(Jorge Valdano)
Campos 2007 também cita:
"Exercitamos o nosso Modelo de Jogo, exercitamos os nossos princípios e sub-princípios de jogo, adaptamos os jogadores a idéias comuns a todos, de forma a estabelecer a mesma linguagem comportamental. Trabalhamos exclusivamente as situações de jogo que me interessam, fazemos a sua distribuição semanal de acordo com a nossa lógica de recuperação, treino e competição, progressividade e alternância. Criamos hábitos com vista à manutenção da forma desportiva da equipa, que se traduz por um frequente «jogar bem»" (Mourinho, 2005) citado por (CAMPOS,2007, P.07).
Ou seja, só é possível criar a cultura de jogo prevista pela aquisição de comportamentos que a Periodização Tática prevê, se houver um modelo de jogo bem definido,que guie todo o processo de treinamento. Ou seja: Para onde vamos??
"A pertinência desta questão parece-nos fundamental para desenvolver um processo direccionado para um determinado «jogar» ou seja, para um processo Intencional. A partir dele criam-se um conjunto de referências que definem a organização da equipa e jogadores nos vários momentos de jogo. Deste modo, o modelo orienta o processo para um jogar concreto através dos princípios colectivos e individuais em função do que é pretendido. Neste sentido, trata-se de desenvolver um jogar Específico e não um jogar qualquer." (GOMES, 2006, p.28)
A COMPOSIÇÃO DO MODELO DE JOGO:
Como já citado acima, o modelo de jogo inevitavelmente será composto por momentos, independente do modelo, serão, segundo Gomes 2006:
ORGANIZAÇÃO OFENSIVA
TRANSIÇÃO DEFENSIVA (ATAQUE - DEFESA)
ORGANIZAÇÃO DEFENSIVA
TRANSIÇÃO OFENSIVA (DEFESA - ATAQUE)
Guilherme Oliveira, na época treinador do sub-20 do FC Porto cita em Gomes 2006:
"De uma forma simples, que isso é um bocado complicado, pretendo que seja uma equipa de posse de bola, mas com uma posse de bola com objectivo de desorganizar a estrutura defensiva adversária. Ou seja, é uma posse de bola que pretende ser objectiva e inteligente para conseguir resolver os problemasque a outra equipa em termos defensivos nos vai colocando e objectiva no sentido de quando aparece a desorganização da equipa adversária, nós podermos aproveitar essa mesma desorganização. Esse aproveitamento procura a desorganização através da circulação de bola, de posse de bola. Em termos de transição ataque - defesa é uma equipa que procura ser muito decidida na transição. Nós perdemos a posse de bola e procuramos logo ganhar a posse de bola e fechar a equipa logo de imediato para que se não conseguirmos ganhar a posse da bola, quando entrarmos em organização defensiva, já estarmos fechados, já estarmos compactos. Normalmente todas as equipas que jogam contra nós ou a grande parte das equipas que jogam contra nós, jogam fundamentalmente para aproveitar esse momento para sair em contra-ataque. E por isso, neste momento treinamos muito para não permitir que esse contra-ataque seja feito pelas equipas contrárias, sermos muito agressivos quando perdemos a posse da bola para não permitir esse contra-ataque. Se entrarmos em organização defensiva, somos uma equipa que defendemos à zona. E aquilo que procuramos em organização defensiva é fazer com que a equipa adversária jogue em função daquilo que nós queremos. Quer dizer, nós sem posse de bola tentarmos mandar, direccionar a outra equipa. Se quisermos que a jogue longe, pressionamos mais à frente para ganhar a bola em determinados momentos. Se quisermos que a equipa jogue mais perto, deixamos a equipa subir para depois, estrategicamente em determinadas zonas ganhar a posse de bola. Por isso, tentamos mandar na equipa adversária mesmo sem posse da bola. Somos uma equipa que defendemos à zona e tenta ser o mais agressiva possível quer dizer, não está à espera do erro do adversário mas tenta provocar o erro ao adversário para ganhar a posse de bola. Em transição defesa-ataque somos uma equipa que fundamentalmente queremos ficar com a bola ou seja, não privilegiamos o contra-ataque, privilegiamos ficar com a bola. Se for possível dar profundidade em segurança, por isso, o contra-ataque com segurança nós fazemo-lo. Se não for possível, nós queremos ficar com a bola e iniciar o processo ofensivo. Não gostamos de entrar em jogos em que as transições sejam constantes, de perde- ganha porque é um jogo quase de «flippers» e não gostamos. Gostamos de mandar mais no jogo porque num jogo de transições ninguém manda no jogo. Nós gostamos de ficar com a bola e por isso, se der para dar profundidade em segurança, damos. Se não der, ficamos com a bola e jogamos. Estes são os grandes princípios e depois há muitos sub-princípios que se articulam juntamente com estes. "(GOMES, 2006, Anexo1 XVI, XVII).
Dentro destes momentos, existem Princípios (Grandes), Sub-Princípios, Sub-Princípios de Sub-Princípios, os quais eu nomeei Micro-Princípios, por representarem uma importância menor na hierarquia do Modelo de jogo.
HIERARQUIA DOS PRINCÍPIOS:
MOMENTO:
PRINCÍPIO
SUB-PRINCÍPIO
SUB-PRINCÍPIO DE SUB-PRINCÍPIO (MICRO-PRINCÍPIO)
"A tomada de decisão não é algo aleatório ou seja, apesar das particularidades do contexto, o jogador é sobrecondicionado a decidir em função do projecto de jogo da equipa e portanto, dos seus princípios. Assim, o modelo de jogo permite condicionar as escolhas dos jogadores para um padrão de possibilidades ou seja, orienta as decisões dos jogadores ". (GOMES,2006p.28)
EXEMPLO SIMPLES DE UM PRINCÍPIO HIERARQUIZADO EM UM MOMENTO:
"os princípios são bases comuns para que os jogadores "falem" a mesma língua, permitindo exprimirem-se num estilo diferente" (Franz cit. por Castelo, 1994, p. 155).
"os princípios são as condições a respeitar e os elementos a tomar em consideração para que o comportamento seja eficaz" (Grehaigne cit. por Castelo, 1994, p. 155).
"A propósito da definição de princípios de jogo, Guilherme Oliveira (2006) opina que o princípio é o início de um comportamento que um treinador quer que a equipa assuma em termos colectivos e os jogadores em termos individuais. Importa assim dissecar que mecanismos estarão eventualmente por detrás deste potenciamento de determinados comportamentos." (CAMPOS,2007, p.21).
Guilherme Oliveira (Gomes,2006.p.Anexo 1XVII) cita:
"Não, os princípios não assumem todos a mesma importância. Os subprincípios estão subjugados aos grandes princípios e por isso, há uma hierarquização de princípios. Mas somos nós que criamos a hierarquia desses princípios e sub-princípios, dando-lhe uma configuração própria. Se nós quiséssemos que determinados princípios se sobrepusessem a outros, dava um jogo completamente diferente e temos de ter essa consciência. Por isso, num processo de treino há sempre princípios que se sobrepõem a outros. Agora uma coisa muito importante é a interacção desses mesmos princípios. Eles devem estar todos relacionados entre si porque estando interrelacionados entre si, não pode haver princípios que não consigam interagir com outros."
Dentro do proposto acima, chego à conclusão que, para haver uma periodizaçao ideal é necessário ter um modelo de jogo, e a partir daí criar exercícios congruentes ao mesmo, gerando na equipe uma cultura sistemático-complexa de comportamentos, muitas vezes inconscientes, proporcionando ao jogador direcionar a concentração à dimensão mais complexa do jogo, que é a dimensão tática. Portanto o treinamento, a partir das colocações relatadas só será específico, se retratar o modelo de jogo empregado a equipe, e é tão importante quanto ter um modelo, hierarquiza-lo de forma que os jogadores possam entender e realizar os princípios e sub-princípios propostos pelo modelo.
Luis Esteves
Treinador de Futebol
la_futeboll@hotmail.com
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OLIVEIRA, Bruno; AMIEIRO, Nuno; RESENDE, Nuno; BARRETO, Ricardo; Mourinho: Porque tantas vitórias? Editora:Gradiva, Lisboa. 2006. 223p.
GOMES, Marisa Silva; Do Pé como Técnica ao Pensamento Técnico dos Pés dentro da Caixa Preta da Periodização Táctica - Um estudo de caso - Monografia de Licenciatura apresentada na Faculdade de Desporto da UP - Porto. 2006, 111 p.
CASTELO, Jorge. Futebol modelo técnico-táctico do jogo: identificação e caracterização das grandes tendências evolutivas das equipas de rendimento superior.FMH, Lisboa. 1994.
CAMPOS, Carlos César Araújo. A Singularidade da Intervenção do Treinador como a sua«Impressão Digital» na… Justificação da Periodização Táctica como uma «fenomenotécnica». Monografia de Licenciatura apresentada na Faculdade de Desporto da UP - Porto. 2007, 102.p.
2 comentários:
Excelente post!!! Realmente parabéns!!!!
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