quinta-feira, 15 de setembro de 2011

CONVERSAS DE FUTEBOL - JORGE MACIEL

Apresento uma entrevista que realizei junto ao professor Jorge Maciel, que é uma das referências atuais no que diz respeito a Periodização Tática. Referência pelo contato direto com o professor Vitor Frade e pelo conhecimento que tem sobre o assunto, que pode ser conferido em seu livro citado abaixo, e por sua vivência de campo.

A entrevista será postada em 3 partes (pois é extensa tendo no total 50 questões), da forma como foi feita. Quando a realizei, embora tenha me concentrado bastante para formular perguntas que eu acreditava e acredito serem pertinentes as dúvidas de quem segue ou quer seguir este caminho, percebi depois que faltam ainda alguns sub-temas que são interessantes e que gostaria de em breve publicar, vamos trabalhar nisso. A ideia central sempre foi de tentar esclarecer a interpretação de todos que não tem o contato direto com estas pessoas.

Enfim, a entrevista foi respondida pelo professor Jorge Maciel, e corrigida pelo professor Vitor Frade, portanto o teor é fiel a raiz da Periodização Tática. Mais uma vez agradeço ao Jorge Maciel pela disponibilidade em disseminar a ideia sobre este tema tão apaixonante e que hoje de fato é uma febre mundial, e tem provocado muitos atritos, e a orígem disso pode ser exatamente interpretações erradas. Desde já peço desculpas pela minha ignorância e repetitividade em alguma questão feita, o documento foi feito por completo, entregue, repondido e devolvido, o que dificulta pequenas questões sobre dúvidas que surgem em algumas respostas, porém o próprio Jorge se disponibilizou a responder alguma dúvida que vier a surgir.
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Jorge Maciel

METODOLOGIA, TREINO E IDEIAS SOBRE FUTEBOL.


• Licenciatura de Desporto, na Universidade do Porto (FADE-UP) - Opção de Futebol concluída em 2008.

• Ligação profissional ao futebol no desempenho do cargo de treinador da formação em vários clubes: Gil Vicente Futebol Clube, Academia de Futebol Bragafut, FC Porto – Dragon Force.

• Actual membro da equipa técnica de Baltemar Brito no Al Dhafra Club – Abu Dhabi (Emirados Arabes Unidos), com quem também trabalhou no Al Ittihad Tripoli (hexacampeão da Líbia) até fevereiro passado, data em que tiveram que abandonar o país devido a problemas sociais e político naquele país.

• Autor do livro “Não o deixes Matar. O bom Futebol e quem o joga. Pelo Futebol adentro não é perda de tempo”. Livro que é a adaptação da tese de licenciatura, classificada com 20 valores na FADE-UP.





QUESTÕES

Luis Esteves: Jorge, primeiramente gostaria de lhe agradecer a disponibilidade em compartilhar conosco seus conhecimentos sobre o futebol e os diversos temas que compõem o jogo, não tenho dúvida de que suas palavras serão de grande valia para o desenvolvimento metodológico do futebol, faço minhas as palavras do Nuno Amieiro no seu livro sobre a defesa à zona, não discutiremos pessoas aqui, somente ideias.


Vamos às questões:

1. Luis Esteves: Na sua opinião, o que é a Periodização Tática, e porque usa-la como metodologia de treino?

Jorge Maciel: A Periodização Táctica é uma metodologia de treino de futebol desenvolvida pelo Professor Vítor Frade que apresenta Princípios Metodológicos próprios e que concebe o processo de treino como um processo de EnsinoAprendizagem. Trata-se de uma metodologia cujo propósito fundamental passa pela aquisição de uma forma de jogar servindo-se para tal de uma lógica diferente da que convencionalmente se adopta para o futebol. Também por esse motivo tem Princípios Metodológicos próprios, que rompem com os que habitualmente vigoram no treino de futebol. Para mim, é a forma de treinar que mais se ajusta ao fenómeno em questão porque é aquela que lhe reconhecendo a essência, organizativa, colectiva, intencionalizada e complexa, procura desenvolver e fazer evoluir uma forma de jogar tendo em conta tais aspectos. Daí que entre as muitas vantagens que apresenta, uma delas passe pela não perda de tempo com aspectos acessórios.

No entanto, um aspecto que penso ser muito importante para se perceber o que é de facto a Periodização Táctica, passa pela necessidade de compreender, convenientemente os termos que compõem tal designação. Trata-se de facto de uma periodização, uma vez que há necessidade de distribuir temporalmente, ainda que não de forma linear, a aquisição de um determinado jogar. Táctica, porque tal designação para nós assume um entendimento bem mais profundo que aquele que por norma dela se tem. Entendemos a Táctica como sendo uma Supradimensão, que se assume como modeladora de todo o processo de treino. E entende-se por Táctica uma realidade - um jogar – dinâmica e complexa que se manifesta como interindependência organizacional intencionalizada. Preocupada com tal propósito a Periodização Táctica reconhecendo que o jogar é uma realidade a construir e em permanente construção tem como grande pretensão fazer emergir de tal processo essa Táctica, isto é, uma intencionalidade colectiva partilhada e intencionalizada, a qual ao manifestar-se de tal forma e com regularidade se revela como uma emergência assumida como que um aspecto cultural por parte daqueles que a partilham. Mas para que tal seja possível torna-se fundamental que o processo permita o desenvolvimento concomitante, ou seja, simultâneo desse saber fazer com o saber sobre esse saber fazer, pois somente desse modo se observa que em cada indivíduo que compõe aquele grupo, equipa, se deu a InCorporAcção desse jogar. Uma aquisição individual feita tendo por base referenciais e propósitos colectivos que ao se manifestarem de forma colectiva, coordenada e sincronizada revelam uma verdadeira cultura específica, visto que o que manifestam é parte de cada um e de todos ao mesmo tempo. Estando estabelecida a fusão entre aquela que é a pretensão, a Intenção Prévia, e aquilo que é de facto manifesto, a Intenção em Acto. A busca de tal forma sublime de expressão colectiva, permite que um grupo considerável de indivíduos, sobrederteminados por um determinado quadro de valores, pense em função da mesma coisa ao mesmo tempo.

Mas tornar tal grau de mestria concretizável não é fácil e muito menos simples. Daí que a Periodização Táctica tendo tais pretensões, diferentes das comummente referidas pelas metodologias do treino, tenha igualmente pressupostos transgressores, que passam desde logo pela necessidade de conceber o processo como uma realidade dinâmica e complexa, pela necessidade de conhecer o Ser que joga – com a particularidade de se tratar de uma realidade em que o Homem mais do que agir se vê obrigado a interagir, o que implica por sua vez dar importância não somente às estruturas efectoras do movimento mas também às que o comandam e controlam. Implica portanto conceber-se o Corpo como uma realidade inteligente. Outro pressuposto fundamental passa por reconhecer alguns traços caracterizadores da modalidade, nomeadamente a sua natureza complexa, competitiva o que implica que o treino respeite a matriz da competição, e mais precisamente do que se deseja em competição em termos gerais. Temos ainda que reconhecer que outro aspecto identitário do fenómeno é a sua pluralidade, o que nos leva a ter de tomar opções no sentido de adoptarmos uma concepção de jogo, a qual deverá ser vivenciada e adquirida tendo por base os Princípios Metodológicos da Periodização Táctica em contextos de prazer e paixão, pois está mais do que provado que o desprazer é contraproducente quando nos referimos a processos de EnsinoAprendizagem.

Face a tais pretensões e pressupostos, claramente transgressores, depreende-se que a sustentabilidade científica que existe, apesar de muitos dizerem que não e de intencionalmente a ignorarem, é também ela marginal e marginalizada. A Periodização Táctica, entendo ser a metodologia mais ajustada para o futebol porque tem uma validação e suporte teórico único e cada vez mais robusto, cuja aplicabilidade se argumenta e fomenta na prática. Tem portanto validade prática como comprova o êxito de alguns treinadores e um suporte científico muito consistente. Não é uma ciência do abstracto, é uma ciência in vivo. É uma Ciência de facto, que curiosamente nasce da intuição fundamentada de uma pessoa, o Professor Vítor Frade, que com base em informações provenientes de diversas áreas – ostracizadas nalguns casos - entrecruzadas com as suas vivências de terreno, reflexões pessoais e um corte com o que se encontra institucionalizado possibilitou uma visão operativa diferente da forma de treinar em futebol. É uma Ciência que apesar de alguns a designarem de “vanguardista” na verdade não o é, pois os seus pilares fundamentais começam a ser edificados em 1970, com base em fontes dessa época e ainda anteriores. Encontra-se na esteira do pensamento sistémico e como tal coloca a enfâse nas relações, na qualidade e nos padrões, sem refutar na sua evolução a intuição, mostrando assim que tal como treino, também a Ciência de qualidade requer Arte.

2. Luis Esteves: Como define a o princípio da Especificidade?

Jorge Maciel: Desde já importa salientar que não se trata de um Princípio Metodológico, resulta da concretização interactiva dos Princípios de Jogo e dos Princípios Metodológicos – que dão vida aos primeiros – e de tudo o que envolve tal operacionalização. Trata-se da face visível de todo o processo. E pode definir-se como sendo a concretização de uma intencionalidade colectiva, o tal jogar acima referido, num determinado contexto, resultando de tal processo uma identidade de jogo, um jogar, singular. Importa ter consciência que se trata de uma noção probabilística identificadora quando se manifesta regularmente, isto é como padrão, sendo por isso mesmo simultaneamente uma utopia - pois não existe como reprodução fiel da nossa concepção ideal, nem existe em permanência, mas em tendência – é uma emergência – visto tratar-se de uma realidade resultante da conexão das partes acima referidas, e cuja articulação quando feita organizadamente se assume superior ao que resulta da soma de cada parte individualmente. Pode por isso designar-se como Supraprincípio, ou seja, como Imperativo Categórico.

De uma forma resumida pode dizer-se que a Especificidade é o que diferencia e identifica os jogares das diferentes equipas. É o que nos torna singulares num fenómeno plural. E felizmente nos nossos dias, temos um exemplo paradigmático relativamente àquilo que é ter uma identidade de jogo, e ainda por cima de qualidade. O caso do Barcelona, que é uma equipa que independentemente de, devido a diversas condicionantes, apresentar melhores ou piores desempenhos, poder ser um retrato mais fiel ou caricaturado, não deixa de manifestar uma identidade colectiva única, padronizável a nível dos grandes princípios, mas também em níveis organizativos menores. É uma equipa incrível, que independentemente do padrão de problemas que tem pela frente provocado pelos adversários e dos problemas com que pontualmente se debate também pela elevada densidade de jogos que tem, não refuta a sua identidade e parte dela para engendrar soluções no sentido de superar os condicionalismos que surgem. É a imagem mais acessível que podemos ter daquilo que representa a Especificidade, podiam aparecer em campo sem equipamentos e de máscaras que saberíamos que se tratava da equipa do Barcelona que estava a jogar.

3. Luis Esteves: Como define o princípio das Propensões?

Jorge Maciel: Tenho notado que as pessoas que se tentam interessar pela Periodização Táctica, estão muito sintonizadas com a terminologia, no entanto, parece-me ser superficial. Daí eu dizer que estão sintonizadas, mas não identificadas. Parece-me que se fala e se usam os conceitos sem verdadeiramente os apreender e compreender. E isso parece-me válido para o que em geral se refere à Periodização Táctica. As pessoas aderem, mas de forma superficial e pensam ser o suficiente. De facto é chamativa, desde logo por ser diferente, contracorrente, e por as pessoas a associarem ao José Mourinho, mas não é simples. Por isso faço aqui esta advertência que talvez se venha a revelar válida para muitas das questões que se poderão seguir. Entendo que mais do que definir, embora tal seja pertinente para que todos tenhamos o mesmo comprimento de onda, importa perceber e apreender a dimensão operativa de cada Princípio Metodológico, pois somente deste modo se poderá operacionalizá-los convenientemente.

O Princípio Metodológico das Propensões refere-se à modelação dos contextos de exercitação, com o intuito de criar contextos relativos a um jogar que possibilitem um aumento de densidade do que se deseja manifestar como regularidade. Modela-se os contextos para que estes, não perdendo a sua natureza aberta, sejam facilitadores e catalisadores dos propósitos desejados. Em tais configurações de exercitação o papel principal é dos jogadores, devem ser eles a decidir e a interagir, desencadeando uma dinâmica que não deixando de ser determinística, por estar sobredeterminada a determinados propósitos, intencionalidades, não perde a dimensão imprevisível. Este Princípio Metodológico permite por isso que o caos seja de facto determinístico.

A ideia de propensão tem a ver com o facto de ser mais propício ou provável a ocorrência de determinado acontecimento, no caso do treino de futebol, determinada interacção. Daí a ideia de modelar o contexto no sentido de tornar mais provável aquilo que se deseja que aconteça . Um aspecto relevante prende-se com o facto de ter de ser deliberadamente propenso, isto é, deve ter subjacente uma intencionalidade ou conjunto de intencionalidades conformes com o modo como queremos que a nossa equipa jogue e conforme as preocupações que entendemos mais prioritárias naquele momento do processo. Somente deste modo se torna possível que a configuração dada ao contexto, juntamente com uma intervenção condizente durante a exercitação, despoletem interacções que ao acontecerem façam emergir de forma exponenciada os critérios subjacentes aos nosso Princípios de Jogo. E falo em critérios e não de comportamentos, pois como referi, o papel principal no fazer e no aqui e agora, é dos jogadores. Ainda que seja relevante a intervenção de quem orienta o exercício. Destaquei também o papel da intervenção, porque é esta que conjuntamente com a modelação do contexto que vai servir de catalisador e de meio para aproximar os critérios que os jogadores manifestam com os desejáveis para a forma como queremos jogar. E quando a identificação com o que queremos está ainda num momento inicial, e o que desejamos é contrário ao historial de quem vai dar vida ao que executamos, os jogadores, a discrepância pode ser grande. E se não temos isso em consideração estamos a ser uma espécie de autistas do treino, porque ignoramos a realidade com que lidamos e de que partimos para o que queremos. Partimos muito mais de nós do que dos jogadores para chegar ao que queremos, o que penso ser um erro. E esse aspecto, no que á construção de exercícios diz respeito, faz com que sejamos descontextualizados, e por norma leva-nos a criar contextos desajustados, na exigência, na funcionalidade… Pensamos que criamos um exercício fantástico e depois saímos do treino e os jogadores também completamente frustrados. Nós, porque a dinâmica desejada não aconteceu e os jogadores, porque não conseguiram perceber o exercício, nem o seu transfere para o jogo, além de ficarem angustiados por se sentirem desconfortáveis por tudo isso. Daí que tenhamos que ter em consideração que este Principio Metodológico deve ser equacionado e operacionalizado tendo em conta as implicações e relações que estabelece com os outros Princípios Metodológicos. Por esse motivo devemos ter em consideração, por exemplo qual o estado de maturação, digamos assim, em que o processo se encontra. E aqui entra a Progressão Complexa, por exemplo, recentemente estivemos na Líbia e tínhamos de ter muita preocupação com estes aspectos, tínhamos a limitação da língua, além de termos um grupo de jogadores que não estava habituado a treinar desta forma. E tudo isso tinha que ser pesado com muita sensibilidade, as variações que fazíamos dos exercícios eram muito ténues. Tinha-mos um conjunto de exercícios que usávamos diferenciadamente em função dos dias e da lógica de alternância desejada, e aqui entra o Princípio da Alternância Horizontal em especificidade, mas não variávamos a configuração dos mesmos, de forma significativa nas várias semanas, uma vez que estávamos há pouco tempo naquele contexto e sentíamos que havia necessidade de identificação da parte dos jogadores no que á dinâmica e aos propósitos aquisitivos dizia respeito. Penso que a sensibilidade para estes aspectos é fundamental, e por vezes penso que os treinadores, não sei se ignoram, mas relegam para segundo plano por pensarem que se torna mais fácil mostrar que sabem muito de treino, se fizerem muitos exercícios e diferentes e se estiverem constantemente a mudar e eu penso que não, e senti isso mesmo na experiência que tivemos na Líbia. Penso que ter sensibilidade para estas coisas pode ser mais distinto de treinador de qualidade do que fazer muitos exercícios. Não estou a falar em fazer sempre o mesmo, mas antes ter mestria para perceber quando e como mudar, quando e como manter – que não requer menos talento que para mudar -, quando e como ajustar e reajustar os contextos de exercitação. É a gestão destes aspectos que permite alimentar constantemente o processo sem que ele estagne ou cristalize. Como o fazer?! Isso é que é mais complexo e difícil, criar rotinas sem cair na rotina requer muito de Ciência, no sentido de respeitar uma matriz metodológica, mas não menos de Arte, no sentido de perceber e agir em conformidade do que cada momento do processo exige. É a isto que o Professor Vítor Frade chama de Sentido da Divina Proporção, um MetaPrincípio.

4. Luis Esteves: Como define a Alternância Horizontal?

Jorge Maciel: É um Princípio Metodológico da Periodização Táctica, que conforme se depreende do nome visa distribuir diferenciadamente, daí alternância, o que é dado a vivenciar aos jogadores nos diferentes dias que compõem o Morfociclo, daí horizontal. Em especificidade porque o que os jogadores vivenciam nas diversas unidades de treino obedece sempre, em maior ou menor escala, a uma matriz comum e que se reporta à nossa forma de jogar, ou seja, a especificidade vivenciada nos vários dias do Morfociclo é parte do todo maior que é a nossa Especificidade.

É este Princípio Metodológico em relação com os demais, que permite que a alternância efectuada ao longo do Morfociclo seja feita convenientemente, permitindo consequentemente que através da sua repetição continuada, no que á lógica diz respeito ainda que o conteúdo possa ser diverso, o Morfociclo se constitua como uma invariante metodológica. A qual deverá vigorar desde a primeira semana de treinos, com o intuito de induzir nos jogadores uma adaptabilidade a essa mesma matriz metodológica, tornando-se numa regularidade e como tal possibilitar que os desempenhos colectivos sejam também eles regulares. Contrariando desse modo, as lógicas convencionais que sugerem lógicas oscilatórias e que se reflectem numa montanha russa de desempenhos ao longo da época. É precisamente isso que se evita na Periodização Táctica, procurando-se a estabilização sem cristalização de uma forma de treinar, acredita-se que o mesmo sucederá com a forma de jogar que emerge desse treinar.

Pode referir-se que este Princípio Metodológico tem como propósitos; induzir nos jogadores uma habituação a uma lógica de relação entre recuperação desempenho, assegurar a que a equipa se apresente “fresca” nos momentos de competição sem que para isso hipoteque a possibilidade de evolução do jogar precisamente pela relação que estabelece e contempla entre TreinoCompetição. Para que tal seja possível, evita que cada sessão de treino seja um conjunto de várias coisas com dominâncias aquisitivas, metabólicas e contrácteis diversas, isto é, tenta evitar o erro que é a dita alternância vertical. Tem como grande preocupação também a não massificação das estruturas implicadas na vivenciação do jogar, e aqui entendendo o Corpo como um todo, fazendo-o através de uma lógica de distribuição que respeita as directrizes propostas pelo Morfociclo Padrão.

Outro aspecto fundamental relativo a este Princípio Metodológico, e que é na verdade o seu grande propósito, passa pela necessidade de salvaguardar que a nível individual os efeitos e repercussões de cada sessão sejam garantidas. Ou seja, tem por pretensão induzir uma adaptabilidade a nível individual que possibilite a manifestação qualitativa de uma intencionalidade colectiva. Trata-se portanto de uma adaptabilidade individual, que importa salientar se encontra sobredeterminada por propósitos colectivos, isto é, parte do colectivo para o individual e não o contrário. E que além disso, não tem necessariamente e muito menos em dominância, que ser induzida com base em contextos de exercitação individualizados. Esta preocupação com a dimensão individual é fundamental, porque uma equipa é feita de vários Eus, e quanto melhor eu como treinador assegurar que tais partes se encontram aptas para o que desejo, melhor será o contributo destas para o que conjuntamente emergirá como um todo, o jogar da equipa. Esta lógica de alternância proposta pela Periodização Táctica é a única que conheço que permite atender aos propósitos que referi antes. Visa a melhoria de um todo organizado, por acrescento de complexidade intervindo sobre diferentes escalas de diversas dimensões, e aqui refiro-me não somente às escalas do jogar – Princípios, SubPrincípios… - como também às diferentes escalas da equipa – Individual, Sectorial, Intersectorial, Colectiva… - e às diferentes dimensões implicadas na vivenciação do jogar – padrão de contracção muscular, padrão metabólico, desgaste emocional...

Para entender esta forma de treinar, é necessário perceber-se e saber como lidar com a noção de “MicroMacro” e com o Principio Hologramático. E isso passa por reconhecer que ao se exponenciar as partes sem perda de relação com o todo, este ultimo poderá aceder a níveis de complexidade continuadamente crescentes, claro está, se a fractalidade for devidamente entendida e como tal não nos levar à fatalidade. Recentemente lia um livro de Henry Laborit de 1971, em que ele já falava destes aspectos, e que penso ser muito pertinente para realçar a necessidade de estar atento aos níveis mais micro do jogar e de operacionalizar convenientemente a alternância ao longo das diferentes unidades de treino. Dizia, “a morte do organismo implica a do órgão, mas o mais vulgar é a morte do órgão implicar a morte do organismo.”

5. Luis Esteves: Como define a Progressão Complexa?

Jorge Maciel: Este Princípio Metodológico realça um aspecto muito importante e que marca claramente a diferença relativamente à generalidade das metodologias do treino de futebol. Coloca a enfâse na Qualidade, ou seja, nas relações e na Intensidade e não na Quantidade, ou seja, no volume. O Princípio Metodológico da Progressão Complexa refere-se à necessidade do processo obedecer a uma lógica que vá do menos complexo para o mais complexo, mas sempre em complexidade, isto é, sempre tendo por base uma determinada intencionalidade ou qualidade que se pretende fazer emergir através da operacionalização. Não se trata de ir do simples para o complexo, como sugerem a generalidade das didácticas, mas sim ir construindo e ir alimentando a complexidade inicial fazendo-a evoluir para níveis cada vez maiores de complexidade, por isso trata-se de uma Progressão Complexa.

Mas importa não ignorar outro aspecto, é que ela é também complexa por se tratar de uma progressão não linear. Trata-se de uma progressão espiralada, pois desenvolve-se em torno de um eixo, que no caso é a nossa Intenção Previa. No entanto, o processo é altamente dinâmico desenvolvendo-se e sendo caracterizado por constantes avanços, mas também retrocessos sem perda de relação com o referencial que o sobredetermina, e que como tal lhe dá sentido, o sentido que desejamos. Por se tratar de um fenómeno complexo o processo é gerido na fronteira do caos, e tem presente o conflito permanente provocado pela necessidade de estabilidade sem cristalização. Requer por isso da parte do Treinador muita atenção a todos os aspectos implicados no processo e sobretudo muita coerência entre o que faz e o que deseja que aquele colectivo manifeste. A gestão deste processo, feita no fio da navalha, torna fundamental a dinâmica altamente complexa que se estabelece entre Quantificação à Priori e Quantificação à Posteriori. A primeira refere-se ao retrato projectivo, geral, que se faz para o processo, isto é, faz-se uma análise aos três tempos, passado, presente e futuro. Um apelo portanto a níveis de consciência altamente elevados. A segunda, Quantificação à Posteriori refere-se à necessidade de a cada instante se ir gerindo e aferindo o sentido que o processo vai tomando, de modo a torná-lo congruente e o mais aproximado possível com o retrato inicial. E neste ponto uma vez mais me vejo obrigado a salientar a importância da sensibilidade do Treinador para gerir estes aspectos, e fundamentalmente para hierarquizar. E hierarquizar na Periodização Táctica, não tem nada a ver com catalogar sequências acontecimentais ou prioritárias que sirvam de referencial para a acção dos jogadores. Se assim fosse, seria um contra-senso pois isso o que promove é a robotização e não a criatividade. Quando me refiro à Hierarquização de Princípios falo na necessidade de se fazerem opções relativamente ao que deve ser dado a vivenciar aos jogadores, no sentido de perceber o que é prioritário em cada momento do processo e treinar em função disso. Inicialmente face às expectativas e aos objectivos dos clubes podemos estabelecer prioridades relativamente à abordagem inicial a fazer-se e à enfâse mais num determinado momento de jogo que noutro. Por exemplo se uma equipa tem histórico de vitórias a prioridade em termos de dominância, no meu entendimento deve ser dada, à partida, para os aspectos mais relacionados com o atacar. Mas à medida que o processo se vai desenvolvendo vão emergir coisas novas, algumas condizentes com o que desejo e outras nem por isso, há regularidades que eram mas deixam de o ser, outras que não eram e passaram a ser… E tudo isto numa dinâmica constante de TreinoCompetição a requer muita atenção e sensibilidade da parte do Treinador para estabelecer prioridades a cada momento com o intuito de aferir para não se desviar do caminho estabelecido à priori. De facto, “o caminho faz-se caminhando”, mas eu tenho que saber para onde quero ir.

6. Luis Esteves: O que é o Modelo de Jogo na sua visão?

Jorge Maciel: Essa é uma noção central para quem quer perceber o que é a Periodização Táctica. Aliás por norma há uma associação quase directa, por parte da generalidade das pessoas, entre a Periodização Táctica e a designação Modelo de Jogo. Contudo, penso não haver na generalidade das vezes uma correcta apreensão daquilo que representa e é o Modelo de Jogo para a Periodização Táctica. Penso mesmo que há uma banalização e consequente deturpar do conceito. Confunde-se muitas vezes Modelo de Jogo com a concepção de jogo, a organização estrutural da equipa, com o dito sistema de jogo e com outros aspectos. O principal motivo para tais equívocos resulta das pessoas, e também as instituições, estarem ainda muito presas ao convencionalismo científico. Mark Twain dizia que “para aqueles que têm apenas um martelo como ferramenta todos os problemas são pregos”, e é precisamente esse o problema que se coloca a quem quer seguir o caminho da Periodização Táctica, ou seja o caminho da complexidade. Por isso mesmo tomando-se tal decisão, tem de se ter consciência que se a nossa ferramenta é a complexidade então todos os problemas são complexos e requerem tratamento complexo. Portanto, quando nos referimos à noção de Modelo de Jogo cortamos com a ideia tradicional que resulta da modelação matemática, linear. Referimo-nos antes a uma concepção bem mais complexa e dinâmica da ideia de Modelo, o que implica a necessidade de conceber e tentar perceber a complexa noção de Modelo de Jogo de acordo com a ideia de Metamodelação ou Modelação Sistémica.

O Modelo é constituído por um conjunto de inúmeros aspectos, alguns mais relacionados com opções do treinador, como a concepção de jogo, a metodologia de treino, a operacionalização do processo, outros mais relacionados com os jogadores e com a própria realidade do clube e o contexto envolvente. Aspectos que vão desde as crenças de jogadores ou dirigentes, à história do clube, dimensão estatuto e competência do departamento médico, a realidade competitiva, até as picardias e rivalidades históricas que possam existir dentro e fora do clube. Pode dizer-se que o Modelo é tudo. E por isso mesmo penso que a imagem mais capaz de o retratar é a de um iceberg, à superfície, isto é a face visível, parece ser uma realidade circunscrita a uma determinada dimensão e complexidade, mas na verdade é bem mais complexa e edificada sobre muitos aspectos que não são visíveis à superfície, mas que se assumem como fundamentais para a dimensão visível do Modelo. O Modelo é tudo e resulta da interacção altamente dinâmica entre os aspectos visíveis e dizíveis com os aspectos invisíveis e indizíveis que o compõem.

A melhor definição que conheço de Modelo é a do Professor Vítor Frade quando afirma que “o Modelo é qualquer coisa que não existe, mas que todavia se pretende encontrar”. Trata-se portanto de uma espécie de impossível necessário, que nós em termos ideais concebemos, mas que depois na sua concretização não conseguimos reproduzir tal e qual, pois ao nível do pormenor ele vai assumir contornos únicos resultantes da interacção com o que o envolve. No entanto, não deixa, ou não deve deixar de ter a configuração geral, os traços gerais daquilo que projectamos à partida. Temos de estar conscientes que por se tratar de uma realidade aberta dele vão emergir dimensões em termos de pormenor que nós à priori desconhecíamos. Muitas vezes quando se fala em Periodização Táctica refere-se a seguinte citação, “o caminho faz-se caminhando” e o Modelo é isso, faz-se modelando. O Modelo é o acto de Modelação, é o processo, e resulta do entrecruzamento dinâmico e complexo de uma intencionalidade estabelecida à priori com a sua operacionalização num determinado contexto, o qual, conjuntamente com a gestão que dele vamos fazendo vai permitir o emergir de uma realidade única, o nosso iceberg, o nosso Modelo de Jogo.

É uma noção complexa e não facilmente entendível, porque causa em nós vários conflitos. Desde logo, sendo tudo, uma realidade aberta, simultaneamente redundante – porque nos seus contornos gerais deve ser padronizável – e imprevisível – em termos de detalhe, coloca o treinador perante o aparente paradoxo que é o de ter de gerir uma realidade que na sua essência é imprevisível. Para que seja capaz de o fazer tem de aceitar que o seu controlo do processo nunca vai ser pleno, mas que quanto melhor for, melhor será o processo. Para lidar com tal conflito importa perceber bem o que se entende por caos determinístico, porque o Modelo de Jogo é isso mesmo. É uma realidade dinâmica e complexa que assumindo contornos globais desejáveis e estabelecidos à priori, concretizados pela modelação do processo, não deixa de contemplar em menor escala uma dimensão imprevisível. O Modelo é sem dúvida permeável ao que o envolve, no entanto, ele é tanto mais selectivo nessa permeabilidade quanto mais consistente e coerente for a complexa e dinâmica operacionalização do processo. E o que dota de consistência e coerência o processo é o modo como o treinador gere os aspectos mais controláveis, que podemos designar de plano cientificavel do processo. Um plano que é composto por uma matriz conceptual, relativa à concepção de jogo que é padronizável nos níveis de organização superiores, e por uma matriz metodológica, que se reporta aos Princípios Metodológicos. Depois há o outro plano, que é uma consequência da essência aberta do processo, é o plano do detalhe, do inopinado, que não é cientificavel, pois como diz o Professor Vítor Frade “para o detalhe não há equação”. É um plano que sendo imprevisível, contempla uma propensão para se constituir como um imprevisível mais previsível. Isto porque surge sobredeterminado, ou seja como uma emergência contextualizada pelo plano cientificavel do processo, daí caos determinístico.

7. Luis Esteves: Para o professor, o que a sua equipe precisa ter nas diferentes dimensões do jogo em termos de grandes princípios, sub-princípios, sub-sub princípios...?

Jorge Maciel: Na Periodização Táctica é fundamental, esse é um aspecto fulcral e um pressuposto basilar para iniciar um processo de treino. O estabelecimento dos contornos gerais da nossa forma de jogar é uma necessidade, uma vez que será em função disso que o processo se desenvolverá, ou seja, é esse o sentido que desejamos dar ao que emerge do processo. Sabemos que o futebol é uma realidade plural, por isso temos que optar de modo a possuirmos uma identidade única, singular num contexto plural. Daqui resulta a necessidade de sistematizar, nos seus contornos gerais, o jogar a que aspiramos. Uma sistematização que deve contemplar a pesagem de particularidades relativas ao contexto, sendo a partir dessa Quantificação à priori que se desenvolverá o processo e que os aferimentos do mesmo, Quantificação à posteriori, assumirão um determinado sentido.

Quando partimos para a idealização de uma ideia de jogo, considero que os referenciais devem ser os de TOP. E devem ser de TOP ao nível da intencionalidade que queremos que a equipa concretize e manifeste como regularidade, mas também deve ter em conta que isso que nós desejamos expressar como padrão de jogo, dê resposta aos problemas que se colocam a Top. Ou seja, a minha forma de jogar deve atender também ao padrão de problemas que é colocado a Top. Quando o fazemos devemos partir de pressupostos, que por serem excessivamente óbvios, por vezes são negligenciados. Há verdades muito simples que as pessoas ignoram, mas que penso serem as bases fundamentais para a sistematização de uma ideia de jogo. Por exemplo, o futebol joga-se com bola, e só há uma, como tal se nós a tivermos os outros não a têm, e tudo o que de relevante acontece em campo se faz com bola. Por isso, um aspecto fundamental e que se assume como grande princípio, para mim passa por ter a bola no meio campo adversário, porque se na dominância da posse, claro está, com critério e objectividade, isto é no sentido de saber explorar os desequilíbrios adversários para marcar golo, percentualmente a bola estiver muito mais tempo connosco do que com o adversário, podemos mandar no jogo pois temos o que mais importa e se a soubermos ter óptimo.

Outra verdade muito simples resulta do facto de que ganha quem marca mais golos, face a este pressuposto a minha ideia de jogo deve ser construída tendo precisamente por base esse pressuposto, a intenção de marcar golo, e não a de não sofrer. No entanto, importa aqui ter em conta aspectos reactivos à Progressão Complexa, que podem motivar que ao nível da operacionalização eu estabeleça como prioridade inicial aspectos da organização defensiva. Contudo essa hierarquização não deve deixar de ter subjacente a intenção de defender melhor, porque pode ser uma necessidade prioritária naquele contexto, mas para atacar melhor e em função do modo como desejo que a equipa ataque. Este parece-me ser um aspecto também muito importante, e que passa pela coerência e pelo respeito pela inteireza inquebrantável que o jogar deve manifestar de modo a que se expresse de forma fluída, dinâmica, ou seja que revele ao nível da matriz conceptual articulação de sentido com um determinado sentido. Uma qualidade de posse que é suportada por vários aspectos, e que para mim passam pela variabilidade de ritmos, velocidade da bola, variabilidade de passe, mudanças de lado da bola. Aspectos que por sua vez se relacionam com a necessidade de uma organização posicional determinada, propensa a tal intenção, e que me permite uma permanente relação triangulada e em losangos entre os jogadores, o preenchimento de zonas centrais sem perda de largura e de profundidade… Para esta forma de ter a bola, um aspecto decisivo passa também pelas potencialidades e convicções dos jogadores, os quais devem gostar e sentirem-se confortáveis com bola e tenham uma mobilidade funcional que salvaguarde a manutenção da integridade da equipa. São todos estes aspectos e muitos outros, é um nunca mais acabar, que concorrem para a concretização de uma posse de qualidade, criteriosa.

Costumo dizer que para mim no momento de organização ofensiva a posse e circulação da bola deve ser obliquada na divina proporção, isto é, não tem necessariamente que ser dominantemente vertical ou horizontal, tem que ser tudo isso em função do que as circunstâncias nos permitem e da nossa capacidade para as decifrar, em suma, tem de ser uma posse e circulação levada a efeito com critério. E a identificação e sintonização com aquilo que é critério, para mim, faz-se através do processo. O objectivo do processo passa por dotar os jogadores de critério, para que as respostas que depois são obrigados a dar em competição sejam condizentes com o que desejamos. Eu para este momento de jogo, em termos ideais, embora seja de grande dificuldade gostaria de ver uma equipa minha criar sucessivos engodos aos adversários, criar-lhes uma ilusão. Geralmente procura-se que a equipa circule pelo lado mais vazio de modo a evitar a pressão do adversário, embora este possa ser um passo intermédio para chegar ao que desejo, o que de facto desejo é que a minha equipa se sinta bem sob pressão, para que assim iluda o adversário atraindo-o para a zona da bola, dando-lhes a sensação que nos vão matar, mas depois pela nossa qualidade posicional, qualidade de passe sob pressão e pela nossa qualidade ao nível da identificação dos desequilíbrios adversários e dos timings de entrada da bola, sermos capazes de fazer sair a bola daquela zona explorando as zonas mais desprotegidas, acelerando o jogo fundamentalmente através de passe.

No que diz respeito ao momento em que perdemos a bola a equipa deve manifestar uma mudança de atitude muito forte e agressiva, a mudança de paisagem mental deve ser imediata, ainda que a configuração e funcionalidade do modo como ataco deva contemplar já à partida este momento. Portanto, estando salvaguardados esses aspectos, quando se dá a perda da bola, o fundamental é que cada jogador por si, mas sobredeterminado por um referencial colectivo, se ajuste imediatamente mude a sua paisagem mental com o intuito de evitar a progressão da bola e a sua recuperação o mais rapidamente possível. Para tal cada jogador e por conseguinte a equipa, como resultado de um processo de ressonância empática deve pensar em função da mesma coisa ao mesmo tempo, e devem saber decifrar o que é mais ajustado naquele instante para impedir a progressão da bola, se pressionar imediatamente sobre a bola tendo superioridade sobre a mesma, ou se pelo contrário é preferível pressionar para retardar e dar tempo à equipa para reduzir o campo fechando espaços e criar melhores condições para pressionar colectivamente.

Em organização defensiva a equipa deve evidenciar um padrão zonal pressionante, capaz de provocar erros nos adversários forçando desse modo a perda da posse de bola. Não nos devemos acomodar à ideia da necessidade de defender, de um modo “extremista”, a equipa deve ter aversão a defender, ou seja deve ter repulsa relativamente à necessidade de defender, mas simultaneamente e paradoxalmente tem de se sentir confortável quando o tem que fazer. Para isso tem de defender com qualidade para que os momentos em que se vê obrigada a defender sejam curtos, porque induzimos o adversário a errar, mas claro sempre com critério e organização colectiva, respeitando uma organização posicional que melhor nos permita atacar e estar compactos quando temos de defender, o que passa por um escalonamento em várias linhas tanto em profundidade como em largura. Além disso, a equipa tem de reconhecer indicadores de pressão saber atrair e direccionar os adversários para pressionar com êxito, reduzir o campo sabendo nessa intenção jogar com o fora-de-jogo, o que é diferente de jogar em fora-de-jogo. Fundamentalmente, queremos “mandar sempre”, mesmo quando não temos bola.

Relativamente ao momento do ganho da posse de bola, transição defesa ataque, embora ele careça igualmente de uma mudança efectiva da paisagem mental, a equipa deve ter subjacente o desejo de manter a bola em sua posse, como tal deve evitar a sua perda imediata por querer arriscar e ver este momento como único passível de explorar a desorganização adversária, como por vezes se verifica em algumas equipas. A equipa deve ter a serenidade suficiente para perceber que se a equipa adversária a defender está organizada, nós pela gestão que fazemos da bola podemos criar-lhes instantes de instabilidade e desorganização. Penso que essa sensação, de que se não é agora é daqui a pouco, é determinante para a equipa quando ganha a bola ter a serenidade suficiente e necessária para decidir com maior critério, porque não esgota este momento na finalidade de exploração imediata da profundidade. É portanto uma serenidade, que realça a relevância que o ter a bola e o atacar assumem para a equipa, e que dá variabilidade ao momento de transição defesa ataque, porque não se fica preso a um fim único. O que por sua vez permite que de facto se estabeleçam para este momento princípios e subprincípios, ou seja critérios que suportam interacções e não comportamentos predeterminados, fins e subfins. Para este momento a equipa deve ter como grande princípio assegurar a manutenção da posse de bola. Como não sei? Mas o processo tem de permitir que eles reconheçam qual o critério para o fazer em função da configuração acontecimental do contexto. No entanto, tenho de criar condições para que tal se faça eficazmente e confira maior número de possibilidades na concretização do princípio. Aspectos que passam entre outros pela abertura de linhas, fazer campo grande, por permitir que o portador da bola tenha condições para circular sendo-lhe assegurados apoios recuados e em profundidade, mobilidade dos jogadores sem bola no sentido de procurar receber a bola respeitando uma determinada organização posicional, inteligência para decidir qual a melhor opção e qualidade também ao nível da concretização para que a intenção não se fique por aí.

Nesta enumeração dos contornos gerais daquela que é a minha ideia de jogo não fiz uma abordagem muito esquematizada dos Princípios de Jogo e SubPrincípios, mas importa que as pessoas percebam aquilo a que se refere cada um para que a tarefa de sistematização da ideia de jogo seja mais fácil.

Quanto aos Princípios, eles são padrões de intencionalidade relativos ao jogar que sustentam os critérios expressos pelas várias escalas da equipa (individual, sectorial, intersectorial, colectivo), e que ao se manifestarem com regularidade lhe conferem identidade e funcionalidade nos vários Momentos de Jogo. São portanto ideais de interacção (cooperante e conflituante) que acontecem em termos probabilísticos. Os Grandes Princípios referem-se aos contornos gerais da nossa identidade. Os SubPrincípios são as partes intermédias que suportam e corporizam essa identidade. Os SubSubPrincípios são os aspectos mais micro, aspectos de pormenor à priori desconhecidos, uma vez que surgem pela dinâmica do processo e emergem sobredeterminados pelos níveis de maior complexidade, ainda que sem perda de identidade ou singularidade. Por serem desconhecidos à priori eu não os posso, nem devo estabelecer previamente, são particularidades que vão surgindo e que eu tenho de saber aproveitar para alimentar e exponenciar o crescimento do meu jogar, que não perdendo as formas do esboço inicial, vai assumindo uma configuração ao nível do pormenor que é única. Tem de haver muita sensibilidade e receptividade da parte do treinador, no sentido de aproveitar estas emergências de pormenor. Quando refiro receptividade quero dizer abertura, pois só isso permite que eu aproveite e tenha disposição, para partindo das minhas ideias rentabilizar e explorar os acrescentos que o envolvimento me trás a tais ideias. Imagine-se por exemplo, que em termos ideais os defesas laterais nos momentos de organização ofensiva se devem constituir como apoios à posse, fazendo-o em posições não muito adiantadas de modo a contemplar também o fecho da zona interior aquando da perda da bola. No entanto, se eu chego a um clube e tenho um jogador como o Maicon, o Marcelo ou o Daniel Alves que sabendo funcionar desse modo me trás também outras coisas, eu tenho de estar sensível para aproveitar e exponenciar aquilo que eles fazem melhor, ou pelo menos aquilo que os diferencia dos restantes e que se constitui como uma singularidade optimizada pelo todo, se o perspectivar com abertura. Para isso, tenho de criar uma subdinâmica colectiva que me permita que eles tenham condições para o fazer com regularidade, sem que hipoteque a existência de apoios recuados à posse e circulação nas zonas onde habitualmente jogam, assim como a necessidade de equilíbrio defensivo no ataque. A riqueza do Modelo passa por isso, pela possibilidade de contemplar a novidade sem perda de identidade e simultaneamente sem cristalização.

Importa referir que essas emergências de pormenor não são só aspectos a exponenciar, não raras vezes constituem-se como aspectos a recusar, e eu tenho que ter sensibilidade para perceber que em determinados contextos e situações os princípios têm de ser fins. Como tal poderei ter necessidade de fechar, mas só o devo fazer a partir do que depreendo do processo e dos contornos que este vai assumindo no aqui e agora e não à partida. Se o fizer à partida, corro o perigo de cair na vertigem de treinar sobre carris. Parto do pressuposto que os jogadores me podem dar tudo, em termos de detalhe, o que entendo ser necessário para jogar o meu jogar com qualidade, se verifico que há coisas que tenho de ser eu a regular externamente porque eles não o fazem ou ainda não fazem, ok, aí o princípio (subsub) passa a ser fim, mesmo que possa não ser de forma permanente mas temporária e transitória. Cruyff diz que a melhor forma de ensinar não é proibindo, mas sim guiando, eu concordo totalmente mas acrescento que por vezes para guiar se torna necessário proibir. Mas a regulação do trânsito, que é a funcionalidade da equipa vai se fazendo, sabemos o sentido a dar ao caminho e vamos colocando sinalização conforme para que o caminho permita uma boa fluidez, por vezes colocamos sinais proibidos generalistas, outros só a peões, outros só para bicicletas, outros para pesados… e quando percebemos que o trânsito está a ficar regulado à nossa imagem podemos tirar sinalização, porque pelo hábito já se tornou funcional.

8. Luis Esteves: Como o professor define a Articulação de Sentido?

Jorge Maciel: Trata-se de um conceito que vai precisamente ao encontro do cerne do pensamento sistémico. A enfâse no pensamento sistémico é colocada nas relações, o segredo está nas conexões. Ou seja, o sucesso do processo de treino tem a ver com isto, depende muito do modo como eu articulo as coisas, isto é, como as relaciono e partir daí teço a minha teia dinâmica. A Articulação de Sentido tem precisamente isto subjacente e tem a ver com a conexão coerente que se faz entre as partes implicadas no processo, e vale a nível da operacionalização dos Princípios Metodológicos e a nível da manifestação e vivenciação dos Princípios de Jogo. Portanto, a matriz conceptual para manifestar fluidez na sua concretização deve revelar internamente uma determinada articulação de sentido, que sendo coerente permite o emergir de uma realidade consistente, um Sentido, o nosso jogar, ou o sentido que queremos dar ao nosso jogar. Também a matriz metodológica carece de coerência e de dependência reciproca, visto que a operacionalização dos Princípios Metodológicos implica que estes sejam contemplados de forma conexa, e claro está contemplando a relação necessária com a matriz conceptual. Depreende-se deste modo, que a Articulação de Sentido, se quisermos de mais larga escala, resulta da relação que se estabelece, entre a matriz conceptual, a matriz metodológica e o contexto em que são levadas a efeito. A possibilidade do treinador ter uma interferência catalisadora, enquanto comando exterior ao sistema regulado ainda que fazendo parte dele, constitui-se como a dimensão artística do acto de treinar. O plano da arte do treinador passa por ser capaz de engendrar tudo isto, criando uma teia que faça sentido, dotado de determinada lógica funcional sem perda de Sentido. É a Divina Proporção que de facto permite que a Articulação de Sentido tenha, de facto, um Sentido.

9. Luis Esteves: Para o professor, qual a importância da estrutura de jogo no modelo de jogo?

Jorge Maciel: É uma parte. Como tal devo saber reconhecer que com determinadas estruturas as potencialidades são tendencialmente para um tipo de interacções cuja propensão, à partida, me pode levar para um determinado tipo de jogo que pode ser mais ou menos condizente com o que desejo. A configuração geométrica da equipa é um aspecto muito importante no emergir e concretizar das dinâmicas e intencionalidades colectivas, daí que para eu rentabilizar o meu jogar e exponenciar o que desejo, deva saber o que cada estrutura me pode acrescentar, e nalguns casos retirar face àquela que é a minha ideia de jogo. A opção por uma determinada estrutura não deve ser uma decisão leviana. Além disso, temos de reconhecer que a mesma estrutura em função de quem joga e onde, pode nos levar para dinâmicas diferentes, aspecto que o treinador deve de uma forma geral conhecer, mas para tal deverá treinar devidamente e ser muito inteligente para perceber o que cada jogador poderá emprestar a cada estrutura e vice versa e também qual a posição em que o rendimento do jogador vai permitir mais facilmente fazer acontecer, a nível mais micro e consequentemente mais macro, o que eu desejo que aconteça.

A estrutura é uma forma, uma determinada configuração geométrica, que num contexto dinâmico e orgânico carece de uma concepção topológica do que se entende por forma. Ou seja a estrutura para permitir a concretização de um jogar de qualidade deve expressar-se como uma Morfodinâmica fluida. Esta forma ainda que dinâmica, não carece de integridade e simultaneamente de variabilidade sem perda de funcionalidade. Aspectos que são assegurados, quanto a mim, pela existência de subestruturas, nomeadamente, uma subestrutura fixa e outra mais móvel. A subestrutura fixa deve resultar do posicionamento e mobilidade mais posicional dos jogadores da zona central, guarda-redes, centrais, pivô e ponta de lança. É com base nesta subestrutura, em meu entendimento, que deve girar a subestrutura mais móvel composta pelos restantes jogadores. Funcionando deste modo, como um eixo mais posicional em torno do qual a mobilidade dos demais se manifesta. Este parece-me ser um aspecto fundamental.

Penso que uma equipa deverá saber jogar em mais que uma estrutura, o que implica claro está que estas sejam devidamente treinadas. Eu considero que o ideal serão três estruturas. Duas com quatro defesas, uma das quais com um avançado e outra com dois, e aqui aponto para o 1.4.3.3 e para o 1.4.4.2. Como outra opção, e não necessariamente a terceira em termos “hierárquicos”, penso ser importante a existência de uma estrutura com 3 defesas em que a funcionalidade destes passe fundamentalmente por equilíbrio defensivo e hipótese de funcionarem como apoio recuado à posse e circulação.

Acho que se uma equipa dominar, incorporar, mais que uma estrutura tornar-se-á menos previsível no modo como expressa as suas regularidades e como tal terá maior adaptabilidade relativamente aos problemas que a competição lhe pode colocar. Para isso o treinador deverá reconhecer qual a estrutura que em determinado contexto mais se ajusta e decidir em conformidade, alterando a configuração, mas não a intenção, ainda que daí resultem em termos de pormenor nuances que podem ser determinantes. De uma forma geral, vejo a estrutura como um esqueleto, que é animado pela dinâmica e intencionalidade colectiva. Precisando no entanto, de algo que lhe dê alma, os jogadores, porque não existem estruturas funcionais no papel, nem princípios sem pessoas. Agora, a engendração de tudo isto, lá está, carece também de Articulação de Sentido.

10. Luis Esteves: O que é o Morfociclo Padrão? Como o professor fragmenta o Modelo de Jogo na semana de treinos?

Jorge Maciel: Quando nos reportamos à Periodização Táctica devemos ter em conta que um conceito operativo fundamental é o de Morfociclo Padrão. A designação Periodização Táctica, tal como já salientei justifica-se por se tratar efectivamente de uma periodização, ou seja, da necessidade de se estabelecerem marcos temporais (ainda que não estanques) que vão permitindo a aquisição e o emergir de uma determinada Intencionalidade Colectiva, isto é, de um jogar, ao longo da época. Nesta forma de entender o treino e a periodização no futebol, é a um nível mais micro que encontramos a unidade basilar de todo o processo de operacionalização. Trata-se do Morfociclo Padrão, o qual permite com base numa periodização jogo a jogo fazer emergir e dar vida ao jogar a que se aspira. O Morfociclo Padrão deve por isso, ser entendido como um fractal de um nível mais macro de uma determinada Periodização Táctica, uma vez que sendo uma periodização a mais curto prazo (ciclo entre dois jogos) também ela deverá ter como matriz configuradora a presença constante de uma Intencionalidade Colectiva, um jogar, que se deseja assumir e fazer expressar como identidade para a equipa. Daí a ideia de Morfo, uma vez que se reporta a uma determinada geometria dinâmica, um jogar. Mas para isso importa que se perceba o que queremos dizer quando falamos em Forma, um conceito claramente distinto daquele que convencionalmente se entende e que associa a forma à dita forma física. Na Periodização Táctica não é nada disso, é uma forma topológica que como tal posso modelar de diversas formas sem perder conexão com a Forma geral, a intencionalidade colectiva portanto, mas jamais fragmentar no sentido reducionista do termo, ou seja posso agir sobre essa forma desde que salvaguarde que não perde a sua matriz, uma matriz que é comum e permanente independentemente da escala do jogar a que me refiro – homotetia interna. O respeito por isso obedece a uma lógica que se repete semanalmente na continuidade, daí ciclo, porque é cíclica. Um ciclo compreendido pela distância temporal entre dois jogos. Este ciclo constitui-se portanto, como uma regularidade metodológica, que por obedecer a uma determinada lógica de alternância e de sequencialidade ao nível da dinâmica desempenho recuperação, se torna padronizável o que justifica a noção de Padrão. É um padrão de conexão que se estabelece na sequencialidade dos diferentes dias de treino, respeitando uma lógica metodológica e tendo subjacente na sua vivenciação continua uma determinada lógica de jogo, um jogar. A manutenção desse jogar, ainda que vivenciado em diferentes níveis de complexidade, permite a manutenção e operacionalização de uma Forma. É essa Forma composta por várias formas, descomplexificadas e complexificadas, que é vivenciada continuadamente ao longo dos vários Morfociclos, ainda que em escalas diferentes tendo em consideração a necessidade de alternância ao longo dos vários dias, mantém a lógica ou o sentido metodológico porque o padrão de alternância se repete, ainda que possa ter ajustes em função do número de unidades de treino entre jogos, ou seja, é uma matriz que se concretiza ciclicamente, com contornos ao nível da essência que variam consoante as prioridades momentâneas do processo, em função das prioridades que estabelecemos ou hierarquizamos, mas respeitando a repetibilidade de uma matriz metodológica que como tal se estabelece como regularidade metodológica. É esta que confere ao processo estabilidade sem estagnação, isto é, não perda de identidade fazendo-o evoluir continuamente. Em suma, possibilita a concretização do Princípio da Progressão Complexa, uma gestão feita na fronteira do caos, bastante complexa e difícil, decorrente da conflitual relação entre integridade ou identidade e não estagnação ou cristalização. É neste aparente paradoxo, fazer evoluir uma realidade que se quer estável, que o Morfociclo Padrão assume um papel determinante, visto que permite por um lado a estabilização de um jogar e por outro a progressão do mesmo, inclusive em diferentes escalas temporais. A operacionalização de um jogar tendo em conta a padronização semanal da sua vivenciação possibilita, a manutenção da integridade de uma identidade (um Táctico) sem bloqueio evolutivo, isto é, sem fecho. Possibilitando desse modo uma evolução espiralada, marcada pelo emergir de várias dimensões, algumas à partida desconhecidas, sem que haja perda de identidade pelo facto desse processo evoluir alicerçado numa matriz (a conceptual – o jogar, a Intencionalidade Colectiva, o Táctico) que é sustentada pelos Grandes Princípios de Jogo, e pelo facto desse processo ser operacionalizado tendo por base uma outra matriz (a metodológica – Periodização Táctica) que é suportada pelos Princípios Metodológicos e pela sua aplicação no respeito por um Morfociclo Padrão. O Morfociclo Padrão pode ser definido como o núcleo duro do processo, uma espécie de célula mãe, pois a qualidade da sua concretização é determinante para a qualidade do processo. O Morfociclo constitui-se como um referencial processual, a repetição sistemática é a do Morfociclo, daí que ele se constitua como uma regularidade. Trata-se de um algoritmo, ou melhor dizendo como algoquedáritmo, visto que segundo a Periodização Táctica é da conveniente operacionalização desta matriz metodológica, na continuidade, que emerge uma dinâmica colectiva manifesta com dinamismo. Outro aspecto importante, e que reforça a ideia que o caminho se faz caminhando, prende-se com o facto de ser desta escala micro da nossa Periodização, conforme a sugeri antes, ou da repetição continuada desta matriz, repetição sistemática, ainda que nuanciada em função da dinâmica do processo, que emerge a configuração global da nossa época. Um retrato que se vai fabricando com base num esboço geral e inicial do que queremos para o processo e para o que dele emerge, o jogar.

Quanto à segunda questão, na verdade eu não fragmento nada, se o faço parto e quando parto estrago. Pode parecer mais um preciosismo, mas os conceitos que se utilizam podem ter subjacente uma determinada identificação com o que se deseja, ou uma identificação indesejada. A noção de fragmentar pode nos levar, ou ser mais conotada com uma concepção reducionista, e com o paradigma da disjunção. A noção mais correcta é descomplexificar ou complexificar, daí a ideia de níveis de organização e o sentido do conceito reduzir sem empobrecer. Mas respondendo à questão o que complexifico ou descomplexifico, ou seja o que modelo é o jogar. Aliás é esse o propósito da Alternância Horizontal em especificidade fraccionar, ou descomplexificar e distribuir ao longo dos ciclos semanais as especificidades do nosso jogar em função dos vários dias que compõem os Morfociclos. São esses vários níveis da nossa especificidade que sustentam e poderão levar ao manifestar dessa Especificidade.

O fundamental da operacionalização do Morfociclo, e daí resulta o modo como modelo as sessões de treino, passa pelo entendimento do que fazer em cada dia. Em termos de pormenor, isto é, nos conteúdos a levar a efeito, a Periodização Táctica não diz o que fazer, isso compete a cada um em função da sua capacidade e da sua realidade. Mas a Periodização Táctica fornece referenciais gerais, que orientam e proporcionam uma configuração a cada sessão que permite cumprir de forma conveniente a relação desempenho recuperação que se deseja. Portanto a operacionalização bem conseguida do Morfociclo depende do modo como eu concebo cada uma das suas partes constituintes, ou seja cada unidade de treino. O que implica também que devo ter muito cuidado na gestão de todos os dias, porque se admitimos que a realidade é complexa e caracterizável também pela extrema sensibilidade às condições iniciais eu não posso alienar o mínimo pormenor. Infelizmente, é o que não raras vezes se verifica, com facilidade se percebe que a generalidade dos erros observados na operacionalização, ou tentativa de operacionalização da Periodização Táctica, decorrem da não compreensão do Morfociclo Padrão e no que tal implica em cada unidade de treino e nos seus conteúdos. Penso por isso ser muito pertinente salientar alguns referenciais gerais para cada dia que compõe o Morfociclo. Assim na segunda-feira, ou no dia imediatamente a seguir à competição é concedida folga. E folga é isso mesmo, é folga. É desligar da realidade do treino. A terça-feira é um dia, para os que jogaram, dominantemente direccionado para a recuperação. Não deixa de ser aquisitivo, mas importa perceber que este aquisitivo tem como principal enfoque criar condições para adquirir nos dias que se seguem. É uma unidade de treino que deve implicar pouco desgaste em termos emocionais, o que implica que não tenha preocupações aquisitivas muito evidentes, mas é um treino em que os conteúdos a levar a efeito devem obedecer à mesma lógica de desempenho que provocou fadiga, pois só deste modo eu salvaguardo que estou a incidir sobre a mesma matriz que motivou fadiga, e consequentemente permitir a recuperação. Mas a recuperação só é assegurada se eu estimular o organismo com situações fundamentalmente jogadas, e levadas a efeito com “intensidade elevada”, mas de pouca duração e proporcionando que os tempos de recuperação sejam proporcionalmente muito superiores. Este treino, ainda que não deva ser o único, deve ter uma envolvência emocional caracterizada pela boa disposição. Na quarta-feira, um dia já mais conotado com a dimensão aquisitiva do processo, é o dia dos subprincípios e dos subsub em regime de dominância da tensão da contracção muscular. Neste dia importa ter em conta que a totalidade da equipa pode ainda não estar totalmente recuperada do momento de competição anterior, motivo que conjuntamente com o tipo de padrão gestual dominante faz com que seja o mais descontínuo dos treinos da semana. Os exercícios de treino devem conter bastante estorvo, de modo a implicarem constantes reajustamentos (a nível da decisão, e da execução), sendo por isso um treino onde a proprioceptividade está bastante implicada e exponenciada. São contextos de exercitação onde estão implicados efectivos numéricos reduzidos, realizados em espaços igualmente reduzidos e que devem proporcionar elevada propensão para a ocorrência de uma gestualidade com muita excentricidade (contracções musculares excêntricas) mas sempre tendo como propósito fundamental a vivenciação de escalas menores do nosso jogar. Os períodos de exercitação são curtos, e os de recuperação devem ser significativos e sucessivos. Na quinta-feira, pela distância temporal relativamente ao jogo anterior e ao jogo seguinte, realiza-se o treino mais desgastante da semana. É o mais desgastante, pois os propósitos têm presentes as grandes escalas, os Grandes Princípios do nosso jogar. Apresenta por isso um padrão de desempenho semelhante ao dos momentos de competição, requerendo por isso contextos de exercitação onde interajam efectivos numéricos maiores, daí ser também mais desgastante. Os contextos de exercitação além de efectivos numéricos maiores, apresentam também uma duração maior e são realizados em espaços de grandes dimensões, ainda que não necessariamente a campo inteiro. Trata-se do mais contínuo dos treinos, ainda que dentro da continuidade deva ser o mais descontínuo possível. A sexta-feira é também dia de subprincípios e subsubprincípios, mas difere da quarta substancialmente pela dominância ao nível da contracção muscular incidir sobre a velocidade de contracção. O que implica desde logo, que os contextos de exercitação contenham pouco estorvo, logo reduzida oposição. Aquilo que deve dominar neste treino são situações de elevada velocidade de execução e de decisão, daí a necessidade de evitar tudo o que se possa constituir como ruido. A prioridade neste treino é fazer, apelo dominante ao córtex motor, àquilo que fazemos com espontaneidade, àquilo que é hábito. Relativamente a este treino o Professor Vítor Frade costuma dizer que “devemos chutar para sexta todas as acções que tenham pouco estorvo”. A alusão ao “chutar” é intencional e sugere que deverá ser nesta unidade de treino, comparativamente com as demais, onde a densidade de situações de finalização deve ser maior. Importa relativamente a este dia salientar que ele não deve ser um dia de muito desgaste, porque lhe antecedeu um treino desgastante, e porque se aproxima mais um momento de competição. Por esse motivo o treino deverá ter uma descontinuidade considerável e deve proporcionar situações ou contextos em que os desempenhos se manifestem de forma breve. O sábado, mais um dia dominantemente da esfera da recuperação, apresenta uma dupla necessidade, a de recuperar e a de simultaneamente préactivar os jogadores. Nesta unidade de treino as situações devem ter baixa complexidade aquisitiva associada, geralmente levada a efeito no sentido de reavivar o que se fez ao longo da semana. Os exercícios devem recriar o jogo, em escalas menores, e devem implicar reduzidos tempos de participação e uma densidade muito baixa. Relembro que o propósito é recuperar e não acentuar fadiga, daí ser também uma sessão bastante descontínua.

Termino esta questão salientando, que há uma tendência muito grande para nos dias que antecedem a competição, nomeadamente sexta-feira e sábado, se dar grande enfâse a aspectos de complexidade acrescida e em contextos excessivamente jogados, com muito estorvo. Isto é para mim um erro, porque pelo tipo de desempenho que tal exige, não permite estar fresco no momento de competição. Penso que isto apenas não é mais evidente, por se constituir como uma tendência geral e como tal, motivar que a generalidade das equipas compita em igualdade ao nível da não frescura. Tudo por não devido cumprimento da alternância sugerida pelo Morfociclo Padrão.

11. Luis Esteves: Como faz em semanas de dois jogos?

Jorge Maciel: Recupera-se. É fundamental perceber-se que quando a densidade competitiva é grande, o mais relevante é recuperar e entender que em tais circunstâncias menos é mais. Vocês no Brasil dizem que «muita água mata a planta», e excesso de treino mata os jogadores e consequentemente a equipa.

Unanimemente os treinadores de futebol concordam que após jogos exigentes, e quem tem elevada densidade competitiva geralmente tem elevada exigência em grande parte dos jogos, são necessários quatro dias para que a recuperação total da equipa esteja assegurada. Poderá haver alguns jogadores que necessitem de menos tempos, mas o grosso não menos de quatro dias. Este parece-me ser um pressuposto fundamental ater em consideração, se empiricamente se reconhece isso, não faz sentido que no período entre jogos muito próximos a minha prioridade seja treinar no sentido de o fazer de forma dominantemente aquisitiva, ou no caso de outras formas de treinar, fazê-lo de modo a “matar” os jogadores de cansaço. A ideia dos quatro dias conta para após e antes, ou seja, desde o último momento de competição, mas também do próximo momento de competição ao último dia de reino de maior exigência. Muitas vezes posso ter esse espaço de quatro dias após o jogo, mas posso não o ter desde o momento que vai desse quarto dia até ao dia da competição, então as minhas preocupações passam por não instalar fadiga nos jogadores.

Os momentos de competição são altamente desgastantes, por terem implicações bioenergéticas diversas mas também por serem altamente aquisitivos. Um desgaste que ainda por cima, é exponenciado pelo facto de ser um estimulo aquisitivo menos controlável da nossa parte, pois a imprevisibilidade a diferentes níveis está muito mais marcada e muito menos dependente da nossa intervenção. Por isso, quando o tempo entre jogos encurta, não há que ter receio de “não treinar”. Uma condição necessária para adquirir passa por criar condições para adquirir, e isto torna-se possível se os jogadores estiverem frescos. Deste modo, a grande preocupação passa por acelerar a recuperação estimulando-os sem induzir fadiga, de modo que com a maior brevidade possível eles estejam disponíveis. Se acelero a recuperação para depois os voltar a fatigar em treino, o que eu quero que aconteça, nos momentos em que quero que aconteça, nos momentos de competição, não vai aparecer. A equipa vai querer e não poder, será uma equipa zombie, com boas intenções mas sem disponibilidade mental e motora para concretizar a gestualidade que o jogar implica, ou pelo menos nos timings que o jogo requisita.

A nossa experiência na Líbia foi muito rica também por esta problemática da recuperação. Para nós era um imperativo porque quando chegamos a equipa estava com bastantes jogos em atraso relativamente às restantes, porque tinha estado a disputar até às meias-finais eliminatórias da CAF Cup. O que motivou que a densidade de jogos da nossa equipa fosse bastante grande, tendo geralmente entre quatro a cinco dias entre jogos. Face a este cenário a nossa grande preocupação era decidir o que fazer para dar a entender que treinávamos, mas que na verdade pouco fazíamos. A prioridade passava por manter os jogadores motivados e satisfeitos por virem ao treino, por acelerar a recuperação dando-lhes estímulos que tinham a ver com o que queríamos, em termos de pormenor, sem que lhes estivéssemos a induzir acréscimos de fadiga. A verdade é que a nossa equipa apesar de ser a que maior densidade competitiva apresentava era também a mais fresca, e isso valeu-nos bastante. Penso que foi determinante esse tipo de preocupação, e as evidências eram claras. Por exemplo marcávamos muitos golos a partir dos setenta minutos. As equipas adversárias conseguiam aguentar uma intensidade boa durante algum tempo, e aqui refiro-me, ao facto de serem capazes de concretizar o que pretendiam, mas depois notava-se falta de frescura para manter tal intensidade e acabavam por deixar de colocar os problemas que nos colocavam enquanto frescas. Nós pelo contrário conseguíamos manter uma intensidade de jogo muito estável durante a totalidade do jogo e como tal quando os outros baixavam por falta de frescura nós superiorizávamo-nos, o que era evidente por conseguirmos mais golos nos períodos finais e no facto de conseguirmos jogar dominantemente no meio campo contrário. Foi uma experiência muito rica também por isso. Claro, que aqui também se deve considerar outros aspectos, como a concepção de jogo e a rotatividade, mas fundamentalmente o aspecto mais decisivo decorria da forma de treinar, “não treinando”.

Um aspecto que talvez seja pertinente referir em relação à questão colocada passa pelo conceder ou não folga no dia após o jogo. Deve ser um aspecto ponderado e que depende também das circunstâncias em que nos encontramos. Por norma, não concederia folgas no dia após o jogo com o intuito de que o que vou fazer em treino permita que eles estejam recuperados o mais rapidamente possível. No entanto, há alturas em que devo ponderar a possibilidade de haver folga. E sempre que possível devo-o fazer. Se até a equipa técnica sente fadiga nestas alturas, imagine-se os jogadores. O estado de saturação dos jogadores e equipa técnica poder ser altamente pernicioso e corrosivo, leva ao mau treinar, ao mau concretizar (jogadores e treinadores) e por conseguinte ao mau estar. Quando a equipa entra num período de elevada densidade competitiva, com várias semanas consecutivas a realizar mais que um jogo, quando o padrão passa a ser esse e a rotina; treino, viagem, estágio, jogo, viagem, treino… Devemos ter o bom senso de se possível conceder folga. Muitas vezes as pessoas dizem «os jogadores ganham muito dinheiro, por isso têm é que trabalhar e não ter folgas», mas as pessoas que dizem isso não sabem o quanto é saturante para um jogador fazer a rotina que referi em cima, com a agravante da pressão ser enorme, das deslocações, esperas e estadias em hotéis e aeroportos ser altamente saturante. Nestes contextos é muito “saudável” para eles e mesmo para nós, equipa técnica, desligar de tal realidade.

12. Luis Esteves: Como define os temas nos dias de treino? Tem alguma propensão fixa diária como: Quarta-Feira aspectos defensivos, Quinta-Feira aspectos ofensivos...

Jorge Maciel: Não, pensar desse modo não faria sentido, sobretudo se defender que o treino dominantemente deve conter a essência do jogo, confronto, inteireza, defender, atacar, transitar, aleatoriedade… O confronto é um aspecto determinante porque nós jogamos sempre contra outra equipa, é ela que nos condiciona e obriga a superar, por isso, mesmo que as minhas preocupações se centrem dominantemente sobre um dos momentos não posso descurar os demais, o que não implica que na intervenção as minhas preocupações não se centrem mais em determinados aspectos. E claro, também a propensão do exercício e a minha intervenção, poderão ser mais de encontro a determinados aspectos do que sobre outros. Para mim o treino deve ser competição, e isto implica não somente o confronto e conflitualidade, mas também a necessidade do meu processo ser fundamentalmente jogado. E se assim é tem tudo, tem a inteireza inquebrantável do meu jogar, e da própria modalidade. Por isso, podendo estar mais centrado em determinados aspectos relativos a cada momento de jogo, em função das prioridades que estabeleço para aquele Morfociclo ou unidade de treino, eu tenho de estar atento, intervir e permitir o vivenciar de todos os momentos, para que eles ao acontecerem sejam consentâneos com o que desejo. Não quero que passe a ideia que treino o jogar todo, não, nada disso, mas tenho de treinar, enquanto treinador, tendo em conta o que quero para o meu jogar todo. Conforme salientei anteriormente para cada dia do Morfociclo há indicadores claros sobre o que treinar e como modelar a unidade de treino de modo a salvaguardar a devida alternância. É com base nesses referenciais e nas prioridades que estabeleço a cada momento e para cada Morfociclo, e isto é que é a hierarquização de princípios, que defino o que treinar. Portanto, tenho necessariamente que saber o que treinar, ou seja, qual a minha ideia de jogo, e saber qual o sentido que faz treinar determinada coisa em determinado momento do processo. Depois tenho de saber que devo obedecer a uma lógica metodológica, que estabelece para cada unidade de treino determinadas directrizes. Unidades de treino que por esse motivo apresentam propensões padronizáveis, mas ao nível da configuração das dinâmicas que compõem a unidade de treino, e não no sentido de determinar que determinado dia corresponde a isto e noutro àquilo, porque se o treino tem de contemplar inteireza inquebrantável, isso não faz sentido, posso como já referi, face às prioridades que vou estabelecendo dar mais enfâse neste ou naquele aspecto. Mas o grosso do processo deve conter inteireza, logo não faz sentido estabelecer que hoje treino aspectos defensivos e amanhã ofensivos, ou hoje aspectos de organização ofensiva e defensiva e no outro dias aspectos relativos aos momentos de transição. Se quero que o meu jogo seja inteireza e possa dar resposta à dinâmica conflitual e de oposição que vou ter em jogo é assim que devo treinar dominantemente. Para mim é um erro, e que noto comum a várias pessoas, associar a cada dia um momento de jogo, ou um propósito. Ou seja, esta ideia de um dia um propósito não faz sentido, mas por si só não basta. Porque há necessidade do treinador face à sua realidade, ao desenvolvimento do seu processo, e às circunstâncias imediatas, estabelecer quais as prioridades “didácticas” digamos assim, para cada momento do processo. Essa hierarquização que se faz semanalmente resulta daquilo que o processo vai exigindo e do que eu desejo dele, e aí os testes cruciais, isto é os momentos de competição, são muito importantes. É por esse motivo que se tem como grandes referencias aquele que foi o desempenho no jogo anterior e aquilo que penso virem a ser (em termos globais) as exigências do próximo, é em função disso que se estabelecem prioridades para a semana de treino. E claro, essas prioridades devem também ter em conta a evolução do processo, no sentido de dar sequencialidade e consistência ao que vai sendo adquirido. Essas prioridades só devem ser contemplados se alicerçadas naquilo que é essencial na nossa forma de jogar, daí que não deva andar a saltar de umas prioridades para outras, sem que haja subjacente um fio condutor, esse sim aquilo que deve ser dominante e não tanto o erros do jogo anterior e a dimensão estratégica a contemplar em função do jogo que se segue.

Concluindo, não penso que num processo que identifico como dinâmico e altamente complexo faça sentido estabelecer propensões fixas para os diferentes dias em termos de “temas”. Aquilo que tenho de saber é que face a um determinado contexto em que o processo se desenvolve, eu tenho referenciais que me auxiliam no modo como dar sequência e alternância às aquisições que se fazem ao longo da semana. É isso que me permite operacionalizar tendo em conta que em função do dia, as escalas do jogar a operacionalizar por nós, e vivenciar pelos jogadores são diferentes. E quando falo em diferentes escalas do jogar refiro-me aos níveis de organização relativos á complexidade aquisitiva do jogar (grandes princípios…), mas também ao modo como estes são efectivados e as implicações subjacentes a nível do padrão de contracção dominante e a nível metabólico.

13. Luis Esteves: Como o professor vê o período conhecido como “Pré-Temporada”, que seriam os dias iniciais da temporada, cerca de 15 a 30 dias dependendo do clube? Quais as preocupações com este período de tempo na visão metodológica que defende?

Jorge Maciel: Para a Periodização Táctica designar este período da época de “pré época” ou “pré-temporada”, não se ajusta porque já faz parte da época. Se assim não for porque não abdicam dele? Geralmente designa-se de preparatório, no entanto não é menos preparatório que o restante período em que há competição formal. Aliás deve contemplar a mesma essência, tanto a nível conceptual como metodológico. A finalidade deste período da época passa por possibilitar que a equipa desde o primeiro jogo oficial revele um bom desempenho, isto é, eficaz e condizente com aquilo que se deseja que a equipa manifeste como identidade. Claro que face à precocidade ou imaturidade do processo, devo ter cuidados especiais nomeadamente, o estado de possibilidade presente dos jogadores, estar atento à necessidade de agilizar o Corpo que ficou adormecido durante as férias, ter atenção com os tempos de exercitação e não menos importante com os de recuperação, que devem ser substancialmente mais alargados. Mas fazendo isso e tendo esses cuidados, sempre tendo como pano de fundo o que queremos vir a revelar como identidade colectiva, e aquilo que queremos fomentar como fundamental do nosso processo de treino. Por esse motivo uma premissa fundamental para que tal se verifique relaciona-se com a necessidade da presentificação continuada do Morfociclo Padrão, fazendo com que esse padrão de desempenho semanal vigore desde a primeira semana de treinos. Mas para que tal suceda é fundamental que o treinador estabeleça previamente qual o caminho que pretende percorrer, ou seja, qual a concepção de jogo que pretende operacionalizar no seu processo. O que se pretende é que se treine em função da aquisição de uma determinada adaptabilidade, a um processo de treino e a um jogar. Daí que se torne fundamental que desde a primeira semana de treinos se procure instalar a habituação a uma matriz metodológica (Morfociclo, e Princípios Metodológicos), que contemple a relação recuperação desempenho que na continuidade vou ter ao longo da época. E claro, simultaneamente também a habituação à Forma, o jogar que essa matriz metodológica deve ter implícito, uma relação necessária, já por mim salientada numa questão anterior. Acreditamos que o que faz neste momento da época é de facto determinante, mas não no sentido convencional. Ele é determinante, porque inicia nos mesmos moldes um processo de habituação que pela continuidade e repetibilidade vai fazer emergir uma determinada identidade colectiva. Consideramos que o Morfociclo Padrão sendo o núcleo duro do processo, permite a habituação a um padrão semanal que contemplando de forma conveniente a dialéctica EsforçoDesempenho não hipoteca a evolução qualitativa de um jogar (por respeito permanente da sua matriz), e que para além disso, possibilita a habituação desde o início do processo a uma elevada densidade competitiva por vivenciação de uma lógica de treino e de alternância que mesmo na ausência de tal densidade a contempla como necessidade. A vivenciação e consequente habituação por parte dos intervenientes do processo, de modo mais evidente por parte dos jogadores, a um determinado padrão semanal, Morfociclo Padrão, capaz de atender aos aspectos referidos, é determinante para que a equipa se habitue à fadiga relativa que se verifica nos momentos de elevada densidade competitiva. A existência desta matriz processual ou metodológica (Morfociclo Padrão), que por sua vez tem subjacente uma determinada matriz conceptual (concepção de jogo – Especificidade) torna possível que as equipas, mesmo em períodos da época altamente exigentes e em regime de fadiga relativa continuem a expressar desempenhos de qualidade sem perda de identidade e funcionalidade fluida. Daí que considere este momento da época fundamental, mas não menos que os que se seguem, pois é esse encadeamentos sequencial que vai dar sentido a tal articulação.

Salientada que está a relevância de tal momento da época, importa ponderar vários aspectos. Por exemplo, se se trata de dar continuidade, ou assumir pela primeira vez a equipa, e no caso desta última se tal implica um ruptura metodológica e ou conceptual. Não obstante as diferenças claras, as preocupações são sempre relacionadas com a aquisição de um jogar, se estou a começar é mostrar a paisagem global do que se pretende e ver o grau de adesão e de conforto de quem realiza. Se vou dar continuidade aí importa reavivar e rever para depois fazer crescer o jogar. Se eu vou dar continuidade a um processo, por exemplo quando inicío a segunda época no clube, parto do princípio que já há uma determinada identificação com a minha forma de treinar e de jogar. Nesse caso terei de atender ao que referi anteriormente, que é a necessidade de agilizar o corpo e também terei de reavivar aspectos importantes do meu jogar, através de uma lógica de treino que eles já conhecem. Se pelo contrário estou a iniciar um processo onde tanto a metodologia de treino como o jogar são diferentes daqueles que desejo, eu tenho necessidade de equacionar várias coisas. Desde logo tenho que ter sensibilidade para saber como os trazer para o que desejo sem conflituar com aquilo que eles têm incorporado. Tenho também de reconhecer, que a manifestação do meu jogar, ou aquele que eu desejo, poderá implicar uma adaptabilidade anatómica e biomecânicas distintas daquelas que eles manifestam, fruto da habituação a uma determinada forma de jogar e de treinar. Esse é um aspecto muito importante, que se eu não contemplo me pode prejudicar consideravelmente o processo, pois a propensão para lesões, fruto de incompatibilidades corpóreas, poderá aumentar consideravelmente. Por isso, quando inicio um processo e desejo implementar uma forma de jogar e de treinar reconhecidamente diferente, deverei ter sensibilidade para gerir muito bem as exigências e consequentes implicações motoras que tal representa para os jogadores. Por isso tenho que ter muito cuidado com os tempos de exercitação, de recuperação e com a necessidade de conferir extensibilidade aos grupos musculares. Por esses motivos poderá até mesmo fazer sentido realizar mais que uma sessão de treinos por dia. Mas não necessariamente treinar a dobrar, opto por fazer duas sessões porque fracciono uma em duas para que possa prolongar e salvaguardar devidamente os tempos de recuperação, o que permite que os jogadores estabilizem melhor o que pretendo que adquiram, e tenham melhores condições, pela maior frescura, para adquirir. Treinar com qualidade implica isso, criar condições para adquirir e se o meu processo coloca a enfâse na Intensidade, associada à concentração mas também á necessidade da concretização se fazer com uma gestualidade fluída, ainda mais pertinente se torna. Além disso esta estratégia de dividir neste período inicial da época as sessões de treino em duas permite que os jogadores se mantenham ocupados, e como o treino não deve ser castigo, ocupados com algo que lhes dê prazer. Mas só é prazer se não fizerem o que convencionalmente se faz, e se de facto desfrutarem evitamos a maçada que é passar tempo e tempo no hotel como sucederia se apenas realizássemos uma sessão de treino por dia. Até por isso pode ser vantajoso, ou seja, para melhor rentabilizar o tempo que os jogadores têm durante os períodos de estágio.

No que diz respeito mais concretamente ao que adquirir e ao modo como se processa tal aquisição entendo ser fundamental estar receptivo àquilo que os jogadores manifestam como parte deles. Embora a ideia de jogo seja nossa, são eles quem a concretizam, daí que não devamos ignorar aquilo que eles são para que paulatinamente os possamos trazer para o que desejamos que eles venham a ser. Salvaguardando esse aspectos, devemos partir do global, isto é, de um esboço global que vai sendo aperfeiçoado e aprimorado a nível de pormenor á medida que o processo se vai desenrolando e assim me vai permitindo. O fundamental no inicio do processo é transmitir a paisagem mental do todo. Levá-los a identificarem-se com o que desejo, levá-los a vivenciar isso, e desde inicio sempre que tal se proporcionar levá-los do fazer à consciência do que fazem, para que desse modo desenvolvam concomitantemente o saber fazer e o saber sobre esse saber fazer.

A adaptabilidade que se pretende desde o início da época é em tudo idêntica, ainda que diversa em grau, da que se deseja ao longo da época, motivo pelo qual, volto a salientar, deve ser vivenciada desde o primeiro treino respeitando a lógica metodológica prevalecente ao longo do processo, ou seja, em termos do que se pretende para o jogar e para o modo como se leva a efeito, a nível geral, a matriz mantém-se inalterada. Só deste modo se torna possível que a equipa, segundo esta lógica de treino, possa estar em condições aceitáveis desde o primeiro jogo da época. Este é mais um dos aspectos em que a Periodização Táctica se destaca, pois não perde tempo com aspectos acessórios. E desse modo, centrando-se no essencial, naquilo que é caracterizador e diferenciador dos desempenho de qualidade, a organização colectiva, consegue que as equipas apresentem, se o jogar e o processo tiverem qualidade, desempenhos de qualidade desde a primeira época. Isto é possível, porque fruto de tal vivenciação continuada e desde início, se obtém uma adaptabilidade a vários níveis, tendo subjacente ou sendo sobredetermianda por uma ideia de jogo, que assim induz no Corpo uma adaptabilidade conforme capaz de permitir a concretização dessa ideia. Uma adaptabilidade altamente complexa que resulta da interacção entre a adaptabilidade motora e fisiológica que emerge e que é condizente com a vivenciação de um determinado jogar. Permite portanto uma adaptabilidade à intencionalidade colectiva, mais Macro, e uma adaptabilidade que necessariamente se tem de instalar a nível do individual, mais Micro, tanto ao nível da identificação com o que se deseja, como também ao nível da possibilidade do organismo estar apto para manifestar e concretizar tal intencionalidade.

14. Luis Esteves: Como o professor idealiza nos dias da semana os assuntos a serem treinados? Se possível dê um exemplo hipotético sobre uma semana de treinos em termos de princípios, sub-princípios, sub-sub princípios...

Jorge Maciel: Quanto ao modo como idealizo as prioridades a serem treinadas em cada unidade de treino, penso que já salientei numa das questões anteriores, e tem fundamentalmente a ver com a necessidade de eu eleger para cada treino aspectos que pretendo treinar, mas tendo sempre em consideração a necessidade de respeitar uma configuração de exercitação que permita que a propensão seja a desejada e a implicada nas subdinâmicas de cada dia.

Quanto a relatar uma semana de treinos, não parece que faça muito sentido porque cada processo tem uma história, e cada semana as suas particularidades. Por esse motivo determinadas coisas que se fazem podem aparentemente fazer todo o sentido no abstracto mas não se justificarem naquele contexto, e o contrário também é verdade, coisas que à partida são disparatadas naquele contexto podem fazer sentido. Uma mensagem que importa passar, sobretudo se as pessoas querem de facto se inteirar do que é a Periodização Táctica, é que a Periodização Táctica sendo uma metodologia de treino de futebol atribui uma enorme relevância ás particularidades do contexto em que é levada a efeito, e isso prende-se fundamentalmente não com a sua dimensão formal, mas com a sua dimensão operativa. Por isso, não é nem pretende ser uma metodologia in vitro, mas sim in vivo. As pessoas têm de perceber, e não ter medo de tomar consciência que a realidade nos coloca perante contextos singulares, em constante mutação e com particularidades únicas que não podem ser descodificadas, em termos de pormenor, à priori. O processo de treino tem necessidades circunstânciais, face àquilo que emerge do próprio processo. E o modo como eu as devo solucionar deve estar balizado pelos nossos grandes referenciais, mas para solucionar tais necessidades, temos de as reconhecer para gerir e actuar sobre o processo em conformidade. Nesta gestão difícil e complexa é fundamental que eu consiga articular de forma coerente e consistente a altamente dinâmica relação entre quantificação à prior (concepção de jogo, um esboço geral) e à posteriori (os acertos que vou fazendo para que o que emerge do processo não fuja da configuração geral estabelecida á priori). O caminho faz-se de facto caminhando, e cada caminho é singular porque tem configurações únicas, singulares que como tal requerem ajustamentos em conformidade. Noto que há uma crescente necessidade da parte das pessoas para procurarem receitas, mas isso não encontrarão na Periodização Táctica. A Periodização Táctica estabelece pilares metodológicos que possibilitam que cada um, dentro da sua sensibilidade e capacidade, seja capaz de dar vida e gerir o seu processo. Por isso, em vez de receitas estereotipadas, e válidas para qualquer jogar e para qualquer realidade, existem referenciais metodológicos que cada deve operacionalizar e assim criar a sua própria receita. Por isso se diz que a Periodização Táctica é um fato feito por medida e não um fato pronto a vestir. É portanto muito mais a arte das trajectórias que a teoria dos alvos, requisitando por isso mesmo do sentido da divina proporção por parte de quem dinamiza tal processo.

Acho que a única coisa que faz sentido é reforçar que nas terças feiras, as preocupações em termos das escalas de complexidade do jogar centram-se nos subprincípios e subsubprincípios, o mesmo sucedendo com a quarta feira, a sexta feira e o sábado. Na quinta feira as preocupações centram-se nos grandes princípios. Claro está, que cada dia leva a efeito tais propósitos com configurações de exercitação, em termos de padrão, distintas, para que a propensão para as subdinâmicas desejadas em cada unidade de treino se verifiquem. Penso que isto é que é de facto o mais relevante, perceber o que fazer e como fazer em função de cada dia do Morfociclo, pois é essa a base de que se parte para a construção das unidades de treino. Depois a nuanciação que cada semana ou cada treino tem em termos de pormenor, resulta tal como já referi da hierarquização que vou fazendo ao longo do processo. Quero contudo aproveitar para reforçar um aspecto que me parece pertinente. Devemos ter em atenção que para que haja coerência e continuidade no que se deseja, e por conseguinte se torne possível o emergir de uma identidade, não devemos andar a saltar de umas coisas para outras. O fio condutor deve estar sempre subjacente aos propósitos a vivenciar e deve ser a partir dele que o jogar se complexifica ao longo do processo. As prioridades que estabeleço semanalmente têm a ver e têm de ter em conta o que está para trás, o presente e o que desejamos que venha a ser o nosso futuro. Se semanalmente as prioridades deixam de ter articulação com o que já existe e com o que esperamos que venha a existir, andamos a saltar e perdemos o rumo do que desejamos. E isso por vezes acontece ou por excessivo enfoque no erro verificado em competição, ou por exagero na dimensão estratégica ou porque deixamos que o acessório prevaleça sobre o essencial.

15. Luis Esteves: Para o professor qual a importância do Erro no processo de ensino?


Jorge Maciel: o erro é parte importante em qualquer processo de aprendizagem e para mim o treino é isso mesmo, um processo de ensino aprendizagem. Perceber porque se erra, alertar para o que está subjacente ao erro são aspectos determinantes, mas para isso o processo tem de permitir o erro, o problema é que muitas vezes a tensão criada pelos treinadores é tão grande que o jogador acaba por ter medo de errar, e claro, erra ainda mais, ninguém lhe dá pistas para corrigir o erro, e fica sem condições para lidar com o erro, entra numa espiral corrosiva. Além disso parece-me que os treinadores querem sempre tudo muito direitinho, têm a vertigem pelo controlo pleno das situações de treino, querem ser deuses de Laplace quando na verdade a essência do Jogo não é essa. O Jogo tem erro, tem ruído, tem inopinado e se treinarmos tentando diminuir isto ao máximo estamos a esterilizar uma realidade que não pode ser colocada num tubo de ensaio. Se vivido in vitro os jogadores errarão menos certamente, mas tornar-se-ão muito menos criativos e sucumbirão perante as novidades e imponderáveis que emergem da estrutura acontecimental do jogo. Tornar o erro fecundo, saber lidar com o erro e criar contextos que não o hipotequem é também uma forma de potenciar a criatividade dos jogadores. Além disso há a intervenção do treinador, que por vezes pode servir-se do erro como catalisador das aquisições que pretende, e tal intervenção poderá servir não somente para quem erra como também para os restantes jogadores. E aqui importa também salientar aquele que é um dos grandes propósitos da Periodização Táctica, o desenvolvimento concomitante de um saber fazer com um saber sobre esse saber fazer, pois é esse saber sobre esse saber fazer que vai levar o jogador a tomar consciência que errou, ou que determinado tipo de ajustamento ou resposta que dá ao contexto, segundo aquele saber fazer é desajustado. Mesmo que tal não fosse noutro jogar, ou relativamente àquilo que poderia ser anteriormente (com outro treinador) uma prioridade, mas que agora se assume como um erro. O que reforça a dimensão relativa do erro e a necessidade de sintonização com o que se pretende. Por exemplo a maior parte das pessoas diz “que para trás anda o caranguejo” e quando vêm um passe atrasado abanam logo com a cabeça, mas isso em determinadas circunstâncias pode ser algo que revela um critério congruente com aquilo que eu posso desejar, logo não valorizo como erro.



Continua.
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Grande abraço
Luis Esteves

6 comentários:

Gilterlan disse...

Espetáculo! Cada vez mais me surpreendo com os conteúdos aqui apresentados. Parabéns, caro Luis!Abraço!!!

FernandoDTfutbol disse...

Luis te felicito por esos buenos articulos que publicas en el blog ... pero seria bueno tener la opcion de traducir al español. Un abrazo amigo !!!

Luis Esteves disse...

Fernando, obrigado, desculpe pela falha da não tradução, porém no meu windows tem uma possibilidade de traduções de página, veja se não tem no seu, grande abraço.

Gilterlan, obrigado professor, agradeço pelo elogio e fico feliz em ajudar e ser ajudado, como voc~e faz no seu blog e site. Porém acho que deve agradecer ao Jorge pela disponibilidade em responder tantas perguntas, conferi-las, corrigilas, repassa-las ao professor Frade e depois me reenviar, sendo que sou uma pessoa desconhecida.

Eu diria que é um exemplo a ser seguido em um mundo como o nosso, em que a competitividade esta chegando ao extremo e os adversários já viraram inimigos faz tempo.

Que esta entrevista sirva como um exemplo, seja para cada vez mais pessoas um imperativo categórico* e universal*, não só para a metodologia do futebol bem como para a sua qualidade e estética, além de evoluções culturais e filosóficas que obrigatóriamente teremos que ter nos p´roximos tempos.

Grande abraço

Obs aos amigos: Até ler esta entrevista, eu não sabia quem era Immanuel Kant (não só ele como muitos outros autores), não conhecia a sua Metafísica dos costumes e consequentemente seus imperativos categóricos, universais e prático, assim como outras coisas que pensou e escreveu em seu tempo, portanto não se assuste se por acaso algumas palavras ou conceitos não forem conhecidos seus, busque as fontes, pesquise, conheça, pense sobre e verá que na verdade haverá uma grande teia que se liga direta e indiretamente.

Uma vez o professor Medina acho que disse uma frase interessante:

"Se você fizar a mesma coisa por 10 anos, provavelmente esta fazendo algo errado", algo assim.

Não se preocupe em não saber, se preocupe em aprender.
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Wikipedia:

Imperativo categórico é um dos principais elementos da filosofia de Immanuel Kant. Sua ética e moral têm como base esse preceito.

Para o filósofo alemão, imperativo categórico é o dever de toda pessoa de agir conforme os princípios que ela quer que todos os seres humanos sigam, que ela quer que seja uma lei da natureza humana.

O imperativo categórico é enunciado com três diferentes fórmulas, são estas:

O próprio imperativo categórico, sobre o qual Kant coloca: "Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, por tua vontade, lei universal da natureza".

O imperativo universal: "A máxima do meu agir deve ser por mim entendida como uma lei universal, para que todos a sigam".

O imperativo prático: "Age de tal modo que possas usar a humanidade, tanto em tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre como um fim ao mesmo tempo e nunca apenas como um meio".

Douglas Tajes Jr. (Juca) disse...

Boa Noite Professor Luis!

Muito obrigado por mais esta bela postagem sobre a PT. Precisamos de subsídios para cada vez mais nos inteirarmos sobre esta metodologia tão fascinante!

Gostaria de saber se o Professor tem a monografia do Professor Jorge Maciel e se poderia me vender?

Estou muito interessado, pois tentei comprar o livro e fica muito caro trazer de Portugal para o Brasil

Abraço, Juca.

Luis Esteves disse...

Juca

Boa noite

Obrigado pelo comentário, porém mais uma vez digo que deves agradecer o Jorge Maciel e não eu.

Quanto a monografia, tenho sim,não posso vende-la, pois não foi eu quem fiz, porém envio-te ela gratuitamente, acho que o Jorge não se importaria.

Aconselho a compra do livro pelos seguintes motivos:

Praticidade, em transporta-lo para leitura em diferentes locais, a monografia tem mais de 600 páginas, ou seja, fica um caderno muito grande se impresso e não é muito prático para movimentar.

Alguns imprimem 2 ou 4 folhas por página, mas eu acho isso ruim.

Preço, o livro é mais barato se comparado a uma impreesão, mesmo que barata em gráficas, até mesmo em casa, o gasto com a impressora já vale a pena, além da qualidade do material.

Na penultima questão que fiz ele fala sobre a aquisição do livro, em breve estarei postando isso.

Grande abraço

Douglas Tajes Jr. (Juca) disse...

Bom dia Professor Luis!

Meu endereço de e-mail é:
douglastajesjr@hotmail.com
Para quando puder enviar a monografia do Jorge Maciel!

Mais uma vez muito obrigado!

Abraço Juca.