domingo, 5 de agosto de 2012

A DIVISÃO DOS MOMENTOS DO JOGO



Certa vez perguntei ao Matias Manna como o Guardiola dividia o jogo de futebol:

5. Luis Esteves: Quais são os princípios do FC Barcelona nos quatro momentos do jogo?
Matías Manna: Te cambio La pregunta. Que es jugar bien? Que El arquero se La pasa AL defensa, El defensa AL médio, El médio AL ataque, siempre com circulación y ritmo alto Del balón mediante pases generando superioridades em líneas posteriores.
Mediante esa idea, se entiende AL equipo de Guardiola. Y no hay momentos autônomos, defensa y ataque. Si atacamos bien, defenderemos mejor. Guardiola entiende El juego de uma manera global, como um todo.

Bom, a partir daí passei a refletir sobre isso e percebi que a divisão do jogo em momentos gera alguns problemas que prejudicam a qualidade do jogo, principalmente no que diz respeito a tomada de decisão, tornando-as mais lentas.

Lentas pois seguimos o princípio de que a passagem de um momento para o outro exige uma transição. Por mais rápida que seja essa transição, ela ainda assim será um momento, e por existir acarretará em uma tomada de tempo.

Ou seja, saio de 1 pra dois, de 2 pra três, de 3 pra 4 e finalmente de 4 pra 1 novamente. Isso deixa o jogo mais lento, e a velocidade é fundamental no futebol, quanto maior o nível, maior é a exigência da velocidade. Uma tomada de decisão, independente do tipo, precisa ser rápida. Por exemplo, mesmo que um jogador decida ficar parado, ele precisa perceber isso rapidamente.


LÓGICA DA DIVISÃO EM MOMENTOS


PRINCÍPIOS NORMALMENTE UTILIZADOS

Seguimos uma lógica de distribuição de critérios em cada momento, e a partir daí provocamos uma mesma sintonia de ações, etc, porém isso me parece ainda gerar um ruido na organização da equipe.
Quando entramos em um momento e jogamos conforme um princípio, perdemos um pouco de articulação de sentido. Ou seja, entramos demais no princípio, e esquecemos do equilíbrio dinâmico que a equipe deve ter ao atacar e defender. As transições estão entre esses dois momentos, as transições são as passagens de um para o outro, e podem admitir formas diferentes, há quem faça transições de uma forma, há quem faça de outra. vale lembrar que isso não é a mudança entre setores do campo, mas sim entre ter ou não a bola.
Vou dar um exemplo: Uma equipe com a bola quer posse. Um critério fundamental para ter posse e a abertura dos espaços, e isso é feito através da abertura de campo. Abre-se toda a equipe, assim facilmente os jogadores abertos entram nos espaços interiores do campo, cria-e espaço para os jogadores de meio jogarem com menos pressão, porém muitas vezes essa abertura é excessiva.

Ela não pensa na transição em sí, ou pensa pouco, ou seja, por estarem abertos demais, de forma relativamente igual ( jogadores de extremidade abertos, jogadores de profundidade abertos, jogadores de meio abertos em relação aos outros jogadores de meio) acabam tendo uma dificuldade grande no momento que perdem a bola. Por estarem vivendo demais a abertura de campo, acabam esquecendo que a bola pode ser perdida e se a abertura for excessiva, não irão conseguir fechar os espaços próximos para recuperar a bola novamente, mesmo que no momento da perda tenham uma atitude forte para tentar recuperar a bola.

É uma articulação de sentido muito sutil, em que a importância de abrir o campo, é igual a importância de onde abrir, quem irá abrir, como recuperaremos a bola se a perdermos, quem estará onde e quando. Embora numa escala de organização possamos criar uma cascata de acontecimentos, a importãncia de todos é a mesma, aproveito para citar uma frase do Jorge Maciel citando Henry Laborit - 1971: “a morte do organismo implica a do órgão, mas o mais vulgar é a morte do órgão implicar a morte do organismo.”

LÓGICA COMUM - PEDAGÓGICA - DO JOGO DE MUITAS EQUIPES


"¿Qué es jugar bien? El arquero se la pasa al defensa,
el defensa al mediocampo, el medio a los delanteros.
Todo con buen ritmo de circulación de balón
y encontrando superioridades en las líneas posteriores.
 Eso es jugar bien. Sin más. No hay secretos."
MATÍAS MANNA
UMA ORGANIZAÇÃO MAIS CAÓTICA

Embora a utilização de imagens seja nociva ate certo ponto, acho a ilustração válida. É uma necessidade humana definir, conceitualizar para poder entender e prever acontecimentos.

Por isso acredito que de uma forma geral a busca pelo jogar bem ocorre sim na escolha de que princípios iremos escolher para gerar uma determinada forma de jogar. Estes inavitavelmente serão modelados e irão causar modelação aos principios maiores. Ainda estou refletindo sobre isso mas acredito que tudo parte de como queremos ter a bola. A partir daí, geramos uma serie de acontecimentos prováveis, porém não de uma forma linear, ou previsível numericamente. Por exemplo, se queremos ter posse, controlar o jogo, se queremos o protagonismo do jogo, teremos que ter determinados critérios, e estes irão ter sub-critérios, ou sub-princípios, e assim por diante em escalas cada vez menores. Já se queremos ter a bola, mas não com tanta posse, teremos outras coisa, e se não quisermos ter a bola quase nunca, teremos outras. Logicamente que isso em interação  com outros elementos fundamentais, como competição, adversários, torcida, mídia, etc..


Em resumo acredito que a passagem entre momentos retira da equipe alguns preciosos segundos. Em alguns contextos estes segundos representam a diferença entre o primeiro e o segundo colocado.

Grande abraço a todos
Luis Esteves

3 comentários:

Álvaro Alves disse...

Olá professor!

É o Álvaro Alves!

Excelente artigo! E fico contente por voltar a pôr artigos!

Senti logo a necessidade de discutir consigo... Temos realidades diferentes, Brasil e Portugal, mas eu não vejo as coisas da mesma forma que você:

Penso que o problema não é dividir o jogo em momentos, é NÃO TER NOÇÃO DE QUE ESSES MOMENTOS ESTÃO RELACIONADOS, E REPRESENTAM, NO TOTAL, A INTEIREZA INQUEBRANTÁVEL DO JOGO. Quando estamos a atacar, já estamos a preparar-nos para defender; e quando estamos a defender, já estamos preparados para atacar. Daí que o Barça, quando ataca, tenha sempre vários jogadores próximos à bola, para poder depois pressionar logo, na perda, e recuperar a bola.

Eu, por exemplo, o meu raciocínio, que é algo natural para mim, vejo o jogo nos 4 momentos, mas vejo esses momentos super-articulados.

Penso que não tem mal eu ver o jogo em 4 momentos, DESDE QUE os veja com uma relação intima uns com os outros... e a partir daí penso que consigo praticar a articulação de sentido.

Apesar de tudo, gostaria que o professor me respondesse, porque posso estar errado... Espero pelos seus argumentos!

E boa sorte para a final dos JO! Força Brasil!

Luis Esteves disse...

Álvaro, obrigado, espero que continue participando.

Concordo contigo quando diz que os momentos articulados representam a inteireza inquebrável do jogo, porém o que ocorre muitas vezes não é isso.

ocorre que se quebra essa inteireza em quatro partes, e depois junta-se novamente, mas ai ja existem lacunas geradas pela quebra, essas mudanças de momento para momento é que, eu acho, atrasam um pouco a tomada de decisão.

O ideal de fato é uma articulação a ponto de não existir grandes mudanças nas passagens de momentos, quando isso precisa aconecer, é sinal que há problemas na articulação de sentido.

Grande abraço

Futebol Tatico disse...

Boa Tarde Professor

Descobri este blog há pouco tempo e tenho bebido toda a informação com avidez. Antes de mais quero dar-lhe os parabéns pelo blog, foi mais um impulsionador para que eu escreva também as minhas ideias num blog que irei iniciar.
Sobre os 4 momentos (fases) do jogo e o facto de estarem muitas vezes separados no jogo, ao contrário do que seria ideal, não terá a ver com o treino? Pergunto isto porque da minha pouca experiencia como treinador adjunto, o que eu verificava é que os exercicios eram construidos para treinar o processo defensivo ou ofensivo e as transições, mas em separado. Gostaria de ter a sua opinião.

Abraço
Paulo Gomes