uma arte com lugar para improviso, mas não uma arte improvisada.

Paulo Roberto Falcão foi um jogador de classe, um verdadeiro jogador, e consequentemente hoje é um homem de classe, não o conheço pessoalmente, mas minha impressão é esta, de uma pessoa que sabe valorizar o processo, mais do que o resultado, assim como Guardiola, os dois para mim são muito parecidos, tanto em sua portura como as idéias sobre o jogo de futebol.

Lembrei a pouco tempo um detalhe fundamental: Falcão foi treinado por Telê Santana. Lógico que não quero e nem devo atribuir a ideia de jogo deste grande profissional a apenas um treinador, já que ele também foi treinado pelas lendas Ênio Andrade, Rubens Minelli e Abílio dos Reis, portanto seria um crime dizer que somente Telê influenciou suas ideias sobre o jogo, mas acredito muito que este tenha sido um dos principais mentores de Falcão. Isso nos mostra a importancia das pessoas que surgem nos contextos da nossa vida, iremos ser influenciados e iremos influenciar todos que passarem em nosso caminho.
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Confesso que assisto ansioso o desfecho de mais uma possibilidade de assumir um grande clube, com jogadores capazes de realizar os conceitos que Falcão vem pregando nos meios de comunicação. Vejamos alguns conceitos seus:
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ZERO HORA - DOMINGO, 10 DE ABRIL DE 2011


" Volantão não me dá alegria "

Algumas opiniões expressas pelo técnico em sua coluna diária em ZH nos anos de 2009, 2010 e 2011
TRÊS ATACANTES

26/06/2010

"Foi boa a atuação de Nilmar (...). Seria interessante se Dunga o mantivesse no time contra o Chile, mesmo com o retorno de Robinho. E nem seria ousadia demasiada: várias seleções estão atuando com três atacantes. Principalmente as mais bem sucedidas."

20/11/2010

"O mais importante, porém, é o posicionamento do ataque ( da seleção brasileira ): três homens na frente, com os pontas bem abertos. Este posicionamento obriga a defesa adversária a abrir."

TEORIAS

30/05/2009

"Tenho um pé atrás sobre este tipo de motivação ( com vídeos ). Funciona pontualmente num grande jogo, mas não pode ser usada a todo momento."

25/10/2009

"Iria para o campo com uma alternativa pensada para o caso do adversário sair a frente."

24/06/2010

"Ousadia e inovação são imprescindíveis."

1ª/09/2010

"Se tivesse no lugar do Renato esta noite ( de jogo do Grêmio ), no momento em que as portas do vestiário fossem abertas diria: - Guris entrem lá e se divirtam."

CRIAÇÃO DE JOGADAS

23/03/2011

"Não é possível que equipes de primeira grandeza do futebol brasileiro tenham apenas um jogador capaz de organizar jogadas de ataque. Por que os laterais não armam? Por que os jogadores de outras posições não fazem este trabalho?"

POSICIONAMENTO E COMPACTAÇÃO

12/08/2009

"Não pode haver mais do que 30 metros entre os zagueiros e o centroavante."

2/4/2011

"O segredo é compactar. Se diminuir a distância entre os teus zagueiros e os teus atacantes, o trabalho de todos fica mais fácil para atacar e defender. Jogadores mais próximos evitam buracos entre os setores."

3/4/2011

"(...) É preciso que a equipe se posicione bem em campo e que a defesa não fique muito atrás, para que os jogadores da frente possam efetivamente ocupar espaços e forçar o erro dos adversários. (...) Ninguém precisa de muitos volantes para ter segurança."

DEFESA E MARCAÇÃO

23/1/2009

"Times com volantão não me dão alegria."

8/8/2009

"Não fazer falta é também uma forma de correr menos risco."

"Uma equipe pode muito bem organizar um esquema defensivo resistente apenas com sete jogadores."

26/2/2010

"Gosto de marcador com saída de bola. E, principalmente com visão de jogo."

23/6/2010

"Até admito que um time mais frágil jogue fechado, mas não que renuncie a qualquer possibilidade de atacar."

10/9/2010

"Marcar não é só dar carrinho. Marcar é também cercar o adversário, pressiona-lo para que erre o passe, corres atrás dele para que não avance sem preocupação."

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O PASSADO NO JOGO

Falcão tem uma coisa importante, que pode lhe assegurar o tempo necessário para fazer nascer um futebol de qualidade: o seu passado como jogador e como comentarista. Este passado lhe dá crédito com o público e com a mídia. Este crédito lhe dá tempo, mesmo que inicialmente tenha maus resultados ( e deverá ter) pois esta proposta de jogo, até ser comprada pelos jogadores, leva certo tempo, leva alguns treinos também, e algumas correções, que passado o tempo da desconfiança (esta reduzida pela qualidade do passado do treinador) acaba por chegar no ponto ideal: Grandes apresentações respaldadas por vitórias e títulos.

PROCESSO X RESULTADO

Neste ponto para mim nasce o problema da nossa sociedade, em sua maior parte: A valorização do resultado acima do processo. Me lembra aquela frase do Maquiavel que dizia: "Os fins justificam os meios" , não importa como, mas precisa-se ganhar. Porém esta frase serve também para os que valorizam mais o processo, tudo depende da interpretação.

Ganhar é bom, é melhor do que perder, porém todos ganham e todos perdem, alguns ganham mais, outros menos, mas o importante não é isso, ou pelo menos, vem sendo cada vez menos importante ganhar a qualquer custo.
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O TEMPO

Outra coisa que me preocupa é o tempo. O tempo em sí não existe, mas existe o tempo do contexto, e esse é imprevisível, então alguns treinadores precisam de mais tempo do que outros, e alguns treinadores tem mais tempo em crédito do que outros, isso é uma herança do passado que se tem ou não, dentro de qualquer área. A torcida brasileira, em especial a gaúcha não dá tempo a alguns treinadores, mas neste caso, assim como no caso do Renato Portalupi a coisa é diferente.

O mais importante é: dar tempo para que as ideias do treinador sejam interpretadas de uma forma positiva pelos jogadores, e isso implica em resultados lógico, é fundamental que, para haver crença, na nossa cultura, existe os resultados, mas também é fundamental entender que é necessário dar tempo para que o modelo se desenvolva, nem sempre os componentes de determinado sistema num determinado momento são os suficientes para gerar um sucesso imediato, porém a interação destes componentes irá gerar o surgimento de novos componentes que irão tornar este sistema cada vez mais forte para determinada atividade, aqui no caso o jogo de futebol, o problema sempre é a quebra do processo, eis ai a importancia do tempo.

A NOSSA CULTURA

Outro assunto interessante é a cultura em que estamos inseridos, isso sempre gera discussões interessantes. Se pegarmos as diversas culturas dos povos humanos, e até mesmo de outras espécies veremos que existem contradições nas crenças de valores, as vezes totalmente opostos. Quando determinado elemento vem de uma outra cultura, com outras crenças, ele acaba por vezes sendo testado, se obtem sucesso, suas ideias passam a modificar a cultura local e a tendência é ser copiado. Hoje isso ocorre seguidamente pelo avanço dos meios de comunicação.

Isso no futebol pode ser exemplificado pelo avanço das estruturas de jogo. Quando Herbert Chapman resolveu criar o WM, inicialmente teve empecilhos, mas como conseguiu sucesso, o que ocorreu é que ele acabou modificando toda uma cultura que até então utilizada basicamente o sistema Piramidal. É muito interessante como estas coisas acontecem, o problema hoje, diferente dos tempos de Chapman por exemplo é que vivemos na era da velocidade.

Hoje o melhor é o mais rápido, isso vale para a maior parte dos setores da vida diária, faz parte da filosofia da sociedade moderna em sua maior parte, exatamente pela questão do resultado, queremos chegar logo nele pra ver se foi bom ou ruim o processo, ou seja é uma inversão de valores.

Pego um exemplo da vida diária: o nascimento de uma criança. Quando descobre que está grávida logo a mãe inicia um processo, que contém muitos elementos, dentre eles a ansiedade em ver o filho, tocar nele etc... se houvesse a possibilidade de fazer com que a criança nascesse com uma semana todos fariam isso, porém precisam esperar 9 meses, em média, para que o processo todo de formação seja concluido. É a natureza, as equipes são parecidas, o processo é parecido, quando ela começa é informe, é desnivelada, é desequilibrada, porém, se bem guiado o processo, algum tempo depois ela estará maior, e assim será até chegar no seu auge, e um dia irá acabar também, como todos os processos da vida.

No final das contas é como diz minha amiga Isabel Osório citando o professor Vitor Frade... é a vertigem da pressa. Segundo ela citando Newton, e sua lei na inércia, quanto mais eu acelerar, mais dificuldades tenho em parar.


APRENDENDO COM OS MAIS VELHOS, O ERRO DA JUVENTUDE

Assunto interessante também é o velho e o novo. Antigamente os mais velhos, em outras culturas, eram idolatrados pelos mais novos, o respeito era muito grande, pois os jovens sabiam que a sabedoria estava com os mais velhos, aprendiam através de conversas e observações. Hoje estamos na era dos prodigios, pessoas muito jovens que já nascem sabendo tudo. Temo muito por isso por dois motivos: 1 - Os jovens, e me incluo neste grupo, tem uma tendência grande a ansiedade (conectando a palavras anteriores) e uma tendência a baixa reflexão, talvêz pelo pouco conhecimento sobre as questões, a chamada experiência. 2 - A desvalorização dos mais velhos, hoje raramente se vê pessoas sentadas conversando com os idosos, escutando as histórias, é uma troca de conhecimento que já não se tem mais, ao invêz disso o que as pessoas fazem? compram livros. As vezes o conhecimento esta do lado, mas buscamos outras fontes, sendo que a melhor delas é a de quem viveu o momento. Quando fiz meu trabalho de conclusão de curso, sobre desenvolvimento das estruturas de jogo no futebol, a principal fonte foram os depoimentos das pessoas que viveram as situações. Portanto precisamos valorizar os antigos, não podemos quebrar esta rede da vida, o conhecimento vem dela, vem do empirismo, a ciência nasce daí, é uma tremenda ignorância da juventude querer excluir os mais velhos, pelo contrário, devemos sentar e escutar.
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Quanto ao Falcão, desejo muito boa sorte, ao final desta postagem ele já esta praticamente acertado com o SC Internacional, e inicia seus trabalhos terça-feira. Começa aqui minha torcida pelo seu sucesso, pois sei que se acontecer irá influenciar todo aquele contexto, e por osmose todas as pessoas irão ser contagiadas por esta filosofia de jogo, que é, na minha opinião a mais propicia ao espetáculo do jogo. falcão, um grande abraço e uma última frase: Elegância sob pressão, nada mais que isso.
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  O BOM E VELHO TELÊ SANTANA
ESSE NUNCA DEIXOU DE ACREDITAR
UMA ORAÇÃO AO BOM FUTEBOL

Agradeço ao professor Diego Gomes, grande amigo, que mesmo sem saber que eu estava escrevendo este texto, me enviou este vídeo.

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SITE - GLAUBER CALDAS

Indico aos amigos do blog o site do professor Glauber Caldas, sobre futebol e seus diversos assuntos, de fato um profissional de grande qualidade. Para acessar basta clicar no banner.

Abraço professor
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Grande abraço
Luis Esteves

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