terça-feira, 7 de junho de 2011

EXERCÍCIO - MANUTENÇÃO DO BLOCO


"Se se pudesse estabelecer uma lista de mandamentos sobre o futebol, um dos primeiros deveria dizer algo como: "A pressão de exercer-se sobre a bola, não sobre o jogador." "
Johan Cruyff - 2002



Um problema que surge com frequência em inicio de trabalhos é a manutenção da proximidade das linhas das equipes, ou seja, um bloco próximo. O que acontece é que quando consegue-se sair de uma zona de pressão, em situações verticais por exemplo, a linha defensiva demora para sair e acaba gerando espaços entre linhas, que dificultam futuramente tanto as ações ofensivas (circulação, retirada da pressão, superioridade na zona da bola, dentre outras) e as ações defensivas (pressão imediata na perda da bola, zona pressionante, etc...) pois não existe proximidade, e as relações entre jogadores ficam muito comprometidas.
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Este é um hábito muito forte principalmente nos setores defensivos, que tem pouca participação nas ações de ataque, e acabam ficando perto da goleira, para um futuro contra-ataque, não considerando sua importância (goleiros e zagueiros) na construção de jogadas de gol, e na manutenção da articulação dos princípios de organização ofensiva, o que acaba comprometendo a circulação da bola tanto em profundidade quanto em largura, e consequentemente a manutenção da posse da bola.
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A orígem deste comportamento para mim tem como fonte a forma de pressão que se utiliza. E é de costume ver as equipes pressionando os jogadores e não a bola, e a sua respectiva zona. Vejamos alguns conceitos sobre pressão e sobre a pressão me bola e no jogador:
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Pressão = Forma como irá se comportar perante um adversário em situações de 1x1, portanto é uma ação individual, isso ocorre tanto quando se pressiona o jogador, quanto a bola. Tem como objetivo desarmar, fazer errar ou acelerar o processo de ataque, tentando recuperar a bola.
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Pressing ou zona pressionante = Ação coletiva de pressão em que juntamente com o jogador que tem a bola, a equipe se coloca de forma pressionante, tentando evitar a retirada da bola de determinada zona, estabelecer algum erro, forçar situações para recuperar a bola o mais rápido possível. Existem algumas variantes, inclusive a própria seleção holandesa de 1974 utilizava um pressing individual por setor na maior parte do tempo, do que um pressing zonal, portanto ainda assim havia uma modelação sobre o adversário.
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Vejamos a diferença entre fazer este pressing sobre a bola e sobre o jogador:
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Ao pressionar o jogador (os jogadores da equipe quando esta tem a bola, o famoso encaixe) temos o seguinte problema:
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- Nos modelamos a eles e consequentemente ficaremos abertos, pois as equipes que tem a bola tendem a abrir no campo, se fizermos uma pressão sobre o jogador, por setor, teremos que abrir também.
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- Nos modelando ao adversário seremos atraidos para zonas favoráveis a ele e isso irá gerar uma abertura de espaço que será futuramente explorada por outros jogadores.
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- Parece ser mais fácil pois não é necessário grande percepção, basta igualar numericamente por exemplo: 4 no meio para 4, volante com meia, meia com volante. Divide-se a responsabilidade e consequentemente a "culpa" em lances em que determinado jogador estava sem pressão.
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A pressão sobre a bola permite que:
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- Crie-se superioridade na zona da bola;
- Permaneça com a equipe organizada em momento defensivo;
- Mantenha os espaços internos do campo protegidos;
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Parece ser mais dificil pois alguns jogadores estarão "livres". Lógico, se não houver pressão sobre a "bola" existe tempo para tomada de decisão, se não houver dobras existe desequilíbrios quando acontecerem lances em que o jogador da pressão foi superado, o adversário levará vantagem pois poderá retirar a bola da pressão, poderá dar assistências ou ter ações que prejudiquem a nossa equipe, porém isso pode acontecer em qualquer tipo de sistema defensivo, é preciso que a articulação do princípio seja completa.
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Consequentemente a equipe quando pressiona a bola, tende a sair junta e quando faz a defesa costuma sair em "linha" o que muitas vezes provoca a crítica sobre a "linha burra" que acaba gerando a possibilidade de jogadores adversários saírem na cara do gol sem adversários, pois em um único lançamento pode-se ultrapassar todos os defensores caso estes estejam "em linha".
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“(...) alguns consideram que o fora de jogo prejudica as equipas mais ofensivas (...). Pessoalmente, a regra do fora de jogo nunca me pareceu um obstáculo ou um instrumento defensivo. Pelo contrário, considero que se trata de uma arma ofensiva, pela simples razão de que te obriga a juntar as linhas da equipa e isso facilita o movimento da bola (...).”

Johan Cruyff
2002
A LINHA DE IMPEDIMENTO
A saída da defesa para esta manutenção do bloco é chamada de "linha de impedimento" o que de fato acontece, mas este não é o principal propósito, é na verdade uma consequência da articulação de sentido do princípio da Posse e Circulação.

O objetivo é exatamente o de manter a equipe próxima no momento da transição ofensiva, mas isso não vale apenas para a defesa, mas também para o ataque em momentos de transição defensiva e organização defensiva. Ao iniciar este processo de saída é aconselhável que a "linha" sirva como estrutura pois dá uma garantia a todos os defensores de que não haverá alguém dando condições de jogo a um jogador mais adiantado com esta postura alta, o que costuma acontecer, e isso exige grande concentração e comunicação, assim como inteligência, o que torna a linha de impedimento burra não é a linha, e sim quem aplica a mesma, principamente sem treinos congruêntes a isso.

Em 1974 Rinus Michels já usava a linha de impedimento, mas sem se preocupar com isso, ela acontecia, mas era na verdade um sub-princípio da pressão que se exercia sobre a bola. Minelli também fez isso no Internacional da década de 70 em que a manutenção da linha era coordenada pelo Figueiroa.
Acho pertinente situar esta "linha". Podemos entender ela como esta estrutura que permite com que a defesa saia em segurança, sem a dúvida de que alguém do setor ficou dando condições, ou podemos entender ela como uma estrutura estática que permite que, com uma simples ultrapassagem todos os jogadores já estejam fora do lance, no setor de defesa, sobrando apenas o goleiro. Então eu vejo dois momentos distintos de aplicação desta linha:


- Na transição ofensiva;
- Na transição defensiva;

Na imagem acima percebemos a linha alta do FC Barcelona em um momento em que houve a superação de um jogador no momento defensivo, o que acaba gerando um desequilíbrio. Neste momento a manutenção da linha pode ser prejudicial, pois certamente uma equipe treinada irá aproveitar a profundidade do campo e jogará ali, como ocorreu neste momento pela Internazionale de Milão.

Neste momento a linha pode se desfazer e a "sobra" torna-se fora da linha, tentando ganhar espaço num futuro lançamento, ou seja, tentar chegar antes, cerca de 2 ou 3 metros de vantagem.

A diferença está em ter ou não a bola, se temos não corremos risco e se não temos, ai, precisamos nos adaptar ao que o adversário nos proporciona em determinada situação. Então a linha de impedimento ao ser usada em momentos de transição ofensiva é totalmente benéfica pois faz parte do processo de manutenção equilibrada do bloco, já quando o adversário tem a bola, para fazer a manutenção desta linha e ser eficiente precisamos perceber se o adversário tem:

- Pressão e condicionamento no homem da bola;
- Liberdade para o homem da bola;

 A verificação da altura desta linha para ocorrer o impedimento varia de acordo com o lance, se há ou não há pressão sobre o homem da bola, se há, manten-se a linha alta, exatamente para haver dobras atrás do homem da pressão na zona da bola, se não há deve haver um retorno visando a profundidade dos lançamentos nas costas da linha, juntamente com o condicionamento de algum defensor mais próximo do lance. Este timing de ficar ou voltar depende da percepção espacial e gestual do adversario e deve ser treinado para melhorar a tomada de decisão neste instante do jogo.


O exercício abaixo propôe a manutenção do bloco, alto e este timing de retorno, quando não há pressão.


Descrição do exercício:

Duas equipes se confrontam em um campo de espaço + ou - 50 x 40 dividido ao meio em que cada equipe tem em seu campo a superioridade de 8 jogadores contra 6.

O objetivo é marcar o gol na transição ofensiva, porém com a condicionante de que para finalizar todos os jogadores já devem estar no campo de ataque. Dificilmente o gol sairá de forma mais rápida, o tempo de saída da zaga e o tempo de chegada da pressão serão mais ou menos iguais, porém o objetivo principal é exatamente:

- Manutenção do bloco próximo na transição, para se caso não finalize inicie um ataque organizado com todos os setores inclusive o goleiro.

- Percepção da linha sobre o lance, para efetuar o retorno no momento da transição defensiva, baseado em haver ou não pressão no homem da bola.

O único jogador que pode jogar fora da delimitação do campo é o goleiro. Este tem papel fundamental na organização defensiva da última linha e na comunicação com a saída do bloco, e até mesmo o aviso da ocupação completa do campo do adversário para que se possa finalizar. Com a bola também tem papel fundamental no inicio da construção do ataque, e como referência de retirada da pressão dos zagueiros e laterais.

Grande Abraço
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Luis Esteves
CREF: 015116-G/RS

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