sábado, 31 de julho de 2010

SOBRE O ALTO RENDIMENTO E A FORMAÇÃO

Jogue o Dado

Se você vai tentar, vá com tudo
Senão, nem comece.
Se você vai tentar, vá com tudo

Isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos
e talvez a cabeça.

Vá com tudo.

Isso pode significar ficar sem comer por 3 ou 4 dias
Pode significar passar frio num banco de praça
Pode significar cadeia, menosprezo, insultos, isolamento.

Isolamento é o presente
todos os outros são um teste da sua resistência
de quanto você realmente quer fazer isso.

E você vai fazer

Apesar da rejeição e dos piores infortúnios
E isso será melhor do que qualquer coisa
que você possa imaginar.
Se você vai tentar, vá com tudo.

Não há outro sentimento como esse.
Você ficará sozinho com os deuses
e as noites irão flamejar como fogo.

Faça, Faça, Faça

Vá com tudo, por todos os caminhos
Você cavalgará a vida direto até a gargalhada perfeita
essa é a única boa luta que existe.


Charles Bukowski
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Estava pensando sobre o alto rendimento nas categorias de base. Se é viável ou não ter um alto rendimento em categorias de base, quais os efeitos disso, render muito, desde muito cedo.

E cheguei a algumas conclusões:
 
Existem dois tipos de serviço prestados na base, e eles podem inclusive se misturar, são eles:
 
- O alto rendimento = Equipes de rendimento regular, com alto grau de qualidade e um semi-profissionalismo dos jogadores, normalmente fisicamente bem desenvolvidos em termos maturacionais, e que por ter este desenvolvimento mais avançado (quando não totalmente desenvolvido) podem já, apresentar um alto rendimento, que seria a capacidade do jogador de render muito bem em situações ambientais de diferentes tipos, com alta regularidade. É comum jogadores que vivem este tipo de contexto, renderem muito bem durante 3 ou 6 anos no clube, e nas fases finais de formação (Juvenil e Junior) não obter o mesmo rendimento que tinha nos anos anteriores, isto para mim é muito claro, e nada mais é do que o emparelhamento das diferentes dimensões do jogador perante os adversários, ou seja, quando um jogador extremamente desenvolvido tinha 13 anos, rendia de forma ótima em comparação a adversários que com os mesmos 13 anos tem um desenvolvimento maturacional muito mais baixo, com atrasos de crescimento dentre outros fatores. Em anos posteriores, isso é neutralizado pelo simples crescimento do organismo, ai, aquilo que parecia ser qualidade já não é mais, e o investimento feito pelo clube foi em vão. Situação bem comum esta.
 
- A Formação = Equipes que também podem ser de rendimento, pois quando se compete exige-se certo grau de rendimento, independente da cobrança interne e externa da equipe. Porém, com graus fisiológicos e mentais reduzidos, atletas que não apresentam ainda a regularidade e a capacidade de rendimento nas diferentes dimensões do jogo, pois o seu período de formação ainda esta em andamento, e é totalmente individual, porém dentro de um contexto de modelo e equipe (ou não). É comum na formação jogadores que treinam muito bem, em determinado ambiente e em jogos não conseguem desempenhar o mesmo jogo. Para mim isto também é bem fácil de entender, principalmente quando se joga Formação x Alto Rendimento. É ainda o caso do desenvolvimento do organismo dos jogadores. Um jogador maturado, encontra-se muito mais avançado como ser humano em todos os sentidos, do que um jogador em formação, muitas vezes cronologicamente correta, em termos emocionais e decisionais.
 
Pode porém haver misturas destas duas formas de trabalho. Para mim inclusive o ideal é o alto rendimento formador. Por exemplo:
 
- Alto rendimento formador: É o que ocorre com equipes que tem bases competitivas, porém seguem determinado pensamento orientador, ou seja uma metodologia (que nem sempre é boa, em termos morais). Neste caso, há um caminho e os jogadores independente do seu estágio atual, são enquadrados de acordo com o que fazem hoje e com o que podem fazer no futuro em termos de potencial, porém sem a ideia de acrescentar isso ou aquilo, pois quando se existe esse pensamento , em termos de anos de trabalho, não é necessário fazer acréscimos, o próprio contexto do modelo irá gerar no jogador uma adaptação morfológica. Porém, quando se fala em alto rendimento logo se pensa em pressão, pelo menos eu penso.
 
Mas acredito que, quando se tem determinada linha orientadora, e dentro desta linha, princípios metodologicos, e junto com isso conhecimento sobre o desenvolvimento e aprendizado de crianças e adolescentes, podemos facilmente excluir esta pressão. Ai esta o detalhe do alto rendimento formador, forma-se o jogador rendendo bem, de forma específica a um modelo, porém sem a pressão de ganhar a todo custo, mas sabendo que ganhar é importante, mas acreditando em um tipo de jogo. Quando uma equipe, independente da idade, consegue fazer isso, e consegue repetir isso por diversas vezes, acredito que esteja em um alto rendimento formador. Junto com as vertentes de campo, é tão ou mais importante o lado intelectual e humano do jogador, e isso o ambiente diário também modela, quem vive em pressão, xingamentos, será condicionado a isso e terá sua personalidade moldada a este tipo de comportamento. Porém quem convive com leis morais bem definidas, com constante solicitação e orientação sobre o que é bom e ruim, quem consegue modelar o jogador como ser humano, e não apenas como jogador, este sim é um trabalho de alto rendimento formador.
 
Ninguém cria hábitos em um dia, é preciso muitos dias de orientação pra isso acontecer. A algum tempo lí algo sobre especificidade e especialização precoce, citada então pelo professor Vitor Frade em uma das aulas na Universidade do Porto, e não me lembro o conceito que ele colocou para reproduzir aqui, porém o conceito que acredito ser importante é este. Equipes de Alto rendimento na formação treinam em especificidade precoce, é o que acontece e não gera os traumas que a especialização precoce gera. A diferença é clara, especificidade e especialização são palavras bem diferentes.
 
Quando treino em especificidade precoce, desde cedo, com diferentes graus de complexidade em uma progressão complexa de muitos anos, consigo um jogador muito mais evoluido, pelo simples fator confiança. A repetição constante leva a sistematização, ao hábito e isso com o passar dos anos leva ao expertise. As grandes mentes, em diferentes setores da história da humanidade, dificilmente iniciaram suas trajetórias em fase adulta. Grandes lutadores iniciam suas lutas muito cedo, entre 6 a 8 anos, grandes pianistas idem, grandes jogadores iniciam suas trajetórias no futebol de rua, na escola, nos campos de praça, logo aos 5 , 6 anos.
 
Especialização precoce é a maior negação do princípio da individualidade biológica. Não é possível aceitar que todos os seres humanos são diferentes e que a qualquer momento pode surgir um novo Pelé ou Maradona se logo ao se iniciar um treinamento podamos todas as possibilidades de gerar este comportamento, criando uma espécie de fábrica de jogadores, fazendo tudo igual, sendo que a grande graça esta em quem faz o diferente.
 
Treinar dentro de um modelo de jogo, na base, é identificar, dentro de um contexto de jogo, quem faz o que, e dentro disso, colocar cada um em situação privilegiada, para que ali, dentro da sua complexidade e individualidade, possa gerar tudo o que puder, dentro das suas características. Hoje as pessoas estão privilegiando em excesso o jogo de passes, mas estas mesmas pessoas se perguntadas sobre quem são os melhores jogadores do mundo hoje normalmente respondem Messi, Cristiano Ronaldo.. ou seja, os melhores dribladores. Porém eu, pessoalmente um apaixonado pelo jogo de passes, como o da Espanha por exemplo, não consigo negar que em determinadas zonas e momentos o drible é fundamental, pois é o que transgride o sistema, a estrutura, os mecanismos, é a arte, é o lado mais humano do jogo. O equilíbrio é fundamental, não se pode deixar de lado o 1contra1, que foi o que colocou no mapa da história os melhores jogadores de todos os tempos, caso isso ocorra, o jogo de futebol tem a tendência de se tormar medíocre, pois mesmo em metodologias como a periodização tática, podemos identificar isso, um repúdio ao drible, ao lado individual, tornando todos iguais, todos meros passadores.
 
Grande abraço
Luis Esteves

domingo, 18 de julho de 2010

ASSUNTOS PERTINENTES A PLANIFICAÇÃO DO TREINO


 ALGUNS QUADROS E GRÁFICOS QUE ACHO INTERESSANTE PARA O ENTENDIMENTO (PELO MENOS NA MINHA INTERPRETAÇÃO) DO PLANEJAMENTO / PERIODIZAÇÃO DA MODELAÇÃO SISTÊMICA:



ORGANIZAÇÃO FRACTAL DA DISTRIBUIÇÃO DAS DIMENSÕES NA PERIODIZAÇÃO DO TREINAMENTO:


Fonte: José Guilherme Oliveira

 É interessante a proximidade que cada sessão tem com a semana, que por sua vez tem com o mês, que por sua vez tem com o ano. Podem haver alterações sem dúvida, por exemplo em semanas com dois jogos, existe até morfociclos pra isso, e também deve-se levar em conta o mais importante na minha opinião, que é o feeling dos profissionais envolvidos com a preparação, isso é uma das coisas que me faz não acreditar em macrociclos e mesociclos, a não ser pelo fato organizador dos jogos e competições, mas acho irrelevante para o lado fisiológico do treinamento, dificilmente saberei quem estará lesionado, se esteramos ainda ou não na competição, ou se haverá jogadores vendidos ou adquiridos, então, pra mim é um pouco dificil de entender um planejamento que visa determinado tipo de situação, 3 ou 5 meses depois. Por isso acho interessante a criação de um Morfociclo padrão. Mas é apenas uma ideia, sem a menor pretensão de ser certa ou errada.


CARÁTER PURAMENTE ORGANIZACIONAL DE UM MACROCICLO


Fonte: Luis Esteves

Este meu macrociclo não influencia absolutamente em nada no treino semanal, a não ser em caso de semanas em que haja dois jogos na semana, ou no fim de semana. No mais todas as semanas tem caracteristicas fisiológicas iguais, mudando só a propensão dos princípios, de acordo com a avaliação do jogo anterior e do próximo jogo.

MACROCICLO COM DIFERENTES TIPOS DE INTERVENÇÃO FISIOLÓGICA ATRAVÉS DE MICROCICLOS ESPECÍFICAMENTE PLANEJADOS - TREINO INTEGRADO OU CONVENCIONAL


Fonte: Desconhecida

Exemplo interessante de um macrociclo que visa diferentes tipos de microciclo para o desenvolvimento da equipe no ano, nota-se uma preocupação em determinados picos sub-máximos, e depois a manutenção dos mesmos attravés de outros tipos de microciclos. Ou seja, nesse tipo de pensamento há uma variação de aquisição física, porém o contexto tático assume um segundo plano e todo o planejamento é feito pela aquisição e recuperação da condição fisica.

MORFOCICLO PADRÃO - LOUIS VAN GAL
Fonte: Bruno Gaiteiro

Não tenho certeza, mas acredito que seja do Van Gal quando esteve com o Mourinho no FC Barcelona. O morfociclo sistematiza os assuntos da semana de acordo com as ideias do treinador.

MORFOCICLO SEMANAL - JOSÉ MOURINHO
Fonte: Bruno Gaiteiro

O morfociclo do Mourinho neste caso, no Benfica, assume um corpo diferente do que ele usava com o Van Gal no Barcelona. É importante não ficar apenas copiando e reproduzindo as cópias, deve-se sim analisar e trazer para a realidade o que pode ajudar no planejamento.

MORFOCICLO - MOURINHO / FRADE


Fonte: Marisa Gomes

 Morfociclo clássico citado no livro Porquê tantas vitórias e O Desenvolvimento do Jogar segundo a Periodização Tática.

Neste caso granha-se uma preocupação com as relação de aquisição/recuperação das dimensões tática e fisica do Modelo de Jogo.

MORFOCICLO PADRÃO - LUIS ESTEVES


Fonte: Luis Esteves

Neste morfociclo organizo a semana de treino. Também uso outros as vezes mais práticos.


GRÁFICO PARA  ENTENDIMENTO PEDAGÓGICO DA PROPENSÃO DE CADA TIPO DE CONTRAÇÃO - DIMENSÃO FÍSICA SUBJUGADA AO MODELO DE JOGO COMO ORGANIZADOR DO TIPO DE JOGO QUE SE PRETENDE

Fonte: Luis Esteves

 É da propensão dos exercícios gerar mais ou menos contrações, seguindo a ideia da tensão, duração e velocidade.

Exercícios mais tensos tendem a gerar mais contrações excêntricas, em que haja uma participação constante com muitas mudanças de direção e travagens, tipo exercícios 2x2, 3x3, 4x4, 5x5, 6x6, 6x3, etc...neste caso para haver essa maior participação, o campo é reduzido tornando a propensão maior, neste tipo de contração a resistência muscular é mais exigida (FC cardíaca alta, quase no limite fisiológico, porém com tempos bem curtos), e a resistência a fadiga fisiológica também, mentalmente a fadiga é alta. A recuperação neste dia é frequente dentro do treino, chamado normalmente de descontínuo pelas diversas pausas de recuperação que deve haver para voltar a fazer determinado exercício com qualidade. Sabemos que a fadiga metabólica gera determinados constrangimentos fisiológicos, que levam normalmente ao erro. A adaptação do treinamento esécífico a um modelo de jogo eleva o condicionamento fisiológico ao limite que os princípios exigem, ou seja, acidose muscular, níveis de absorção de oxigênio, capacidades aeróbias e anaeróbias, FC cardíaca e tempo de recuperação maior ou menor ao estímulo fisiológico,  serão moldados pela exigência dos princípios, daí a especificidade do treino em relação ao Modelo, e não em relação a médias fisicas. Os tempos de recuperação variam, mas normalmente ficam entre 2 ou 3 vezes o tempo de estimulação, que neste dia assume tempos em média de 1 à 3 , pela intensidade fisiológica que proporciona (levando em conta que falo dos exercícios que eu utilizo para o meu modelo de jogo, ou seja, especificamente para outros modelos esta regra pode não valer, porém sabemos que os fenômenos metabólicos são comuns a todos os organismos). Neste dia existe uma valorização do metabilismo lático pelo caráter dos exercícios que normalmente se utiliza.

Em caso de duração de contração, normalmente ocorrem em exercícios com campos grandes, cerca de meio campo, 2/3 do campo ou o campo todo. Neste tipo de exercício a capacidade pulmonar e cadíaca (FC menor do que quarta-feira, porém com tempos maiores )  do jogador é mais exigida, através de deslocamentos maiores, possibilitando assim uma maior resistência a determinado princípio. Os tempos desse tipo de exercícios são acima de 5 minutos e não passando de 20 minutos, tem um caráter mais aeróbio fisiologicamente falando, diferentemente de quarta-feira. A contração é mais lenta e contínua pois as mudanças de direção são menores e a ciclicidade de movimentos aumenta, porém não se torna cíclico, e a fonte metabólica valorizada e a do glicogênio muscular.

Quanto a velocidade de contração, é gerada através de movimentos curtos, com base metabólica relacionada ao ATP e CP Muscular, os exercícios são de baixo tempo e de alta velocidade sem muitos constrangimentos que levem a mudanças e saltos. Exercícios com maior propensão a tempos de 5 a 20 segundos, as vezes uso exercícios setoriais de 1 minuto ou 1:30 de exposição a ações em velocidade máxima buscando determinado princípio. Fisiológicamente já passo da zona do ATP e CP e entro na zona do metabolismo lático, porém estes exercícios assumem uma característica de recuperação interna, ou seja, o jogador faz determinada ação de poucos segundos, 2 ou 5 e baixa para uma ação recuperativa lenta em meio ao próprio exercício, para logo em seguida fazer outra ação parecida, ou seja, mesmo que esteja em 1 ou 2 minutos de estimulação, a participação dele exige em sua maior parte uma estimulação curta de velocidade. Este dia é bem pausado também, mas menos que quarta, pois quarta a fadiga é muito superior fisiologicamente, principalmente por causa do metabolismo anaerónio lático, gerador de boa parte da fadiga muscular juntamente com os danos das foibras causados pela ação excêntrica.

A recuperação fisiológica é bem simples e de fácil visualização. É bem claro os sinais de cansaço fisico, inclusive clubes de ponta possuem mecanismos de verificação fisiológica que permitem avaliar na corrente sanguínea e em outros fluidos a condição física dos jogadores, aumentando ou diminuindo a recuperação de acordo individual, porém eu acredito que este fator é secundário, pelo simples motivo de que a recuperação física é muito mais rápida do que a recuperação mental. Normalmente um jogador de categoria de base, quando joga no domingo, esta recuperado na terça fisicamente, pois a intensidade dos jogos é menor e o organismo tem uma capacidade de regeneração maior, sendo que em média os jogos tem cerca de 20 a 35 minutos (sub-10 até Sub-15) já em categorias maiores, de Junior a profissional, o mais cumum é que em caso de jogos no domingo, os jogadores fisicamente estejam recuperados na quarta-feira ou até mesmo na quinta-feira, dependendo do desgaste do jogo e das situações ambientais que o jogo proporcionou.

Esta perspectiva esta totalmente ligada ao desgaste emocional, que irei falar abaixo.

GRÁFICO PURAMENTE PEDAGÓGICO DO DESGASTE EMOCIONAL QUE O MORFOCICLO PODE PROPORCIONAR VISANDO A RELAÇÃO AQUISIÇÃO / RECUPERAÇÃO


Fonte: Luis Esteves

É interessante que a semana de treino exija um pico de complexidade semanal. Existem morfociclos de dois Picos, quando não há jogo no fim de semana por exemplo. Porém o normal é haver somente um , ou nenhum (caso tenha jogo no meio da semana). Esta complexidade esta relacionada ao desgaste emocional que os princípios do modelo de jogo proporcionam aos jogadores em termos mentais durante os exercícios. Por exemplo:

Um sub-princípio é menos complexo do que um princípio, pois num princípio existe a preocupação com o princípio e também com o sub-princípio, portanto o grau de concentração aumenta de um para o outro. Normalmente os exercícios proporcionam dentro da sua propensão os fragmentos do modelo de jogo, de forma que cada dia da semana assuma mais ou menos complexidade.

Terça-Feira: Dia nada complexo, exercícios com preocupações individuais, gestuais e com baixíssima possibilidade de escolha em relação a tomada de decisão. São exercícios geradores de hábitos mais voltados aos sub-sub e sub princípios do modelo. Exercícios de poucas regras, sem oposição, e fisiologicamente pouco desgastantes (ações curtas).

Quarta-feira: Dia bem aquisitivo em relação a sub-princípios e princípios, porém não abusando dos princípios pois neste dia mentalmente o jogador ainda pode estar fadigado, porém em termos fisiológicos é o dia mais desgastante. Os princípios normalmente são vistos neste dia de forma setorizada ou intersetorizada, pelo menos eu faço assim. gero neste dia preocupações com os mecanismos de cada setor, ofensivamente e defensivamente. também normalmente neste dia treinamos mais a zona pressionante e a retirada da pressão, em grupos pequenos, com uma circulação de média diração, cerca de 5 passes no mínimo. Exercícios de oposição igual ou superior, com poucas regras e objetivos simples.

Quinta-feira: O dia mentalmente mais aquisitivo e desgastante, pois a recuperação mental já ocorreu e a presença do modelo é completa, os exercícios apresentam preocupação com todos os momentos do jogo e existe uma grande preocupação com a circulação, manutenção da posse, pressão e retirada da pressão e os sub-princípios relacionados a estes princípios, portanto a concentração é ampliada. Exercícios de superioridade, exemplo: 10 (protagonistas do exercício) contra 6 (Jogadores auxiliares) , elevando a graus diferentes conforma o aumento da complexidade. O professor José Guilherme coloca em um dos seus depoimentos que agora não vou conseguir lembrar, que uma de suas equipes assumiu um tipo de circulação tão qualificada, que para gerar um constrangimento a eles precisava fazer um treino 6 x 10, sendo que os 6 eram os protagonistas, ou seja, elevando assim a dificuldade e desgaste do exercício.

Sexta-Feira: Dia que reinicia a recuperação mental, equi os exercícios voltam a ter um caráter mais individual e setorial, e com baixa ou nenhuma oposição, buscando uma velocidade fisiológica e coletiva. E normal exercícios de alta superioridade valorizando como citei antes a Velocidade Complexa Coletiva, que considero a manifestação de todos os tipos de velocidade em contexto do modelo. É importante reduzir a capacidade de concentração, sem que a concentração baixe, ou seja, a concentração é máxima todos os dias, porém em alguns dias tem que se concentrar em coisas mais difíceis, e em outros dias tem que se concentrar em coisas mais fáceis, por mais ou menos tempo.

DOIS TIPOS DE FADIGA:



FADIGA DO SNC E SNP E NEUROENDÓCRINA (BOMPA, 2006)

Junções Neuromusculares – Impossibilidade de sustentar recrutamento muscular das UM;
Impossibilidade de transmissão e prolongação do Potencial de Ação;
Diminuição do potencial de Excitação (Contração) e Inibição (Relaxamento) do Músculo;
Diminuição ou interrupção de relação entre diferentes hormônios;
Diminuição de níveis hormonais;


FADIGA MUSCULAR – METABOLISMO (BOMPA, 2006)

Acúmulo de Íons Hidrogênio - inibindo enzimas PFK, LDH, Miosina-ATPase;
Depleção dos estoques de Glicogênio ↓ ATP;
Ruptura das fibras musculares 24 á 72 horas pós (FMT);
Avarias do tecido tendinoso;

CURIOSIDADE :

RECUPERAÇÃO FISIOLÓGICA / MUSCULAR= 1 À 3 DIAS
RECUPERAÇÃO MENTAL/EMOCIONAL= 3 À 7 DIAS
BOMPA – 2002 – Página 220

EXEMPLO DE OPERACIONALIZAÇÃO SEMANAL



Aqui temos um exemplo de uma operacionalização semanal, levando em conta o último jogo e o próximo jogo, isso leva a montagem da equipe e estratégia para a próxima partida.

PROBLEMATIZAÇÃO DO ADVERSÁRIO:

Comportamento Padrão em cada Fase:

Verificar o comportamento coletivo e individual de cada jogador, relacionar altura, nível de força, nível técnico, dinâmica e estabelecer um comparativo com cada jogador nosso que atuará na mesma zona (micro-confrontos)

Eliminar os Pontos Fortes:

Jogador chave nas transições, Jogador de construção, Jogador de finalização, Princípios Nucleares (Posse e Circulação, retirada da Pressão...).

Explorar os Pontos Fracos:

Lado fraco, jogador desequilibrado, jogador com cartão, jogador lesionado, jogador inexperiente...

Criação de estratégias:

Diferentes planos para possíveis resultados e alterações do adversário, nossa alterações e postura frente a diferentes situações.

O QUE SE DEVE TREINAR?

Padrões de Acção, individuais e colectivos(nas diferentes escalas) com o objectivo de criar um conjunto de referências decisionais para que os jogadores saibam o que fazer e possam ser criativos nas diferentes situações do jogo. O Processo de treino deve permitir que esses padrões de ação se transformem em HÁBITOS.

JOSÉ GUILHERME OLIVEIRA

COMO SE DEVE TREINAR?

Em Intensidade Máxima, pois o futebol é um jogo de intensidades máximas relativas, onde deve-se ser superior a inúmeros constrangimentos durante o tempo de jogo.

Portanto, não há lógica em treinar em baixas intensidades, se queremos adquirir HÁBITOS em alta intensidade, porém no(s) treino(s) a INTENSIDADE MÁXIMA é RELATIVA.

Cada dia tem uma INTENSIDADE MÁXIMA, esta intensidade não é física, porém traz por arrasto todas as dimensões, afim de adquirir determinado comportamento.



LOGO O TREINO RECLAMA UMA – INTENSIDADE MÁXIMA RELATIVA DE CONCENTRAÇÃO.



INTENSIDADE MÁXIMA RELATIVA DE CONCENTRAÇÃO:

INTENSIDADE MÁXIMA: PORQUÊ O HÁBITO ESTÁ INTERLIGADO A CONTINUIDADE DE HABITUAÇÃO, TODOS OS DIAS A INTENSIDADE DEVE SER MÁXIMA, NO LÍMITE MÁXIMO DA CONCENTRAÇÃO DO QUE SE QUER BUSCAR.

RELATIVA: PORQUE A INTENSIDADE DE TERÇA NÃO É A MESMA DE QUINTA, NEM SEXTA, PORÉM NÃO DEIXA DE SER MÁXIMA.

DE CONCENTRAÇÃO: QUANTO MAIS CONCENTRADO O JOGADOR SE ENCONTRAR, MAIS DENSA SERÁ SUA PARTICIPAÇÃO EM TERMOS DE TOMADAS DE DECISÃO, AÇÕES...MENOS ERROS.

MODELAÇÃO DOS EXERCÍCIOS:

Os exercícios devem estar relacionados com:
O Modelo de Jogo da equipa;
Os princípios, sub-princípios e sub-princípios dos sub-princípios;
Os diferentes momentos do jogo;
Organização estrutural e funcional da equipa;
O padrão semanal de esforço e de recuperação.

REGULADORES(?) DE COMPLEXIDADE NOS EXERCÍCIOS - O QUE FAZER NO AQUI E AGORA? COMO FAZER? COMO AVALIAR O QUE FOI FEITO ATRAVÉS DE UM MODELO DE JOGO?:
Princípios – Do Modelo de Jogo – O comportamento que se quer habituar...
Dinâmica – Objetivos do Exercício – Baseado na complexidade...
Tempo – Duração do Exercício – Baseado na Propensão...
Espaço – Distâncias do Exercício - Mais ou menos curtos, longos, largos...Propensão...
Oposição – Dificuldade do Exercício – Que emoções se quer gerar... Mais ou menos difícil de fazer...que marcadores irá gerar...
Regras – O que se quer retirar... O que não precisa... 

ADAPTADO DE JOSÉ GUILHERME OLIVEIRA
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Quanto as referências, mais adiante posto aqui.

Quanto as opiniões que cito, não tenho a pretensão de estar certo ou errado, apenas faço interpretações do que leio e realizo no dia à dia.

Grande abraço
Luis Esteves

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A PROPENSÃO FISIOLÓGICA DOS COLETIVOS

Estudo relacionado a intensidade de jogos, treino em espaço reduzido e o tradicional coletivo, simulando o jogo. Os gráficos abaixo evidenciam, segundo a conclusão dos autores que fisiologicamente o jogo coletivo não proporciona ao atleta o mesmo tipo de esforço que irá acarretar o jogo oficial. Sendo que o treino em espaço reduzido gera uma adaptação fisiológica muito próxima a representada pelo jogo oficial.

Intensidade de sessões de treinamento e jogos oficiais de futebol


Autores:

Daniel Barbosa COELHO
Vinícius de Matos RODRIGUES
Luciano Antonacci CONDESSA
Lucas de Ávila Carvalho Fleury MORTIMER
Danusa Dias SOARES
Emerson SILAMI-GARCIA



Resumo - (Original do Artigo)

O objetivo desse estudo foi identificar e comparar a IE de duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido) com a IE de jogos de uma competição oficial de futebol. A freqüência cardíaca (FC) de oito atletas juvenis, pertencentes a um clube da primeira divisão do futebol brasileiro, foi medida e registrada durante duas sessões de treinamento (coletivo e campo reduzido) e durante seis jogos de uma competição oficial. A IE registrada nos jogos da competição oficial (166 + 3 bpm e 84 + 1,3 %FCmáx) foi maior em comparação com a IE registrada durante o treinamento coletivo (150 + 3 bpm e 75 + 1,8 %FCmáx). Não houve diferença entre a IE dos jogos da competição oficial e a IE do treinamento em campo reduzido (157 + 5 bpm e 79 + 2,6 %FCmáx). A semelhança entre as IEs do treinamento em campo reduzido e dos jogos oficiais registradas no presente estudo sugere que esta atividade pode ser utilizada como um estímulo específico de treinamento aeróbico para o futebol.


FREQUÊNCIA CARDÍACA EM JOGO OFICIAL




 FREQUÊNCIA CARDÍACA EM JOGO REDUZIDO






 FREQUÊNCIA CARDÍACA EM JOGO COLETIVO





Discussão - (Original do Artigo)

Identificou-se no presente estudo que a IE, representada como bpm e %FCmáx, foi menor em jogos coletivos de futebol, freqüentemente utilizados para treinamentos, em comparação com jogos oficiais desta modalidade. Já o treinamento em campo reduzido produziu valores de FC semelhantes aos valores de FC dos jogos oficias. Essa característicase manteve quando os valores de FC foram apresentados em bpm ou %FCmáx. A partir dos resultados obtidos pôde-se identificarque as sessões de treinamento avaliadas foram realizadas em uma IE intermediária (70-85 %FCmáx) para atletas de futebol (COELHO, 2005; HELGERUDet al., 2001), e consideradas como alta para indivíduos saudáveis (ACSM, 1998). Entretanto, HOFF et al. (2002) registraram uma IE de 91,3 %FCmáx em um jogo em campo reduzido com duas equipes compostas por cinco jogadores cada e com constante reposição de bola. É possível que a menor IE encontrada no presente estudo seja devido ao maior número de atletas em cada equipe em comparação com HOFF et al. (2002). Com isso, os jogadores teriam uma menor participação efetiva no jogo, o que diminuiria a IE realizada por cada atleta.

Esse fato foi descrito por SASSI, REILLY e IMPELLIZZERI (2004), que registraram uma maior IE no treino com equipes compostas por quatro jogadores em comparação com o treino com equipes compostas por oito jogadores. Além de HOFF et al. (2002), outros estudos investigaram a IE de jogos de futebol em campo reduzido. CAPRANICA et al. (2001) identificaram a IE realizada por jogadores de futebol de 11 anos de idade, enquanto MILES et al. (1993) registraram a IE em um jogo feminino com quatro jogadoras.No entanto, a IE avaliada nos dois estudos citados foi apresentada em valores absolutos de FC e não valores relativos de %FCmáx, como recomendado (KARVONEN & VUORIMAA, 1988), dificultando a comparação com o presente estudo. Os resultados do presente estudo diferem do estudo de ENISELER (2005), que encontrou valores de FC menores em treinamentos em campo reduzido (135 ± 28 bpm) em comparação com jogos oficiais (157 ± 19 bpm). Essa diferença pode ser devido ao fato de que ENISELER (2005) utilizou 11jogadores em cada equipe, ao contrário do presente estudo que utilizou oito jogadores.

Como demonstrado por SASSI, REILLY e IMPELLIZZERI (2004), um número maior de atletas nos jogos em campo reduzido faz com que a IE do treinamento diminua. Além disso, a IE registrada por ENISELER (2005) no treinamento em campo reduzido (135 ±28 bpm) foi menor em comparação com o presente estudo (157 ± 5 bpm e 79 ± 2,6 %FCmáx). No entanto, essa comparação torna-se difícil já que ENISELER (2005) também não apresentou osresultados em valores relativizados como %FCmáx, As linhas escuras no eixo X sob a linha de FC representam a duração de cada fase e a FC média durante cada uma das cinco fases do treinamento em que o atleta participou é apresentada sobre as mesmas.

COELHO, D.B. et al.o que seria mais adequado (KARVONEN & VUORIMAA,1988).De acordo com BARBANTI, TRICOLI e UGRINOWITSCH (2004), seria interessante para o desempenho em uma modalidade esportiva, que a IE do treinamento fosse similar ou maior do que aquela imposta nas situações de competição. Portanto, a semelhança entre as IEs do treinamento em campo reduzido e dos jogos oficiais registradas no presente estudo sugere que um estímulo específico de treinamento aeróbico para essa modalidade foi alcançado nesta atividade. Já ESTEVELANAO, FOSTER, SEILER e LUCIA (2007) não identificaram que as altas intensidades fossem fatores determinantes no aumento do rendimento de corredores espanhóis de meio-fundo, ao monitorar grupos que treinaram com programas com intensidades diferentes por um longo tempo (cinco meses). Deve-se considerar a diferença entre as especificidades da modalidade avaliada no presente estudo, classificada como intermitente de altaintensidade relativo também a fatores como força e velocidade determinantes, e as corridas. Tendo sido identificado que a IE dos treinamentos em campo reduzido representada em valores absolutos e relativizados não foi diferente da IE de jogos oficiais, supõe-se como implicação deste achado, que estas atividades podem representar um estímulo de treinamento aeróbio semelhante (HOFF et al., 2002) ou, às vezes, até mais intenso e específico para o futebol em comparação com outros tipos de treinamentos, como o treinamento aeróbico intervalado (SASSI, REILLY & IMPELLIZZERI, 2004). Pode-se sugerir também que jogos em campo reduzido podem substituir em parte este tipo de treinamento, com o objetivo de manter o condicionamento físico durante a temporada competitiva (REILLY & WHITE, 2004).

Já o treinamento coletivo produziu uma IE menor em comparação com os jogos oficiais. Mesmo essa sendo uma atividade comumente utilizada nos treinamentos e de grande valor para o aperfeiçoamento técnico e tático dos jogadores, pode não representar um estímulo tão eficiente no aperfeiçoamento e manutenção da capacidade aeróbia.

Rev. bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v.22, n.3, p.211-18, jul./set. 2008


Grande Abraço
Luis Esteves

terça-feira, 13 de julho de 2010

O EXATO MOMENTO EM QUE OS PARADIGMAS MUDAM

A história do futebol é impressionante. A cada quatro anos a copa do mundo acontece e com ela surgem as novas (as vezes nem tão novas assim) tendências. A Seleção Espanhola que acaba de se tornar campeã mundial pela primeira vez, coloca a partir de agora um novo paradigma ao futebol moderno.

Muitos terão que tirar os óculos do futebol condutor, do futebol tosco, do futebol sem sentido, baseado ainda apenas na qualidade técnica do jogador sem nenhuma contextualização tática conciênte, futebol este que a muitos anos não existe mais, o futebol jogado apenas com bola.

Este futebol foi muito bonito, em 1958, 1962, hoje ele não existe mais. Holanda e Espanha nos mostraram isso, Além da Alemanha e o próprio Uruguai, que com pouco talento conseguiu chegar onde muitos, muito mais talentosos, gostariam de estar. Quando falo isso me refiro a falta de talento de muitas equipes nos momentos sem a bola, saber pressionar, saber condicionar, saber desarmar, é tão importante quanto saber circular, saber chutar...resumindo, é o complemento, é o saber jogar nos quatro momentos do jogo, não em apenas um ou dois.

Baseada em um Modelo de Jogo claramente definido desde o primeiro jogo, a equipe espanhola conseguiu, na maior parte de seus jogos impor seu modelo, com princípios bem claros, e vencer os seus jogos.

Equipes como Holanda e Alemanha, não conseguiram neutralizar o(s) comportamento(s) espanhol que a bastante tempo já é conhecido. Uma copa defensiva, em que as Organizações Defensivas levaram clara vantagem sobre às Organizações Ofensivas, premia a equipe que para muitos (eu inclusive, junto com a Alemanha nesta copa) apresenta a melhor Organização Ofensiva do mundo, sem falar nas Transições.

Quem acompanha o FC Barcelona não se estranha ao ver os comportamentos que esta equipe apresenta. Comportamentos que já são entranhados à muito tempo, desde a formação de seus jogadores nas categorias de base do clube. Posse e circulação, valorização da posse, Retirada da bola da Zona de pressão, Zona pressionante, dentre outros princípios, foram vistos constantemente nesta copa nos jogos da Espanha.

E melhor que isso, ao perder a estréia para a Suiça, na maior zebra da 1ª fase, a equipe e o treinador mantiveran-se fieis ao seu modelo, e com muita imposição mental reverteram um ambiente desfavorável, em que a maioria das equipes e treinadores mudariam tudo para ganhar o próximo jogo.

Parabéns a Espanha, por ter o futebol mais coletivo do mundo.



Algumas coincidências de um título:


Os 10 jogadores com maior quantidade de passes curtos completados. 7 Espanhois.



Os 10 jogadores com maior quantidade de passes médios completados. 6 Espanhois.



Os 10 jogadores com maior quantidade de lançamentos. 3 Espanhois. Detalhe, 6 jogadores desta lista são goleiros, porém Casillas não esta ai.



Os 12 atletas que tiveram a maior distância percorrida com a posse da bola. 8 Espanhois.



Os 10 atletas que tiveram a maior distência percorrida sem a posse da bola. 1 Espanhol.



Os 14 atletas mais rápidos da copa. Somente 2 estavam na final, e um era reserva, o outro foi vice. Javier Hernandez, o maior atleta da copa!

Agora, quem quiser estabelecer novas médias para os testes físicos, fique a vontade.

Fonte de todas as imagens:

Um grande abraço
Luis Esteves