terça-feira, 13 de julho de 2010

O EXATO MOMENTO EM QUE OS PARADIGMAS MUDAM

A história do futebol é impressionante. A cada quatro anos a copa do mundo acontece e com ela surgem as novas (as vezes nem tão novas assim) tendências. A Seleção Espanhola que acaba de se tornar campeã mundial pela primeira vez, coloca a partir de agora um novo paradigma ao futebol moderno.

Muitos terão que tirar os óculos do futebol condutor, do futebol tosco, do futebol sem sentido, baseado ainda apenas na qualidade técnica do jogador sem nenhuma contextualização tática conciênte, futebol este que a muitos anos não existe mais, o futebol jogado apenas com bola.

Este futebol foi muito bonito, em 1958, 1962, hoje ele não existe mais. Holanda e Espanha nos mostraram isso, Além da Alemanha e o próprio Uruguai, que com pouco talento conseguiu chegar onde muitos, muito mais talentosos, gostariam de estar. Quando falo isso me refiro a falta de talento de muitas equipes nos momentos sem a bola, saber pressionar, saber condicionar, saber desarmar, é tão importante quanto saber circular, saber chutar...resumindo, é o complemento, é o saber jogar nos quatro momentos do jogo, não em apenas um ou dois.

Baseada em um Modelo de Jogo claramente definido desde o primeiro jogo, a equipe espanhola conseguiu, na maior parte de seus jogos impor seu modelo, com princípios bem claros, e vencer os seus jogos.

Equipes como Holanda e Alemanha, não conseguiram neutralizar o(s) comportamento(s) espanhol que a bastante tempo já é conhecido. Uma copa defensiva, em que as Organizações Defensivas levaram clara vantagem sobre às Organizações Ofensivas, premia a equipe que para muitos (eu inclusive, junto com a Alemanha nesta copa) apresenta a melhor Organização Ofensiva do mundo, sem falar nas Transições.

Quem acompanha o FC Barcelona não se estranha ao ver os comportamentos que esta equipe apresenta. Comportamentos que já são entranhados à muito tempo, desde a formação de seus jogadores nas categorias de base do clube. Posse e circulação, valorização da posse, Retirada da bola da Zona de pressão, Zona pressionante, dentre outros princípios, foram vistos constantemente nesta copa nos jogos da Espanha.

E melhor que isso, ao perder a estréia para a Suiça, na maior zebra da 1ª fase, a equipe e o treinador mantiveran-se fieis ao seu modelo, e com muita imposição mental reverteram um ambiente desfavorável, em que a maioria das equipes e treinadores mudariam tudo para ganhar o próximo jogo.

Parabéns a Espanha, por ter o futebol mais coletivo do mundo.



Algumas coincidências de um título:


Os 10 jogadores com maior quantidade de passes curtos completados. 7 Espanhois.



Os 10 jogadores com maior quantidade de passes médios completados. 6 Espanhois.



Os 10 jogadores com maior quantidade de lançamentos. 3 Espanhois. Detalhe, 6 jogadores desta lista são goleiros, porém Casillas não esta ai.



Os 12 atletas que tiveram a maior distância percorrida com a posse da bola. 8 Espanhois.



Os 10 atletas que tiveram a maior distência percorrida sem a posse da bola. 1 Espanhol.



Os 14 atletas mais rápidos da copa. Somente 2 estavam na final, e um era reserva, o outro foi vice. Javier Hernandez, o maior atleta da copa!

Agora, quem quiser estabelecer novas médias para os testes físicos, fique a vontade.

Fonte de todas as imagens:

Um grande abraço
Luis Esteves

9 comentários:

Julian Tobar disse...

Muito bom professor. É isso mesmo! Certa vez me recordo que ao término da primeira rodada da Copa das Confederações 2009, fizeram uma estatística e o time que mais havia corrido na primeira rodada havia sido a Nova Zelândia. Detalhe: a Nova Zelândia tomou uma goleada da Espanha, não lembro bem o placar mas foi uns 5 ou 6.
Curioso né? Correr por correr, ou correr certo ? Já diriam os adeptos da musculação, testes físicos, etc. Um dos princípios do treinamento físico diz que o treinamento condiciona o organismo a realizar uma tarefa com menor gasto de energia (economia). Então é isso que eu digo, quanto mais Específico (com E maiusculo) for o treino, maior será a adaptação, maior a economia de energia, pois gera hábitos, que vão para o plano do subconsciente e consequentemente há economia de tempo (vários milisegundos).

O Joaquim Low tecnico da Alemanha falou na imprensa que não conseguiram vence-los pois a Espanha joga de "forma automática". Coincidencia ou Especificidade ????

Abraços Luis. e Ah, mudei meu blog ok? absss

Anônimo disse...

Não está errada a colocação do amigo Julian, porém considero que é um tanto quanto desarticulada. Comparar Nova Zelandia e Espanha em um desporto onde há componentes técnicos e táticos tão importantes quanto o físico é de certo oportunismo...
Fala-se como se o físico fosse o componente menos importante e eleva-se a tática, já vi neste blog mesmo criticas a pensamentos cartesianos, e Julian... você acabou de fazer um! A tática é tão dependente do físico, como o físico é dependente da tática... pare pra pensar e verás que é uma interação sem fim! O mesmo podemos dizer das qualidades técnicas...
Abraços...

Julian Tobar disse...

Com certeza, eu concordo contigo. Não disse que a tática e a organização de jogo independe do físico, muito pelo contrário. Quem não é bem preparado fisicamente hoje, dificilmente joga e isso afetará diretamente a qualidade de jogo da equipe.

Não adianta a equipe ter um Modelo de Jogo muito bem definido, em todos os seus detalhes, os jogadores conhecerem e entenderem isso, dominarem todos os conceitos e saberem fazê-los, serem bons tecnicamente e psicológicamente mas se a variável física estiver fora do contexto competitivo é lógico que esta equipe terá problemas, essa parte afetará o todo pois estão em constante articulação e influência. De modo algum penso que o físico é menos importante que as demais dimensões.

Inclusive o maior erro dos que conhecem e começam a aplicar a periodização tática é ESQUECER e RENEGERAR o componente físico. é um ERRO!

O que eu quis dizer com o meu comentário foi justamente que na forma desportiva o físico não é O MAIS importante quanto julgam sê-lo (apesar de ser importante).

De forma alguma quis isolar a variável física do resto, até porque não penso desta forma, eu digo que apesar de ter corrido mais, a Nova Zelândia tomou uma goleada, porque no futebol não basta correr mais kilometros e mais rápido para vencer, há de ter boa qualidade técnica, imposição mental e acima de tudo organização e conceitos de jogo bem definidos (tambem uma boa dimensao fisica, porém subjulgada a um MdeJ!!!).

Talvez não tenha ficado explícito, até porque eu não escrevi para ser, mas realmente quis dizer que o jogo não é só o componente físico, mas sim a articulação entre esta dimensão com as demais (técnica, psicologica), sendo subjulgada pelo componente tático (pois a tática por si só não existe ela precisa das outras variáveis para se manifestar).

Abraços

Anônimo disse...

Quanta riqueza diante dos meus olhos! Obrigado.

Anônimo disse...

Julia, então a proposta de comentário de nós dois foi idêntica porém desarticulada hehehe Concordo contigo e concordo ainda mais quando dizes que o maior erro dos que começam a utilizar a PT é subjulgar o componente físico... parece que hoje em dia é moda detráta-lo em comparação as outras duas variáveis (técnica e tática), assim comete-se um erro similar ao passado, porém os papéis eram invertidos (componente físico mais elevado do que os outros dois)! Resultados ficam aquém do esperado.
Em minha ótica, e considero uma ótica um tanto quanto próxima do ideal, a exclusão de um implica em resultados negativos nas outras varíaveis, sejam elas quais forem.
Segue o racíocinio, o futebol é um desporto, e como qualquer desporto depende de seus sistemas de produção de energia, de qualidades neuromusculares além da aptidão cardiorespiratória (que é mista ainda por cima)... porém daonde partem impulsos elétricos para a realização de tais tarefas (como por exemplo sprint + conclusão)?? sem dúvida nenhuma é do sistema neuromotor... o treinamento tem como objetivo além de elevar tais componentes técnico-táticos-físicos, também mecanizar tais movimentos transferindo o ínicio da ação da medula espinal (movimentos reflexos) para o cerebelo (automatização dos movimentos, movimentos mais complexos e bem definidos) e em alto nível para o cortex cerebral (onde os movimentos ficarão voluntários-coscientes, por tanto com maior coordenação e especificidade)! Agora o treinamento tanto do sistema de produção de energia, de Q. de força (fundamentais), da automatização e conscientização do movimento deve ser feito como?? De uma forma onde o atleta apenas irá chutar? Ou de um modo que o atleta saiba o contexto em que está inserido?
Uma boa dica, é dar uma olhada na pedagogia humanista-ecológica! Abraços!

Anônimo disse...

Apenas um adendo, em minha pequena visão de preparador, não devemos excluir o não-específico em certos momentos e certas idades!
Por exemplo, o criador deste blog é um ótimo treinador de futebol, e sobretudo formador de jovens atletas... Trabalha com crianças com uma atitude pedagógica excelente.
Pegarei então estas crianças como exemplo, idades pré-púberes e púberes são ideias para o ínicio de TF, Ttécnicos e Ttáticos, pois o SNC e SNperiférico não está totalmente formado, assim sendo o jovem atleta irá adquirir um lastro fisiológico daquilo que fizer... então tanto riqueza de movimentos, quanto experimentar e trabalhar diversas q. físicas (mesmo que estas não estejam ligadas diretamente ao Futebol) é essencial para que se esta criança chegar a ser um atleta, que ela esteja com Q. Físicas mais bem desenvolvidas, uma vez que todas são de certa forma interligadas (NÃO ME VENHAM FALAR QUE RESIST. ANAERÓBIA NAO ESTÁ LIGADA A PRODUÇÃO DE FORÇA, E VICE VERSA!)
O mesmo, digo de um periodo preparatório dos jogadores, onde estes devem adquirir uma base aeróbia, pois a resisntese de ATP-CP intramuscular, e a eliminaçã de lactato e outros metabólitos (CO2 E H+) estão ligadas a um bom aporte mitocondrial, porém a aptidão cardioresp. não é em nenhum momentos uma q. essencial ao desporto. Por isso digo, o inespecifico em certos momentos adquire forma de específico SIM!
Acredito que essas 2 reflexões ficaram um tanto quanto desordenadas, talvez agressivas, mas a crítica que fiz não é em nenhum momento agressiva ou contrária as opiniões deste blog pelo que vejo! Abraço

Luis Esteves disse...

Gostaria de agradecer estes comentários, primeiro ao que foi referido a mim como editor deste blog.

Segundo pela discussão a qual eu concordo. Cometi o erro já de desvalorizar a dimensão física, e em determinadas categorias não se nota a diferenciação atletica, de um bom suporte físico, independente de se ter ou não conciência de um modelo de jogo, dificilmente se verá um sub 10 muito bem e outro muito mal fisicamente, pois nesta idade a dimensão física tem uma menor parcela decisional, os movimentos ainda são lentos, o campo é grande, o espaço é muito maior, são características da idade, além das características fisiológicas da criança, suas limita~ções metabólitas já conhecidas.

Porém, não acredito que possa não haver preocupações com a dimensão física no alto rendimento, isso para mim é mentira. O que pode haver é uma contextualização máxima da dimensão física ao modelo de jogo, ví José Mourinho fazendo diversos tipos de exercícios em forma de circúito entre seus exercícios em espaço reduzido, e para mim esta muito claro que, temos duas formas de adquirir hábitos:

1 - Aquisição física e mental simultânea - hábito específico
2 - Aquisição Mental intercalando com aquisições físicas, ou seja recupera-se um e adquire-se outro, exemplo: mini-jogo 6x6 + 6 ficicamente quem apoia esta recuperando, porém ainda assim adquire hábitos, quem esta dentro do 6x6 adquire hábitos somáticos, fisicos e mentais, e se, após isso, eu quiser fazer um pequeno circuito com 4 ou 6 saltos, um deslocamento e um sprint de 3 metros, recupero mentalemnte, porém adquiro o hábito físico, afinal, são movimentos do jogo.

O que nos queremos não é tirar este físico, queremos apenas que este fisico seja um suporte cinéstésico para o modelo de jogo, renegar o físico é como ja foi dito, analitico, e não reconhece a visão sist~emica e ecológica que suporta a metodologia, isso é de fato comum, e acredito que todos nós ao lermos Porquê tantas vitórias passamos a acreditar que não precisa mais haver nenhuma preocupação com esta dimensão.

Muito obrigado aos professores pelas excelêntes colocações.

Anônimo disse...

Opa, bela discussão essa... como disse acima e volto agora a isto, acho que devemos tomar cuidados quando aplicamos métodos novos em nosso trabalho. Veja bem, não estou dizendo que não devemos aplicar o novo, muito pelo contrário apóio o novo desde que baseado em evidências! Apenas acho que não podemos renegar ou excluir tudo aquilo que grandes cientistas já descobriram e comprovaram, o que devemos realizar é um 'ajuntamento' (palavra bela ein??)!
Cito um exemplo fora do futebol, mas talvez não tão fora para apoiar minha tese: Tem-se discorrido muito ultimamente sobre qual trabalho cardiorrespiratório é o mais eficente na luta contra o emagrecimento, artigos cientificos têm mostrado que trabalhos anaeróbios são tão válidos quanto aeróbios para diminuição do %G. Então o que vemos como prática de muitos profissionais? Aplicação de métodos anaeróbios, esquendo que muitos autores já comprovaram lipólise em situação de 50 a 65% de VO2 Máx.
Em suma, não devemos negar o passado e sim partir do ponto em que se parou.
Quanto as dimensões que compõe uma preparação de uma equipe, reafirmo mais uma vez: todas dimensões são altamente dependentes e essenciais, talvez diria que a prep mental é mais do que as outras, mas sem físico não há técnica que impede a tática e VICE VERSA!
Abraços Gilson

Gustavo Fernandes Barbosa disse...

Parabéns pelo blog.
Ótimos textos e muito bons comentários.

Grande Abraço.