segunda-feira, 29 de agosto de 2011

II SEMINÁRIO DE FUTEBOL

Repetindo:

"Quem só teoriza não sabe
Quem só pratica repete
O saber nasce da conjugação
da teoria e da prática."

Manuel Sérgio


Parabenizo à todos os organizadores do ll seminário que ocorreu no fim desta semana no Grêmio FBPA. Pela qualidade e pela organização. Em especial os professores Thiago Duarte, Marcelo Koslowsky e Cícero Moraes.

Quanto aos temas, parabenizo os palestrantes espanhois, principalmente relativo ao assunto do Modelo de Jogo do Barcelona, do qual gosto muito e pude acrescentar muito na minha percepção sobre este fenômeno.

Também parabenizo os professores João Paulo Medina, que de fato é uma verdadeira lenda no nosso futebol, pela apresentação e qualidade com que passou seus conhecimentos, e em especial quero dar destaque ao professor Alberto Monteiro, pela grande qualidade do assunto que abordou, da forma como abordou e pela importância que vejo o mesmo ter em termos do contexto do futebol, mas também em coisas acima do jogo, como a questão dos valores, que vai a um encontro muito próximo da problemática que postarei abaixo. Os valores. Porém os valores irão depender de questões mais complexas que estão acima, numa espécie de efeito cascata que provocam. Questões estas que são a Percepção e a Reflexão.

E para finalizar e contextualizar meus comentários abaixo, que na verdade não são meus, e sim citações de outras pessoas, mas que vão ao encontro do que gostaria de salientar, quero parabenizar o professor Nuno Amieiro, pela profundidade que abordou a Periodização Tática, que de fato provoca muitos atritos e divergências, e para mim tudo vem de uma questão que é relativamente simples: Medo.

O medo do novo, o medo de não conseguir, de não aprender, de errar, o medo de refletir, medo de reorganizar, de Mudar. É compreensível este medo, e é pertinentes aqui dizer que este medo afasta muitas pessoas desta concepção metodológica.

Mas a raiz deste medo para mim não é esta questão metodológica, mas sim uma questão que abordei no post anterior, a questão da matriz filosófica digamos assim, a forma como se percebem os fenômenos. E ai, não adianta querer entender nada complexo, em qualquer área que seja, pois não haverá contexto mental para que isso seja entendido, para que algum entendimento aconteça (para alguns com menor resiliência), ou um "estranhar" positivo, para um futuro "entranhar" é necessário ter um pano de fundo do que sustenta esta metodologia, se não o que acontece é que este "estranhar" acaba sendo negativo, e passa a nem surgir o futuro "entranhar".
Vejamos:

" O Aspecto mais interessante da visão de mundo de uma sociedade é que os individuos que aderem a ela, na maior parte , são inconsciêntes de como ela afeta o seu modo de fazerem as coisas, de perceberem a realidade em torno deles. uma visão de mundo funciona na medida em que é tão internalizada, desde a infância, que permanece não questionada. Somos tão presosno nosso paradigma, que todos os outros modos de organizar nossos pensamentos parecem totalmente inaceitáveis."

Maria José Esteves de Vasconcellos - Pensamento Sistêmico: O novo paradigma da Ciência - 8ª Edição - 2009


Luis Esteves: O que é o Modelo de Jogo na sua Visão?

Jorge Maciel: essa é uma noção central para quem quer perceber o que é a Periodização Táctica. Aliás por norma há uma associação quase directa, por parte da generalidade das pessoas, entre a Periodização Táctica e a designação Modelo de Jogo. Contudo, penso não haver na generalidade das vezes uma correcta apreensão daquilo que representa e é o Modelo de Jogo para a Periodização Táctica. Penso mesmo que há uma banalização e consequente deturpar do conceito. Confunde-se muitas vezes Modelo de Jogo com a concepção de jogo, a organização estrutural da equipa, com o dito sistema de jogo e com outros aspectos. O principal motivo para tais equívocos resulta das pessoas, e também as instituições, estarem ainda muito presas ao convencionalismo científico. Mark Twain dizia que “para aqueles que têm apenas um martelo como ferramenta todos os problemas são pregos”, e é precisamente esse o problema que se coloca a quem quer seguir o caminho da Periodização Táctica, ou seja o caminho da complexidade. Por isso mesmo tomando-se tal decisão, tem de se ter consciência que se a nossa ferramenta é a complexidade então todos os problemas são complexos e requerem tratamento complexo. Portanto, quando nos referimos à noção de Modelo de Jogo cortamos com a ideia tradicional que resulta da modelação matemática, linear. Referimo-nos antes a uma concepção bem mais complexa e dinâmica da ideia de Modelo, o que implica a necessidade de conceber e tentar perceber a complexa noção de Modelo de Jogo de acordo com a ideia de Metamodelação ou Modelação Sistémica.

Luis Esteves - Entrevista com Jorge Maciel


Acho pertinente dizer que, ao incitar esta abertura de visão, digamos assim, não quero que amanha os jogadores, ou os diretores estejam falando sobre complexidade, sistemas complexos, pensamento complexo, nada disso, mas cabe a nós criarmos contextos para que os comportamentos sejam guiados para este lado.

Inclusive isso para mim fez parte da palestra do professor Alberto Monteiro, que entrou na questão dos valores e do maior câncer da sociedade atual para mim, que é a questão da relação processo-x-resultado, no futebol (e não só no futebol), mas a luz da filosofia e do pensamento de pessoas históricamente ligadas  a esta área, a quando se trás estas coisas para o futebol, grande parte das pessoas "do campo" tendem a entender isso como um maléfico "teorismo", chamando estas pessoas de "teóricos", o que para mim não existe.

Esta visão, este conhecimento adquirido também para mim foi colocado, em outras palavras pelo professor João Paulo Medina, no quadro em que descreveu um tipo de sequência de aprendizado, digamos assim, em que Dados nos levam a Informações, que ao serem absorvidas de forma verdadeira, nos levam a Conhecimento, e este consequentemente a reflexões que passam a ser Sabedoria, dentro da minha lógica de interpretação do que foi dito.

 Porém, acho que ter essa visão ajudaria muito os treinadores, preparadores, auxiliares, preparadores de goleiros, gerentes, que por gerirem o processo da equipe, possam ter como ferramenta principal uma forma muito mais coerente de ver a realidade do jogo de futebol, e todos os fenômenos complexos.

Grande abraço
Luis Esteves

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