sábado, 31 de julho de 2010

SOBRE O ALTO RENDIMENTO E A FORMAÇÃO

Jogue o Dado

Se você vai tentar, vá com tudo
Senão, nem comece.
Se você vai tentar, vá com tudo

Isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos
e talvez a cabeça.

Vá com tudo.

Isso pode significar ficar sem comer por 3 ou 4 dias
Pode significar passar frio num banco de praça
Pode significar cadeia, menosprezo, insultos, isolamento.

Isolamento é o presente
todos os outros são um teste da sua resistência
de quanto você realmente quer fazer isso.

E você vai fazer

Apesar da rejeição e dos piores infortúnios
E isso será melhor do que qualquer coisa
que você possa imaginar.
Se você vai tentar, vá com tudo.

Não há outro sentimento como esse.
Você ficará sozinho com os deuses
e as noites irão flamejar como fogo.

Faça, Faça, Faça

Vá com tudo, por todos os caminhos
Você cavalgará a vida direto até a gargalhada perfeita
essa é a única boa luta que existe.


Charles Bukowski
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Estava pensando sobre o alto rendimento nas categorias de base. Se é viável ou não ter um alto rendimento em categorias de base, quais os efeitos disso, render muito, desde muito cedo.

E cheguei a algumas conclusões:
 
Existem dois tipos de serviço prestados na base, e eles podem inclusive se misturar, são eles:
 
- O alto rendimento = Equipes de rendimento regular, com alto grau de qualidade e um semi-profissionalismo dos jogadores, normalmente fisicamente bem desenvolvidos em termos maturacionais, e que por ter este desenvolvimento mais avançado (quando não totalmente desenvolvido) podem já, apresentar um alto rendimento, que seria a capacidade do jogador de render muito bem em situações ambientais de diferentes tipos, com alta regularidade. É comum jogadores que vivem este tipo de contexto, renderem muito bem durante 3 ou 6 anos no clube, e nas fases finais de formação (Juvenil e Junior) não obter o mesmo rendimento que tinha nos anos anteriores, isto para mim é muito claro, e nada mais é do que o emparelhamento das diferentes dimensões do jogador perante os adversários, ou seja, quando um jogador extremamente desenvolvido tinha 13 anos, rendia de forma ótima em comparação a adversários que com os mesmos 13 anos tem um desenvolvimento maturacional muito mais baixo, com atrasos de crescimento dentre outros fatores. Em anos posteriores, isso é neutralizado pelo simples crescimento do organismo, ai, aquilo que parecia ser qualidade já não é mais, e o investimento feito pelo clube foi em vão. Situação bem comum esta.
 
- A Formação = Equipes que também podem ser de rendimento, pois quando se compete exige-se certo grau de rendimento, independente da cobrança interne e externa da equipe. Porém, com graus fisiológicos e mentais reduzidos, atletas que não apresentam ainda a regularidade e a capacidade de rendimento nas diferentes dimensões do jogo, pois o seu período de formação ainda esta em andamento, e é totalmente individual, porém dentro de um contexto de modelo e equipe (ou não). É comum na formação jogadores que treinam muito bem, em determinado ambiente e em jogos não conseguem desempenhar o mesmo jogo. Para mim isto também é bem fácil de entender, principalmente quando se joga Formação x Alto Rendimento. É ainda o caso do desenvolvimento do organismo dos jogadores. Um jogador maturado, encontra-se muito mais avançado como ser humano em todos os sentidos, do que um jogador em formação, muitas vezes cronologicamente correta, em termos emocionais e decisionais.
 
Pode porém haver misturas destas duas formas de trabalho. Para mim inclusive o ideal é o alto rendimento formador. Por exemplo:
 
- Alto rendimento formador: É o que ocorre com equipes que tem bases competitivas, porém seguem determinado pensamento orientador, ou seja uma metodologia (que nem sempre é boa, em termos morais). Neste caso, há um caminho e os jogadores independente do seu estágio atual, são enquadrados de acordo com o que fazem hoje e com o que podem fazer no futuro em termos de potencial, porém sem a ideia de acrescentar isso ou aquilo, pois quando se existe esse pensamento , em termos de anos de trabalho, não é necessário fazer acréscimos, o próprio contexto do modelo irá gerar no jogador uma adaptação morfológica. Porém, quando se fala em alto rendimento logo se pensa em pressão, pelo menos eu penso.
 
Mas acredito que, quando se tem determinada linha orientadora, e dentro desta linha, princípios metodologicos, e junto com isso conhecimento sobre o desenvolvimento e aprendizado de crianças e adolescentes, podemos facilmente excluir esta pressão. Ai esta o detalhe do alto rendimento formador, forma-se o jogador rendendo bem, de forma específica a um modelo, porém sem a pressão de ganhar a todo custo, mas sabendo que ganhar é importante, mas acreditando em um tipo de jogo. Quando uma equipe, independente da idade, consegue fazer isso, e consegue repetir isso por diversas vezes, acredito que esteja em um alto rendimento formador. Junto com as vertentes de campo, é tão ou mais importante o lado intelectual e humano do jogador, e isso o ambiente diário também modela, quem vive em pressão, xingamentos, será condicionado a isso e terá sua personalidade moldada a este tipo de comportamento. Porém quem convive com leis morais bem definidas, com constante solicitação e orientação sobre o que é bom e ruim, quem consegue modelar o jogador como ser humano, e não apenas como jogador, este sim é um trabalho de alto rendimento formador.
 
Ninguém cria hábitos em um dia, é preciso muitos dias de orientação pra isso acontecer. A algum tempo lí algo sobre especificidade e especialização precoce, citada então pelo professor Vitor Frade em uma das aulas na Universidade do Porto, e não me lembro o conceito que ele colocou para reproduzir aqui, porém o conceito que acredito ser importante é este. Equipes de Alto rendimento na formação treinam em especificidade precoce, é o que acontece e não gera os traumas que a especialização precoce gera. A diferença é clara, especificidade e especialização são palavras bem diferentes.
 
Quando treino em especificidade precoce, desde cedo, com diferentes graus de complexidade em uma progressão complexa de muitos anos, consigo um jogador muito mais evoluido, pelo simples fator confiança. A repetição constante leva a sistematização, ao hábito e isso com o passar dos anos leva ao expertise. As grandes mentes, em diferentes setores da história da humanidade, dificilmente iniciaram suas trajetórias em fase adulta. Grandes lutadores iniciam suas lutas muito cedo, entre 6 a 8 anos, grandes pianistas idem, grandes jogadores iniciam suas trajetórias no futebol de rua, na escola, nos campos de praça, logo aos 5 , 6 anos.
 
Especialização precoce é a maior negação do princípio da individualidade biológica. Não é possível aceitar que todos os seres humanos são diferentes e que a qualquer momento pode surgir um novo Pelé ou Maradona se logo ao se iniciar um treinamento podamos todas as possibilidades de gerar este comportamento, criando uma espécie de fábrica de jogadores, fazendo tudo igual, sendo que a grande graça esta em quem faz o diferente.
 
Treinar dentro de um modelo de jogo, na base, é identificar, dentro de um contexto de jogo, quem faz o que, e dentro disso, colocar cada um em situação privilegiada, para que ali, dentro da sua complexidade e individualidade, possa gerar tudo o que puder, dentro das suas características. Hoje as pessoas estão privilegiando em excesso o jogo de passes, mas estas mesmas pessoas se perguntadas sobre quem são os melhores jogadores do mundo hoje normalmente respondem Messi, Cristiano Ronaldo.. ou seja, os melhores dribladores. Porém eu, pessoalmente um apaixonado pelo jogo de passes, como o da Espanha por exemplo, não consigo negar que em determinadas zonas e momentos o drible é fundamental, pois é o que transgride o sistema, a estrutura, os mecanismos, é a arte, é o lado mais humano do jogo. O equilíbrio é fundamental, não se pode deixar de lado o 1contra1, que foi o que colocou no mapa da história os melhores jogadores de todos os tempos, caso isso ocorra, o jogo de futebol tem a tendência de se tormar medíocre, pois mesmo em metodologias como a periodização tática, podemos identificar isso, um repúdio ao drible, ao lado individual, tornando todos iguais, todos meros passadores.
 
Grande abraço
Luis Esteves

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