quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A ARTE DE PERCEBER O CONTEXTO - FORMANDO OU FORMATANDO

Siegmann quer Inter alto e forte

Vice de futebol planeja mudar rumo das categorias de base do clube

Leandro Behs

O novo vice de futebol do Inter, Roberto Siegmann, começa 2011 com duas missões. A primeira, é urgente, contratar três ou quatro reforços para defender o título da Libertadores. A segunda, a médio prazo, é revolucionar as categorias de base. O plano de Siegmann é privilegiar a formação de jogadores mais altos, mais fortes e mais atléticos. É claro que jogadores diferenciados fora dos novos padrões de medidas seguirão com espaço.

A direção pretende padronizar o biotipo da gurizada e a forma de atuar de todas as equipes — da base ao profissional.

O interior do Paraná, considerado um rico nicho de jovens atletas e de onde vieram Nilmar e Alexandre Pato, passará a ser visto com maior atenção pelos avaliadores do Inter.

Não que o trabalho dos últimos anos, responsável por revelar Nilmar, Sobis, Pato, Sidnei, Luiz Adriano, Taison e Sandro esteja desgastado. Pelo contrário. O Inter é reconhecido por especialistas como o maior formador do Brasil nas recentes temporadas. A ideia é aliar maior compleição física à técnica dos jogadores. Élio Carraveta e Fábio Mahseredjian também deverão nortear o trabalho dos preparadores físicos dos juniores, juvenis e infantis.

Foi em Abu Dhabi que Siegmann teve certeza da necessidade da mudança de rota. Ao ver os jogadores da Inter, de MiIão, entrando em campo notou que quase todos eles eram mais altos e mais fortes do que os colorados. Em cinco anos, o dirigente quer um Inter vitaminado emergindo da base. — As grandes equipes da Europa têm jogadores com porte físico mais avantajado. Queremos que a nossa base tenha atletas com este padrão para abastecer o time principal — disse Siegmann. — A partir de agora, dificilmente buscaremos jogadores baixos para a base — acrescentou.


Para isso, os novos diretores das categorias de base já analisam jogadores e seus desempenhos nas últimas temporadas. A reformulação terá início pelo enxugamento de algumas categorias — hoje, o investimento na garotada ultrapassa R$ 1 milhão por temporada. Um exemplo: o time juvenil conta com 60 jogadores. Apenas metade permanecerá. Os demais poderão ser negociados (todos têm contrato). O clube pretende investir forte em mercados secundários da Europa, como Suécia, Noruega, Dinamarca e Bulgária, além da Austrália e da Nova Zelândia. Vendendo três ou quatro jovens para estes países seria possível evitar a negociação de um atleta do grupo principal.

- Também faremos uma correção de rumo: a nossa base está organizada para ganhar competições, agora, vamos pensar em criar jogadores para o time de cima. Os títulos serão consequência — afirmou Siegmann.


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REFLEXÕES SOBRE AS TENDÊNCIAS DO JOGO


Não conheço o Sr. Siegmann, porém acredito que para estar dentro de um dos maiores clubes do mundo, deva ser uma pessoa preparada para isso, é advogado reconhecido em Porto Alegre pelo que analisei porém me pergunto, que conhecimento tem para definir os rumos da categoria de base em termos morfológicos dos jogadores que irão compor as equipes do clube?


Não seria necessário para pensar esta função uma pessoa com formação académica específica? Lógico que pessoas como o professor Élio Carraveta ao qual fui aluno e considero um dos melhores professores que tive na minha formação académica tem participação grande no processo, mas ficam moldados as vezes por ideias que vão contra a evolução do jogo, vejamos:

O Inter esta usando como parâmetro a Internazionale de Milão que como sabemos ganhou tudo em 2010, principalmente quando era treinada pelo fenômeno José Mourinho, chegou no mundial em má fase e mesmo assim foi muito superior aos adversários, e eu me pergunto: Será que a altura e a força são as origens disso?

Historicamente o futebol sofreu mudanças morfológicas no que diz respeito a estrutura física dos jogadores principalmente após 1966 com a seleção inglesa, que iniciou um movimento dentro do jogo que ficou conhecido como Futebol Força.

O Futebol Força surgiu pela falta de qualidade técnica (na época) das seleções europeias em um momento em que o futebol tinha em termos espaço-temporais muito mais possibilidades de criação. Tanto é que após a Seleção Húngara que tinha também conceitos muito avançados para a época e contribuiu demais para a evolução do jogo - e foi vencida num daqueles momentos cretinos do futebol pela seleção da Alemanha que vinha de uma reestruturação social pós-guerra e levou isso para o campo de uma forma heróica típica alemã, que pode ser vista no filme O Milagre de Berna (http://pt.fifa.com/classicfootball/matches/match=1278/index.html) - depois disso o futebol brasileiro que tinha como padrão morfológico a valorização da técnica do jogo, reinou por dois mundiais, exatamente 8 anos. Vencendo a copa de 1958 na Suécia e a copa de 1962 no Chile, a seleção brasileira se tornou a força a ser batida pelas outras seleções.

Sistematicamente os clubes europeus iniciaram um molde para a superação deste tipo de jogo, pois no 1x1 valorizando a qualidade técnica, o fracasso era praticamente certo. Então, em casa, em 1966 a seleção inglesa por questões situacionais acabou "inventando" o 4.4.2 clássico  duas linhas e o conceito de Futebol Força, que nada mais era do que "Jogar e não deixar jogar", muitas vezes com jogadas violentas e desleais como foi visto no jogo entre Portugal x Brasil em que Pelé por duas vezes recebe carrinhos criminosos do jogador Vicente e acaba saindo lesionado. Após o êxito da seleção inglesa o futebol mundial como de costume assumiu essa identidade e o jogo do futebol força reinou até que em 1970, percebendo que somente o futebol sul-americano praticado principalmente por Brasil e Argentina, mais tradicionalmente o futebol brasileiro conhecido como Futebol Arte, não seria o suficiente para vencer o Futebol Força, já que a força conseguia superar a técnica, portanto era necessário uma fusão entre o a capacidade atlética e a técnica.

Então a seleção Brasileira comandada pelos professores Mário Zagallo, Carlos Alberto Parreira, Cláudio Coutinho, Admildo Chirol dentre outros excelentes profissionais, iniciou um trabalho "físico" de aclimatação no México que teve um volume de cerca de 1 mês, o que possibilitou uma preparação dita específica na época e foi relatada em um pequeno caderno publicado posteriormente com os resultados de testes e avaliações de cada jogador nos mecanismos de avaliação da época.

O Brasil nesta copa assumiu um novo futebol, e dentro deste novo futebol um dos conceitos que pregavam os utilizadores do futebol força - o contra-ataque. A seleção brasileira nesta época marcava no seu campo, com um bloco muito compacto e saía costumeiramente com variação de ataque organizado com uma série de 5 jogadores sempre (Tostão, Pelé, Jairzinho, Rivelino e Gerson) ou saía em velocidade com transições rápidas com Jairzinho, que se não me engano em jogadas em profundidade acabou sendo o artilheiro da seleção na copa. Após isso mais uma vez houve uma resposta morfológica do jogo aos conceitos que existiam na época, porém de certa forma casual já que em 1974 a seleção holandesa chega a copa com tradição zero nesta competição e acaba imprimindo um novo conceito de jogo.

A seleção Holandesa em 1974 ( Há quem diga que o Inter do Rubens Minelli já jogava assim no inicio da década de 70) aperfeiçoou isso, e evoluiu a ideia, tornando o jogo além de Físico, também técnico (novamente), pois a extrema mobilidade que a Holanda apresentava para as infinitas criações de linha por arrasto exigiam uma alta resistência específica ao jogo e uma percepção extrema as trocas de posição as as funções realizadas em cada setor tanto em relações setoriais quanto intersetoriais. Os Holandeses corriam mas não corriam muito, apenas corriam antes. Johann Cruyff falou já muitas e muitas vezes que nunca foi um jogador rápido, no fundo o que o tornava mais rápido era que conseguia antecipar a ação e sair antes e receber a bola sempre sem pressão, mas jogavam tinham um jogo de passe perfeito e só não venceram a copa porquê a Alemanha também era fantástica e o futebol foi mais uma vez cretino.

Após isso o futebol (Como de costume pós-copa) tomou um novo rumo, o rumo do futebol total. E as equipes copiaram este modelo porém neste caso ninguém conseguiu copiar o mesmo, o que acabou cristalizando a ideia de que aquele tipo de jogo aconteceu por sorte e que jamais alguém conseguiria fazer a mesma coisa. O fato é que este modelo só acabou tendo sucesso posteriormente no FC Barcelona, isso anos depois no inicio da década de 90 quando o próprio Cruyff assumiu o comando técnico do Barcelona e lá implantou uma filosofia que acabou se enraizando de tal forma que hoje já virou uma identidade. Vale dizer que Rinuns Micheis já havia plantado uma semente na década de 70 quando treinou o mesmo FC Barcelona tendo Cruyff como atleta na época.

Na década de 80 houve também a iniciação mais aprofundada a utilização de 3.5.2 - que teve também uma pequena febre mundial, mas logo foi novamente substituído por estruturas com linhas que 4 principalmente quando treinadores em sua maioria europeus (talvez por contarem menos com a qualidade técnica e criatividade e consequentemente ter uma preocupação maior com o jogo de equipe) perceberam que a marcação individual e mista muitas vezes utilizadas em estruturas mais antigas e no próprio futebol força não proporcionavam uma organização ideal em termos estruturais , além do desgaste individual do jogador tanto físico quanto mental, e acabaram sendo substituídas por defesas zonais, que propunham um jogo mais inteligente e de desgaste menor, que começou a ter um destaque maior com Arrigo Sachi se não me engano no Milan da década de 90, este por sua vez iniciou na Itália o jogo de marcação por zona, privilegiando principalmente a largura.

Vale dizer que a seleção Holandesa de 74 também marcou muito o conceito do "pressing" porém, neste caso de forma mais vertical, afinal era costumeiro ver jogadores em pequenos grupos ou grandes grupos indo todos para cima de um único adversário, consequentemente isso acabou gerando a estratégia de linha de impedimento, que posteriormente no Brasil tentou ser copiada e pelos fracassos de algumas equipes ao tentar copiar o conceito sem o aprofundamento necessário acabou sendo apelidada de "linha burra" coisa que se escuta até hoje principalmente de treinadores ex-jogadores desta época que não foram expostos a informações corretas.

Após isso o jogo se seguiu pelas copas sequentes sem muitas novidades estruturais. Mathaus como líbero em 90 foi outra moda, em 94 Mauro Silva compondo um 3 zagueiro (talvez herança do p´roprio Mathaus)  também acabou moldando muito a forma de marcar principalmente aqui no Brasil, além da clássica composição de 2 volantes e 2 meias, sendo que destes volantes um tinha que saber jogar e o outro destruir. Essas foram algumas heranças desta copa, em 98 a França vencendo não gerou grande contribuição pois o fator "Convulsão Ronaldo" acabou tomando mais a mídia do que o próprio título. Já em 2002 a seleção ganhou uma copa relativamente fácil jogando um futebol normal sem grandes evoluções mas de muita eficácia , em 2006 novo fracasso do dito futebol arte, e vitória do futebol força italiano. E finalmente chegamos na era FC Barcelona e da Seleção Espanhola.

Após 2006, ano em que o FC Barcelona começou a ter um maior destaque contínuo em termos de conceito e estética de jogo, o futebol começou a absorver estas ideias, ou pelo menos começou a observa-las afim de saber quais seriam os futuros resultados. Esta era foi marcada pelo fenômeno Ronaldo Gaúcho, que teve alí a sua melhor fase no futebol mundial. O FC Barcelona tinha uma equipe fantástica e conseguia imprimir seu modelo com frequência em jogos de diferente dificuldade o que é sempre complicado.


Bom, quis chegar até aqui para exemplificar o estágio atual que o rumo do futebol mundial vem tomando e a tendência estética evolutiva do jogo, coisa que me parece o Sr. Siegmann não percebeu ou simplesmente não conhece, até porquê estas disciplinas e assuntos não devem ser ministradas na Faculdade de Direito.


Vejamos as declarações:
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Aqui já vejo um grande problema. Jogadores mais altos, mais fortes e mais atléticos. Parece até que o Barão Pierre de Coubertin assumiu a coordenação da base do SC Internacional com seu velho lema do Citius, Altius e Fortius. E claro, os diferenciados fora dos novos padrões de medias seguirão com seu espaço. Isso é de deixar indignado qualquer pessoa que tenha a mínima noção sobre a complexidade da formação de jogadores. A complexidade que envolve a formação (Que considero do Sub10 até o Sub 15) é tamanha que é impossível prever quem chegará aos 15 anos com estas caracteristicas.
"O novo vice de futebol do Inter, Roberto Siegmann, começa 2011 com duas missões. A primeira, é urgente, contratar três ou quatro reforços para defender o título da Libertadores. A segunda, a médio prazo, é revolucionar as categorias de base. O plano de Siegmann é privilegiar a formação de jogadores mais altos, mais fortes e mais atléticos. É claro que jogadores diferenciados fora dos novos padrões de medidas seguirão com espaço."

Digo isso porquê a maioria dos clubes possui equipes (Seleções) de base em que a partir dali geram um processo formativo de vários anos, até culminar na chegada ao profissional, porém, se fizermos uma avaliação qualitativa de quem coloca mais jogadores na equipe principal, veremos que o aproveitamento é muito baixo, normalmente os jogadores formados pelo clube ficam a disposição de uma equipe "B" , quando não são negociados.

Um jogador que aos 12 anos é destaque pela força e altura, dificilmente será aos 15 anos o mesmo destaque, isso pelo simples fato de que a velocidade de maturação, as caracteristicas morfológicas que compõem o jogador, a maturidade cognitiva, varia de ser humano para ser humano e isso representa, na formação do jogador, uma vantagem ou uma desvantagem para cada um. Além do estress e da incapacidade mental de lidar com tamanha fama ou cobrança (mesmo que pequena na base) que os jogadores de clubes maiores passam, ainda mais os que tem passagem pelas seleções brasileiras de base. Nesta fase é comum o jogador já começar a perder o prazer pelo jogo, pois a tendência é a "preocupação" pelo resultado final e não o "aproveitamento prazeiroso" do jogo, do processo do jogo. A essência está no prazer pelo jogo, o jogador por mais profissional que seja se diverte fazendo isso, quando essa diversão passa, não há mais futebol.

Continua:
  
"A direção pretende padronizar o biotipo da gurizada e a forma de atuar de todas as equipes — da base ao profissional.


O interior do Paraná, considerado um rico nicho de jovens atletas e de onde vieram Nilmar e Alexandre Pato, passará a ser visto com maior atenção pelos avaliadores do Inter. "
Aqui acho interessante, sempre afirmam que o Nilmar é uma revelação da base do Inter, porém o mesmo chegou ao SC Internacional já Junior/Juvenil, trazido do interior do Paraná pelo então treinador Mano Menezes. E teve apenas um trabalho final de preparação antes de subir para o grupo principal. Se alguém formou este jogador (Como se alguém pudesse ser responsável individualmente pela formação de alguém) foi o pessoal do Bandeirantes, clube anterior do Nilmar.
"Foi em Abu Dhabi que Siegmann teve certeza da necessidade da mudança de rota. Ao ver os jogadores da Inter, de MiIão, entrando em campo notou que quase todos eles eram mais altos e mais fortes do que os colorados. Em cinco anos, o dirigente quer um Inter vitaminado emergindo da base. — As grandes equipes da Europa têm jogadores com porte físico mais avantajado. Queremos que a nossa base tenha atletas com este padrão para abastecer o time principal — disse Siegmann. — A partir de agora, dificilmente buscaremos jogadores baixos para a base — acrescentou."
Agora vejamos alguns dos jogadores destaque das duas equipes. Peguei os jogadores de maior qualidade técnica, os destaques. Deixei os jogadores que se valem do esforço físico e da força de fora desse comparativo. Vejamos a "altura" dos jogadores das duas equipes:



Zé Roberto - Nova contratação do SC Internacional, congruente com a nova ideia de uma equipe alta e forte.



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Phillipe Coutinho - Uma das últimas contratações da Inter de Milão, alto e forte são caracteristicas que não possuem o Coutinho.
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Continuando:
Vejamos agora o que a FIFA considera o "melhor futebol", jogado pelos "melhores futebolistas:
"Siegmann afirma: — As grandes equipes da Europa têm jogadores com porte físico mais avantajado. Queremos que a nossa base tenha atletas com este padrão para abastecer o time principal — "
A "Final" foi disputada por 3 jogadores como sempre, e "coincidentemente" os 3 são jogadores do FC Barcelona. São Eles:





Como facilmente se percebe a estatura não é uma característica determinante para a maioria das posições no futebol. Pelo contrário, a estatura média/baixa é uma das caracteristicas de jogadores de baixo centro de gravidade, portanto, de maior habilidade no contato com a bola, porém não me custa concordar que para algumas posições a estatura é importante, como zagueiros ou goleiros, ou até mesmo atacantes de centro. Os três melhores em média possuem 1,70 cm, e para os que acham que o Sneijder deveria estar ali no lugar do Iniesta, tanto faz, pois o mesmo tem 1,70 também.

O que me causa grande irritação é a limitação de possibilidades a jogadores pequenos, na base, por conta da estatura, da velha frase "Sabe jogar,mas pena que é pequeno"..."É bom, mas não vai jogar porque é muito pequeno".

Abaixo vemos outros jogadores pequenos e fisicamente sem grande força, que provavelmente eram pequenos na base também, e se não tivessem recebido oportunidade por outros valores que possuem, jamais teriam chego onde estão hoje:

Vejamos:







"- Também faremos uma correção de rumo: a nossa base está organizada para ganhar competições, agora, vamos pensar em criar jogadores para o time de cima. Os títulos serão consequência — afirmou Siegmann."
Aqui finalmente concordo com o Sr. Siegmann, há muito o SC Internacional vem colecionando titulos de base, como se isso tivesse algum valor, uma dae equipes mais vitoriosas da base do Inter não colocou quase nenhum jogador no time principal




Equipe 93 do SC Internacional, multi-campeã... porém quem ainda compõe o grupo juvenil/junior do clube?



Então, por experiência própria de 8 anos participando consecutivamente de competições sul-americanas, nacionais, estaduais, regionais, em todo o sul e sudeste do pais, tive a oportunidade de ver muitas equipes do SC Internacional e todas que eu vi, possuíam atletas altos e fortes para a respectiva idade (nem sempre na idade certa) em todas as faixas etárias, e todas ou venciam a competição, ou estavam na final disputando o título, então, se estas equipes sendo altas e fortes,rápidas e vencedoras conseguem fazer isso na base, porquê não conseguem projetar a nível profissional seus jogadores a ponto de chegar no time A e jogar?


É de fato uma questão complexa, por isso não podemos solucioná-la de forma tão analítica quanto esta, buscar jogadores fortes e altos para a base. Faço minha consideração pessoal à respeito da solução deste problema que é o mesmo que assola a base de 99% dos clubes brasileiros, é uma questão que engloba todo o pensamento da formação do clube, vejamos:


- Obrigações da formação;
- Objetivos da formação;
- História do clube;
- Regulamento ;
- Formação de quem forma;


OBRIGAÇÕES DA FORMAÇÃO

A base é base exatamente para proporcionar uma sustentação ética-moral-cognitiva ao jogador, portanto quando colocamos como obrigação a aquisição de títulos, hierarquizamos de forma errada o processo. Ganhar a qualquer custo, ganhar sempre custa aos jogadores trilhar um caminho diferente do jogar para "jogar bem" portanto como OBRIGAÇÃO da base, entendo que deve ser o fator "prazer" pelo jogo, e a formação ética-moral correta, ou seja eliminar a malandragem que impera principalmente vinda dos ex-jogadores que não se aperfeiçoaram cientificamente.

É fundamental entender isso, a forma como criamos a hierarquia do processo, irá gerar um produto final diferente, para entender isso volto a minha postagem feita dia 14 de Outubro de 2010, sobre a formação do FC Barcelona:

"Vestindo a camisa 6 do time, Xavi Hernandez se tornou um dos símbolos da equipe. Muito criativo e apelidado de “La Máquina” pelo primor de seus passes, o jogador revelou, em entrevista ao portal oficial da Uefa, a importância do projeto do Barcelona nas categorias de base para a construção do atual elenco.

"Tinha 11 anos quando aqui cheguei, e a filosofia futebolística deste clube foi incutida em mim desde o início. O mais importante nesta fase é a vontade de aprender. A filosofia é a de que o resultado é o que menos interessa", disse o meia.

Destaque nas assistências, o meio-campista também falou sobre os ensinamentos práticos que teve no clube. Inicialmente criticado por sua lentidão em campo, Xavi revelou algumas peculiaridades nos treinamentos de jovens atletas catalães.

"Fomos ensinados a jogar em triângulos, e a ter a bola sempre em movimento. Criam-se bons hábitos, como aprender os pontos fortes dos nossos companheiros e jogar sempre de cabeça levantada", explicou.

Segundo Xavi, os benefícios para a equipe principal do clube são evidentes. “Jogar de forma inteligente, passar para o pé direito de um jogador destro, ou para o esquerdo de um canhoto. Antes de receber a bola, já saber o que fazer com ela. Podem ver o resultado desse desenvolvimento, com oito ou nove jogadores-chave da equipa principal do Barcelona oriundos dos escalões jovens. Formam a base sob a qual a equipe é construída", declarou ainda em entrevista ao site."
Acho que não é necessário citar os jogadores que hoje formam a equipe A do FC Barcelona, base campeã mundial com a seleção espanhola, dos titulares, apenas Villa, Piqué, Abidal e Daniel Alves não são formados no clube. o Resto dos jogadores é formado em Lá Másia, como é conhecida a Sede em que concentram os jogadores e mantém o processo de treinos semanais.

OBJETIVOS DA FORMAÇÃO

Os objetivos são diferentes das obrigações, porém em que sentido? As obrigações não dependem do talento, os objetivos sim, as obrigações temos que atingir, os objetivos nem sempre teremos sucesso, pois são muito imprevisíveis, mas as obrigações, estas não são imprevisíveis, muitas situações irão ocorrer, até com certa imprevisibilidade, mas às nossas obrigações éticas e morais como profissionais ou atletas nos possibilita uma previsibilidade sobre as soluções, por isso são obrigações.

Mas os objetivos são diferentes, por exemplo, podemos ter como objetivos ganhar títulos, porque não, mas antes disso, antes do titulo ser consumado é necessário jogar, então me pergunto, qual seria uma boa meta para à formação?

Volto no tempo e busco o sentido do jogo, por quê joga-se futebol? o que faz as crianças saírem de casa à tarde e ir a um campo, auto-organizarem um jogo e passar a tarde jogando sem árbitros nem camisas nem nada? Para mim é o simples prazer pelo jogo.

Lógico que o futebol profissional tem parâmetros diferentes, tem elementos que no futebol de rua não existe, e muitas vezes na formação também, o que nos resta então é criar uma RAIZ.

Esta raiz nada mais é do que uma identidade tão profunda, que o jogador ao ser colocado em um novo contexto consiga se adaptar, mas sem mudar sua essência, sem mudar seu estilo. Porém para que isso ocorra, é necessário que o jogador seja exposto a uma realidade que possibilite ele se auto-desenvolver dentro de um sistema formativo gradativo, com objetivos de diferentes complexidades tais como:

- Dominar a bola e o jogo;
- Dominar diferentes jogos e estruturas;
- Dominar o Modelo de Jogo do Clube;
- Dominar e Impor o Modelo de Jogo do Clube;
- Dominar e Impor o Modelo de Jogo do Clube em competições fáceis;
- Dominar e Impor o Modelo de Jogo do Clube em competições difíceis;
- Impor o Modelo de Jogo na Equipe Profissional;

Lógico que para que isso ocorra, é necessário um ambiente estável, impermeável a mudanças do treinador do time A. Por exemplo, se amanha sair o Guardiola, e entrar o José Mourinho, é fundamental que este consiga imprimir o Modelo de Jogo do clube na Equipe, pois se não conseguir isso estará ferindo a cultura futebolística da instituição, e isso acarreta em uma cascata de problemas, mesmo que se consigam títulos.

Aqui chegamos no problema do SC Internacional. O Inter não forma jogadores, forma apenas equipes que vencem, mas que não conseguem proporcionar aos jogadores uma cultura de jogo, só acontece uma cultura de vitórias, neste tipo de processo o nível de aproveitamento é muito reduzido pois é aleatório e dependente da sorte e do talento individual.

No momento em que o SC Internacional souber que futebol quer para o clube, souber identificar o futebol que levou-o a ser um dos maiores clubes do Brasil, ai sim poderá pensar que jogadores quer e sistemicamente eles irão aparecer na base.

Vejamos a cultura holandesa: Na Holanda boa parte das equipes tem como molde o 1.4.3.3. Se pensarmos de forma sistêmica, ao padronizarmos esta estrutura como estrutura base, acabamos gerando jogadores para estas posições, e a natureza do sistema (sistema não como estrutura, mas sim jogadores como elementos em interação no desenvolvimento do processo) e os jogadores se tiverem autonomia irão encontrar seus lugares, dentro de uma mentorização da comissão, mas sem estereótipos, sem preconceitos, afinal não sabemos como será este ou aquele jogador daqui a 3 ou 5 anos.

Porém é necessário detectar determinado elemento que este jogador possui, como por exemplo uma visão espaço-temporal muito apurada, então, dentro do sistema, dentro do processo, deixar ele crescer abastecido pelos conceitos de jogo que a cultura do clube coloca.

HISTÓRIA E CULTURA DO CLUBE

É fundamental identificar a cultura do clube, os conceitos de jogo que levaram o clube a ser o que é. Alguns clubes não tem uma cultura definida, outros tem. Isso não significa que alguns conceitos não possam ser colocados, pois o futebol de 1970 é diferente do futebol de hoje como vimos neste mesmo artigo, porém a base do jogo deve ser mantida, dou o exemplo da dupla Gre-nal. O Grêmio tem como característica um jogo muito mais vertical, de transições, de jogo aéreo, é um clube acostumado com vitórias difíceis, suadas, e isso identificou a torcida ao clube, portanto se colocarmos o Grêmio a ter uma posse de bola mais horizontal do que vertical podemos ter problemas com a identificação histórica do clube.

Já o SC Internacional tem um histório de jogo de passes, a equipe do Inter multi-campeã na década de 70 apresentava um jogo de qualidade, portanto a torcida se adaptou a isso, no momento em que colocamos jogadores com características diferentes, podemos estar interferindo na trajetória do processo, e um jogo de passes necessita em sua maioria jogadores menores com maior precisão.


REGULAMENTO

Dentro de campo, irei usar o exemplo de Portugal como possibilidade de gerar um tipo diferente de formação. Em Portugal utilizam o futebol de 7 como base de estrutura de jogo para as categorias menores, acredito que de 9 até 12 anos, não sei precisar exatamente a idade, porém jogam 7 contra 7 e isso possibilita um crescimento mais saudável, em termos de participação e entendimento do jogador, mesmo que em termos funcionais e posicionais, não haja grande aprofundamento, o que não é o objetivo nesta fase.

É a coisa mais normal, em competições, jogadores de 10 anos jogando em um campo oficial, tocando duas ou quatro vezes na bola, sendo que em alguns casos errando, e não tendo novas oportunidades para acertar. Isto é fruto do espaço de jogo e do número de jogadores. Um jogo com menos jogadores, ou campos menores seriam um bom passo para a criação de melhores jogadores com melhores conceitos de jogo.

FORMAÇÃO DE QUEM FORMA

Este talvez seja o principal elemento da formação, os formadores. Formar um jogador é diferente de formatá-lo. Ao ver as declarações do Sr. Siegmann acredito que a idéia é formar o todo a partir das partes, e não formar as partes a partir do todo, ou seja, é uma hierarquia de valores diferente.

Se formarmos jogadores para jogar de determinada forma, buscando o nosso todo que seria o nosso modelo de jogo, a forma como queremos jogar, automaticamente iremos ter jogadores desta forma, ou pela busca ao clube, ou por contratações, porém para isso precisamos ter essa forma de jogar definida, conceituada, flexível mas possível de ser percebida, e isso é um problema no Brasil.

Tendo isso, o jogador será realmente formado, de forma muito específica, de forma autônoma, mas baseada em conceitos, o jogador tem a possibilidade de escolha, se quer jogar no clube, se busca o clube, é por ter estas características.

Porém, se vai ao clube para ser campeão apenas, ou se vai ao clube por este clube ter uma grande estrutura, se vai ao clube por motivos que não sejam os conceitos de jogo, ai entramos na questão da hierarquia novamente, lógico que é fundamental amar o clube, a paixão é o principal combustível do "querer" jogar no clube, quando isso não existe torna-se mais difícil assimilar uma forma de jogar futebol.

Então a participação dos professores é fundamental, é fundamental que sejam profissionais capacitados metodologicamente, se tiverem histórico esportivo melhor, porém isso é secundário, é necessário entender as diferentes fases do processo de formação, a cobrança por determinados objetivos, a postura a formação do caráter do grupo, e para isso é necessário também uma direção estável e que acredite neste processo.

A partir deste momento, então irá nascer um ciclo de formação, que inicia nos pequenos e termina no profissional, onde anualmente é possivel identificar pessoas que são aproveitadas no grupo principal, sem medo de jogar, pois já conhecem o modelo do clube como conhecem a sí mesmos, e esta possibilidade gera uma tranquilidade, tranquilidade esta que é típica desculpa para as más atuações de jogadores jovens no time A, lógico quando um ambiente é novo é normal ocorrer instabilidade pois não dominamos os acontecimentos, as probabilidades, porém, se tivermos um(s) conceito(s)-guia, entre quem entrar irá conseguir jogar, pois é como uma conversa, se todos falam a mesma lingua, todos podem conversar.

Grande abraço
Luis Esteves

4 comentários:

Edgar Ferreira disse...

Como diz o Prof. Vitor Frade: "um dos maiores sintomas da ignorância é o atrevimento."
Parabéns pela reflexão!
Cumprimentos

Edgar

Unknown disse...

BELA POSTAGEM PROFESSOR LUIZ!!!!
OQUE O SIGMAN VIU POR LÁ E NÃO SOUBE ENTENDER E TÃO POUCO EXPLICAR POR PURA IGNORÂNCIA, FOI NADA A MAIS QUE JOGADORES QUE ENTENDEM O JOGO E QUE SÃO MUITO BEM TREINADOS POR SEUS TREINADORES, INDEPENDENTE DO SEU TAMANHO OU DO TAMANHO DE SEUS MUSCULOS, O FUTEBOL BRASILEIRO ACEITA TUDO QUE BARBARIDADE!!!!
E AINDA DIZEMOS QUE SOMOS O MELHORES DO MUNDO, HAHAHAHA!!!!!!!!!

Unknown disse...

grande post professor, eu fico impressionado como alguns clubes brasileiros abrem a boca para falar que formam jogadores muitos atuam no profissional sem o minimo entendimento do jogo, o mais triste é ver pessoas como sigman com o poder sobre os rumos do futuro de um clube. È realmente lastimável saber que a grande maioria dos nossos clubes não investe um centavo furado na formação de quem forma e que nossos aspirantes a jogadores acabam por muitas vz a serem deformados isso sim !!!!!!!!!!

Unknown disse...

Cara excelente post... estou mais do q de acordo, sou um rebelde defensor dos baixinhos.. se eu fecho o espaço do adversario, eu roubo a bola no erro, nao preciso de força.. se eu penso antes, nao preciso de velocidade.. e se eu toco rapido e me desloco, novamente nao preciso nem de força nem de velocidade.
saudaçoes!
gustavo perrone